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Estado deve ser indutor e promover industrialização

Pesquisa de Emprego e Desemprego divulgada nesta quarta-feira (29) aponta que a taxa de desemprego subiu de 9,1%, em dezembro, para 9,5% em janeiro de 2012.

Joanne Mota, da Redação do Vermelho

Nivaldo Santana, vice-presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), disse ao Vermelho que esse problema foi previsto pelas centrais desde o início deste ano.

Segundo ele, “existe uma correlação de força entre crescimento econômico, industrialização e geração de emprego. Quando há retração econômica e perda de fôlego por parte da indústria, é inevitável o impacto no mundo do trabalho”, explica o dirigente.

Ubiraci Dantas, presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), reafirma que a redução do número de postos de trabalho é reflexo da política econômica implementada pelo ministro Guido Mantega. “A atual política só prejudica o trabalhador, desnacionaliza e desindustrializa nossa indústria e enfraquece o país”, denuncia. Essa opção de governo só aumenta as importações.

“Essa situação é grave e nós do movimento sindical não podemos abrir mão de garantir no país uma indústria nacional forte. Um exemplo é a valorização dos importados. Precisamos repensar esta postura e garantir que nós passemos a produzir produtos com maior valor agregado. Então, as centrais estão unidas para reverter a atual política econômica em prol da valorização do nosso parque industrial”, reafirma Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT).

Promover a industrialização

Em entrevista ao Vermelho, o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Sérgio Mendonça disse que a pesquisa tomou como base sete regiões metropolitanas onde o Dieese e a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) aplicam o estudo.

Entre os setores avaliados está o da indústria, o qual apresentou uma redução de 1,5% em relação ao resultado de dezembro. O estudo apontou que foram fechados 45 mil postos de trabalho neste setor.

Sérgio Mendonça explica que esta redução se liga a uma questão conjuntural e estrutural, na qual o setor industrial perde fôlego frente a questões como baixa competitividade e câmbio supervalorizado. “Dados fornecidos pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) apontam que, em 2012, este setor crescerá 1,2%, um crescimento baixo e que demonstra que a industria anda um pouco de lado neste tempos. Além disso, é preciso levar em consideração a explosão das importações e a ausência de políticas de médio e longo prazo que favoreçam o crescimento neste setor”, afirma o economista.

O assessor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), da Subseção da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos da Força Sindical (CNTM), Roberto Anacleto, explicou ao Vermelho que a redução do número de postos de trabalho sofre diversas influências, especialmente no que se refere à falta de investimento em um projeto de desenvolvimento concreto, no qual seja levada em conta a valorização do trabalhador e a modernização do setor industrial.

“O setor industrial precisa rever sua postura no que se refere ao investimento em pesquisa e na formação dos trabalhadores. E se falta um cenário favorável, tal como o fomento do governo na diminuição de impostos, nós devemos – trabalhadores, empresas e governo – reavaliar e pensar numa proposta que garanta esse cenário”, explica Anacleto.

Segundo ele, o Brasil vive um novo panorama econômico, “estamos em outro patamar, só que precisamos fazer transformações internas no setor produtivo para que passemos a crescer de forma sustentada. Então, por que não pensar em uma ação na qual o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo, entre com um financiamento na questão do aprimoramento de nossa base tecnológica, reduzindo assim nossos níveis de importação de produtos nesse setor, o que garantiria o aumento dos postos de trabalho?”, questiona o assessor.

Modernizar para fortalecer

Roberto Anacleto também levanta a questão de que o investimento em inovação e tecnologia é necessário para que as empresas se atualizem e assim acompanhem o processo de desenvolvimento em curso.

Ele afirma que hoje “é preciso entender que investir em tecnologia é como plantar uma árvore, você não colhe os frutos de imediato, demanda tempo, estudo e investimento”.

Além disso, Anacleto lembra que é preciso levar em consideração os fatores externos, como a crise financeira, “que não é nossa e nem foi começada por nós, mas que estimula um processo de transferência de investimentos”.

“Hoje existe uma transferência muito grande para o setor financeiro e não sobra dinheiro para investir em produção. Ou seja, os detentores do capital preferem especular a investir em produção, isso se reflete em nosso desenvolvimento e no aprimoramento de nossa base”, esclarece.

Que modelo de desenvolvimento queremos?

Outro fator abordado durante a entrevista foi a questão do atual modelo de desenvolvimento adotado no país.

“Que modelo de desenvolvimento nós queremos para o país? Essa é a discussão que os trabalhadores devem pautar, não é o governo e nem os empresários que devem delimitar isso. Precisamos entender que quando melhoramos a vida do trabalhador, geramos um efeito em outros setores. Ou seja, geram-se serviços, aumenta-se o consumo e a roda gira. Você só tem comércio e serviços se você tem uma industria forte, e ter industria forte significa ter trabalhador recebendo bem”, diz Anacleto.

Ele cita como exemplo a experiência implantada na Coreia do Sul.

“Que caminhos seguiu a Coreia do Sul? Este país definiu que não tinha como o Estado não assumir seu papel como indutor de crescimento. Então, o governo investiu em educação, criou empresas nacionais fortes e investiu em ciência e tecnologia. Qual o resultado disso? Hoje a Coreia do Sul é uma referência na produção de produtos com valor agregado”, exemplifica.

“E o Brasil. Nós conseguimos ter uma fábrica de aviões brasileira, mas não conseguimos ter uma montadora de veículos. Então, precisamos vencer as barreiras políticas para assim pensar em um projeto real de desenvolvimento. Exportar soja, suco de laranja, frango, minério é bom, já provamos que somos bons nisso, mas é chegada a hora de abrir novas frentes, nas quais o Brasil desponte com força tanto no mercado interno como no externo”, finaliza.