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O Islã extremista perdeu seu herói "fantasma"

Osama bin Laden era profundamente odiado pelo Ocidente. Mas o Oriente árabe, particularmente o muçulmano, o adorava. Mas, desde aquele domingo, esta diferença entre Oriente-Ocidente mudou de campo quando os comandos norte-americanos – sob a orientação da Agência Central de Inteligência (CIA), mandaram Bin Laden em definitivo ao mundo que, de qualquer forma, pertencia nos últimos dez anos: O mundo das lendas. "Mal absoluto" para o Ocidente, "herói" para o Islã.

A influência de Bin Laden no mundo terrestre era quase zerada nos últimos tempos. Nenhuma relação com seu apogeu no início da década anterior quando, após 11 de setembro de 2001, havia se tornado o herói dos extremistas islamistas, assim como de gigantescas massas de muçulmanos, as quais buscavam saída do insuportável cotidiano de suas vidas, em uma evidente diferença com os princípios, os valores e os governos do Ocidente. Bin Laden já era um "fantasma".

Não existe maior prova do já inexistente eco das idéias de Bin Laden nas massas muçulmanas, pelo menos na Arábia, do que o fato de que em rigorosamente nenhuma das insurgências árabes foram vistos seus seguidores participando ou mesmo tentando aproveitar da situação para alavancar sua política.

O extremismo islâmico está recuando nesta época. Nenhum, essencialmente, perigo existe em nível político da ação de quaisquer partidários de Bin Laden que desejarem vingar o assassinato de seu herói.

Naturalmente, é sempre possível que alguma grupo fanático, ou algum homem-bomba exploda-se em algum trem, uma praça ou um café para provocarem ainda dezenas de vítimas inocentes, mas isto não constitui ameaça política, por mais tenebroso que tenha sido o crime cometido.

Alvo eleitoral

A superprojeção destes perigos pelos governos ocidentais e, principalmente, pelo norte-americano serve para atingir outros objetivos. O presidente Barack Obama, obviamente, garantiu sua reeleição ano que vem, apesar da católica decepção que semeou o desmentido de todas as esperanças daqueles que o sufragaram na primeira vez, levando-o ao poder em 2008.

Mas isto é o de menos — quer dizer, a reeleição de Obama — mas, de qualquer forma, nenhum homem progressista, por mais decepcionado que esteja pela gestão de Obama, jamais dirá que é preferível ser eleito presidente dos EUA um republicano, quanto mais agora com a guinada dos republicanos à direita que, cresce ininterruptamente desde a época de Bush Jr.

Entretanto, o mal é que Obama, que não fechou sequer o purgatório de Guantânamo — o "Dachau dos EUA" —, que ordenou o funcionamento imediato das cortes marciais, que não determinou o fim das torturas dos detentos, que não anulou as estranguladoras — para as liberdades políticas — leis que haviam aprovado e posto em vigor nos EUA com pretexto a "segurança antiterrorista" os fascistóides abutres neoliberais do Governo Bush Jr… Obama tenta agora valorizar o assassinato de Bin Laden e apresentá-lo com "justificação" da mencionada abominável política de Bush Jr., da qual, ele continua seguidor.

Obama = Bush Jr.

Obama tenta justificar a ocupação norte-americana de dez anos do Afeganistão (e, indiretamente, do Iraque, assim como da guerra contra a Líbia), as duas primeiras iniciadas pelo Bush Jr., e mantidas por ele, justificar as guerras de conquista dos EUA.

"Graças à guerra de dez anos no Iraque, no Afeganistão — e agora na Líbia — conseguimos assumir o controle do petróleo e, no final, assassinamos Bin Laden, consequentemente, valeu à pena", é a mensagem que quer passar aos cidadãos norte-americanos e ao resto do mundo.

Em seu pronunciamento pela televisão tornou, igualmente, claro que continuará mantendo a mesma política: "Devemos manter-nos de prontidão dentro e fora dos EUA", porque "não há dúvida de que a al-Qaida continuará organizando ataques contra nós", argumentou caracteristicamente.

O único país no qual poderiam existir sérias consequências políticas em decorrência do assassinato de Bin Laden é o Paquistão. Mas isto aconteceria, somente, se a operação do assassinato empreendida pela CIA ocorresse no país sem a cumplicidade dos serviços secretos e do Exército do Paquistão que, desde sempre, jogaram um jogo estranho, protegendo e armando milhares de extremistas muçulmanos e, simultaneamente, denunciando e até eliminando, esporadicamente, alguns deles.

Os serviços secretos e o Exército do Paquistão protegeram, também, Bin Laden. Entretanto, de tudo aquilo que foi divulgado oficialmente e "vazado" sobre a operação de seu assassinato, conclui-se que tanto os arapongas, quanto os militares do Paquistão estavam dentro da "jogada".

Por Serbin Argyrovitz, no Monitor Mercantil