Netinho evoca Lula e se diz preparado para enfrentar preconceito

“Na década de 1980, vimos o Lula falando a nossa linguagem, passando os nossos sonhos para as questões políticas. Todo mundo que já sofreu na periferia – todo mundo que já abriu a porta de um armário e viu que tinha pouca comida para dividir entre os filhos – entende o que ele fala. É um líder político que entende a necessidade do povo”, ressalta Netinho. “Tentei fazer isso na televisão e, agora, quero fazer isso na política também.”

No sábado, o vereador participou do seminário “São Paulo pela Juventude”, promovido pela Câmara Municipal. O evento reuniu diversas entidades, organizações e lideranças juvenis para a discussão e elaboração coletiva de pautas que atendam às necessidades dos jovens em áreas como trabalho, violência, acesso à internet e educação.

Autor do projeto que defende a criação de um Plano Nacional para a Juventude pelo governo municipal, Netinho afirma que quer trazer para a política os jovens que não participam de uma forma organizada. “Estou ansioso para isso. Acho que posso agregar essas pessoas às nossas causas políticas”, afirma o vereador, que presidiu por dois anos a Comissão de Defesa dos Direitos da Criança, do Adolescente e da Juventude.

Para o presidente do Conselho Nacional de Juventude, Gabriel Medina, o cenário ainda é de dificuldade. “Não há investimento do poder público. Há uma grande ausência do Estado nas regiões mais periféricas da cidade e uma necessidade imensa de se criar indicadores que possam demonstrar como está a juventude do ponto de vista social e político”, explica. “A parceria com o Netinho é muito importante, porque ele viveu as dificuldades que a juventude vive na prática. Por isso, ele tem muita sensibilidade com o tema”, ressalta.

Durante seu discurso, em uma mesa integrada por parlamentares e líderes de movimentos juvenis, Netinho afirmou que é preciso retomar as mobilizações pela juventude. “Vamos buscar diretrizes para a construção de um manifesto, com as pautas essenciais para essa camada social. Esse seminário tem que gerar propostas a serem entregues nas mãos do Executivo para formar um compromisso com a juventude paulistana e São Paulo ter condições de sair à frente.”

Disputa

De líder comunitário da periferia de São Paulo a vereador eleito em 2008, com 84 mil votos, Netinho já desenvolveu diferentes trabalhos sociais voltados às parcelas mais pobres da população. Nas eleições de 2010, ao disputar o Senado, obteve 7,7 milhões de votos. Sua pré-candidatura à Prefeitura foi lançada em 18 de abril deste ano pelo Comitê Municipal do PCdoB de São Paulo, que aprovou a iniciativa por unanimidade.

Para Netinho, a escolha tem alguns motivos significativos. “O fato de o PCdoB ter escolhido uma pessoa com a minha origem, com a minha trajetória, com o meu conhecimento no foco popular e da minha raça para representar o partido mais antigo do Brasil revela que o partido tem vida própria”, enfatiza. “O PCdoB pode influenciar de forma socialista o país e, para isso, precisa ter protagonismo político”.

O fato de o estado de São Paulo ser considerado um dos maiores redutos tucanos no país e ter elegido lideranças de partidos de direita reiteradas vezes não assusta o vereador. Netinho se diz preparado para enfrentar “qualquer tipo de preconceito que venha a surgir” na campanha. “É só ver a minha origem, ver a minha história e quem eu represento. Acho que vamos ter uma candidatura muito diferente e inspiradora.”

“Netinho consegue dialogar com o novo cenário político – a nova classe C, que se sente mais empoderada”, acrescenta Osvaldo Lemos, presidente da União da Juventude Socialista (UJS) em São Paulo. Segundo ele, as boas votações já alcançadas por Netinho “representam sua força popular”.

“Com o Lula, o preconceito vinha pelo fato de ele ser operário e analfabeto”, acrescenta Osvaldo. “Com o Netinho, vai acontecer a mesma coisa. Vão falar que não tem chances porque é negro e da periferia – mas ele sempre foi um batalhador e será um grande candidato.”