Sem categoria

Setor calçadista exige soluções para risco de desindustrialização

Patrões e trabalhadores se uniram na audiência que a Comissão do Trabalho da Câmara dos Deputados, promoveu, nesta terça-feira (24), para discutir a crise do polo calçadista da Bahia e do Brasil. Para o deputado Daniel Almeida (PCdoB-Ba), que solicitou a audiência, essa é a primeira de uma série de encontros que devem ser realizados em busca de solução para a baixa de competitividade dos produtos brasileiros e a consequente desindustrialização do país.

Setor calçadista exige soluções para risco de desindustrialização

Ele usou o exemplo da Fábrica de Calçados Azaléia, no município de Itapetinga, a 562Km de Salvador (BA), que recentemente anunciou demissões, férias coletivas e ameaça fechar algumas unidades de produção. A Vulcabras – Azaléia é a maior empresa calçadista do País, com mais de 35 mil operários no Brasil e exterior.

"A situação de demissões em uma empresa com o tamanho e importância da Azaleia gera insegurança nos trabalhadores e abala o mercado local. Isso nos preocupa", afirma o deputado.

A continuidade dos debates foi debatido por todos os participantes da audiência, principalmente depois que o representante do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Simon Salama, disse que as soluções solicitadas pelos setores são da competência do Ministério da Fazenda e do de Relações Exteriores.

Proposta dos trabalhadores

Jacir Afonso de Melo, da CUT, disse que a questão de Itapetininga faz parte da questão de política econômica do governo, a questão do câmbio e o risco de desindustrialização. Ele disse que “muitas vezes o governo atende nossas reivindicações, mas as empresas não apresentam contrapartida”, criticando a resistência do empresariado com a proposta de redução da jornada de trabalho. Segundo ele, a medida seria garantia de abertura de novas vagas de trabalho.

“É importante discutir taxa de câmbio, desoneração da folha de pagamento, mas é importante discutir também outras medidas do ponto de vista do trabalhador”, disse, criticando o estímulo que é dado pelo governo a exportação do couro na forma bruta, que vai para China e Alemanha, e volta ao Brasil como calçado, competindo com a indústria calçadista local.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Milton Cardoso, destacou toda a importância do setor calçadista para a economia brasileira, já que, emprega diretamente quase 400 mil pessoas e a cadeia produtiva (fábricas que fornecem produtos para a indústria de calçados) emprega mais 500 mil pessoas.

A principal queixa do empresário, que se define como sapateiro, a exemplo dos funcionários das fábricas, é com o ‘dumping’ praticado principalmente pela China e a importação fraudulenta. Dumping é a situação em que um determinado produto é vendido a um preço inferior num mercado estrangeiro do que no mercado doméstico.

Difícil competição

“É difícil competir com eles, por causa do câmbio, dos subsídios governamentais , das condições de trabalho”, disse Cardoso, alertando que se não forem tomadas as providências agora a indústria brasileira vai desaparecer.

Ele lembrou que fez uma denúncia do Ministério da Fazenda para investigar a importação fraudulenta, destacando que o Brasil importou sete milhões de pares de sapatos da China em 2008 e a China diz que exportou para o Brasil 25 milhões. “O que foi feito desses 18 milhões?”, questiona o empresário, enfatizando que a fraude foi denunciada e a investigação até hoje não começou.

O representante da Secretaria de Indústria, Comércio e Mineração da Bahia, Paulo Guimarães, reforçou o discurso de Cardoso, queixando-se da triangulação que os chineses fazem para evitar o pagamento de tributos (medidas antidumping) no Brasil. Reforçou a crítica a manutenção da política de exportação de commodities e importação de produto manufaturado. E sugeriu que o Brasil aproveitasse o período de preços estão altos das commodities para se industrializar.

“Todas as medidas que puderem ser tomadas para garantir os empregos devem ser tomadas e nós queremos ajudar”, disse, lembrando que existe demanda para produção brasileiro no mercado interno.

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de calçados (atrás de Índia e China) e o quinto maior exportador do produto. Segundo dados do IBGE, o maior polo calçadista do mundo está no Vale dos Sinos, uma região formada por 14 municípios ao norte de Porto Alegre (RS).

De Brasília
Márcia Xavier