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Prisão de diretor deixa FMI ainda mais frágil no socorro à Europa

A prisão do diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, em Nova York, foi um duro golpe na instituição num momento em que ela age para resgatar as economias da Europa. Sob a acusação de tentativa de estupro de uma camareira de hotel, Strauss-Kahn foi detido no sábado no aeroporto internacional JFK, minutos antes de decolar num voo da Air France para Paris, a caminho de um encontro que teria domingo com a chanceler alemã, Angela Merkel.

No encontro, o comandante do FMI defenderia pessoalmente, junto ao principal sócio da zona do euro, um novo pacote de empréstimos, estimado em € 60 bilhões, para afastar o risco de moratória da Grécia. O diretor-gerente do FMI é visto como a principal voz pública em defesa de uma segunda linha de ajuda à Grécia, que não conseguiu pôr a casa em ordem depois de um socorro de US$ 110 bilhões no ano passado.

Strauss-Kahn, um ex-ministro das finanças da França, goza de boa reputação nos meios políticos e econômicos por ter agido bem e rápido para deter o aprofundamento da crise financeira mundial. Ele era considerado favorito nas eleições presidenciais da França e têm bom trânsito com autoridades do Velho Mundo, como o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, e o presidente da frança, Nicolas Sarkozy.

Nos últimos dias, o mercado financeiro passou a cobrar prêmios mais altos sobre a dívida da Grécia, que tem relutado a implementar planos de contenção fiscal mais dramáticos. Houve pressões para que o FMI e a Europa encontrem uma solução rápida para o problema.

Na semana passada, o FMI afirmou em documento que há o risco de contágio para outros países centrais da Europa, e não apenas de sua periferia. Já Ontem, um porta-voz do governo grego declarou que o programa de socorro ao país não depende da ação de indivíduos — mas, sim, do entendimento entre instituições.

Nas horas que se seguiram à prisão de Strauss-Kahn, o FMI procurou mostrar que o episódio não paralisará a instituição. "O FMI permanece com funções e operações completas", declarou a diretora de relações externas do organismo, Caroline Atkinson.

Conforme William Murray, porta-voz do Fundo, o segundo homem na hierarquia do organismo, John Lipsky, já assumiu a função de diretor-gerente em exercício, enquanto Strauss-Kahn não está em Washington. Terceira no comando do organismo, Nemat Shafik, participará de reunião com ministros das finanças da Europa hoje em Bruxelas para tratar de Grécia.

Um técnico do FMI lembra, porém, que ela tem pouca experiência, pois foi nomeada em março para suceder o brasileiro Murilo Portugal. De forma reservada, funcionários do FMI disseram que as negociações para resolver o problema da Grécia seguem ritmo normal, até porque dentro da instituição Lipsky é uma das vozes mais fortes em defesa de uma solução.

Mas ele anunciou, na semana passada semana, que não concorrerá à recondução quando o seu mandato terminar, em agosto. "Não será fácil arrumar, em poucos dias, alguém de peso para substituir Strauss-Kahn", reconheceu uma fonte do FMI.

Strauss-Kahn, 62 anos, é acusado de violência sexual, tentativa de estupro e cárcere privado contra uma camareira do hotel Sofitel New York. Segundo relato feito por um porta-voz da polícia de Nova York, ela foi atacada no início da tarde de sábado quando fazia limpeza numa suíte ocupada pelo dirigente do FMI, cuja diária é estimada em US$ 3 mil.

Após sair nu do banheiro, Strauss-Kahn teria agarrado à força a camareira, de 32 anos. Ela escapou e pediu ajuda para colegas de trabalho, que comunicaram o suposto crime às autoridades. Quando a polícia chegou, encontraram um quarto desocupado às pressas — Strauss-Kahn teria inclusive esquecido de levar um aparelho celular.

Esse não é o primeiro escândalo de Strauss-Kahn, pai de quatro filhos. Em 2008, ele foi acusado de ter um caso com uma economista húngara. Na época, uma apuração do FMI apontou que ele não usou de sua posição no organismo para manter relação com uma subordinada. Mas Strauss-Kahn pediu desculpas públicas pelo episódio.

Em entrevista a agencias de notícias, um advogado de Strauss-Kahn afirmou que ele negaria as acusações perante a corte de Nova York. A mulher dele, Anne Sinclair, divulgou declaração afirmando "não acreditar por nenhum segundo nas acusações" e que "não tem dúvida que sua inocência será estabelecida". Parte da opinião pública francesa defendeu que as acusações fossem vistas com cautela.

Da Redação, com informações do Valor Econômico