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Com livro e passeata, Mães de Maio cobram punição à polícia de SP

Cerca de cem famílias participaram, na noite desta quinta-feira (12), de uma passeata no centro de São Paulo para lembrar os cinco anos dos ataques genocidas da Polícia Militar paulista em maio de 2006. Segurando fotos dos filhos mortos ou desaparecidos, as Mães de Maio, como são conhecidas, cobraram punição aos culpados e gritando palavras como “Polícia Assassina” e “Queremos Justiça”.

A ofensiva policial de cinco anos atrás está até hoje impune. No ano eleitoral de 2006, depois de ser surpreendido por uma série de ações criminosas do Primeiro Comando da Capital (PCC), o governo paulista resolveu dar uma resposta à margem da lei. Com isso, iniciou não apenas confrontos com integrantes do PCC como também levou barbárie sobretudo à periferia paulistana.

Os ataques ocorridos entre os dias 12 e 20 de maio resultaram na morte de 493 pessoas (446 civis e 47 policiais), principalmente na Grande São Paulo. Houve “indícios da participação de policiais em 122 execuções", além de discrepância na elucidação desses casos em relação aos que vitimaram 43 agentes públicos. Além disso, em 71 casos houve indícios de terem sido praticados por policiais membros de grupos de extermínio. A maioria das vítimas era inocente — não tinha nenhum envolvimento com o crime organizado, nem passagem com a polícia.

Antes da passeada, as manifestantes lançaram, na sede do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, o livro Do Luto à Luta, com depoimentos de parentes das vítimas e poesias e textos de vários artistas moradores das periferias das cidades paulistas. “Produzimos este livro para dar voz a quem não tem”, disse Débora Silva, mãe de uma das vítimas e uma das fundadoras do grupo.

Segundo ela, o livro pretende denunciar “a prática abusiva de repressão da polícia, já que a política de segurança pública do país é o extermínio”. A publicação pode ser comprada a R$ 10 no blog das Mães de Maio e em livrarias populares.

Também nesta quinta-feira, o ouvidor da polícia, Luiz Gonzaga Dantas, apresentou um balanço sobre os casos denunciados ao órgão sobre os crimes entre os dias 12 e 21 de maio de 2006. Segundo ele, ocorreram 54 casos de autoria desconhecida, com 89 vítimas. Desse total, 38 casos foram arquivados sem identificação da autoria do crime. Doze deles continuam em andamento.

Com relação aos casos de resistência seguida de morte, foram denunciadas 48 ocorrências, com 79 vítimas. Desse total, 37 foram arquivados, nove estão em andamento e, em dois casos, quatro policiais militares e um civil foram denunciados, e estão aguardando recurso.

Na última segunda-feira (9), um relatório elaborado pela Justiça Global, chamado São Paulo sob Achaque, apontou que a corrupção policial foi um dos fatores desencadeadores dos araques de maio e que muitos dos crimes cometidos no período continuam sem solução. As Mães de Maio pretendem fazer uma campanha pela federalização da investigação dos crimes e podem levar o caso à Organização dos Estados Americanos (OEA). “Se o Estado brasileiro negar a federalização, vamos denunciá-lo”, afirmou Débora.

Da Redação, com agências