Bancadas “urbanas” de SP e do RJ lideram rejeição ao Código
A baixa rejeição ao novo Código Florestal na Câmara dos Deputados poderia ter sido ainda menor se não fosse o receio — ou, talvez, preconceito puro — de parte dos deputados de São Paulo e do Rio de Janeiro. O texto-base do relator Aldo Rebelo (PCdoB-SP) foi aprovado na noite desta terça-feira (24) por 410 votos a 63.
Por André Cintra
Publicado 25/05/2011 12:00
Se a vitória do projeto já era esperada, a folgada vantagem surpreendeu, para consagração de Aldo e dos maiores beneficiados pela medida — os 4,3 milhões de agricultores familiares do país. Em contrapartida, as bancadas paulista e fluminense foram as que mais rechaçaram a nova legislação florestal.
Não deixa de ser curioso que essa rejeição aos avanços do Código tenha sido mais evidente nos estados com o maior eleitorado urbano. Os 116 deputados de São Paulo e do Rio representam apenas 22,6% dos 513 parlamentares da Câmara. Mas, na soma dos votos contra o relatório de Aldo Rebelo, a participação dos dois estados sobe para 31,7% — foram 20 dos 63 deputados contrários ao novo Código.
Pode-se alegar que os partidos que se opuseram ao texto-base têm mais força justamente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Foi desses colégios eleitorais que saíram 100% dos deputados do PSOL e metade da bancada do PV. Além disso, dos 57 representantes do bloco PDT-PSB, apenas oito não apoiaram o Código — sendo quatro de São Paulo ou do Rio.
Os reacionários e os humoristas do CQC ganharam um pretexto para insinuar que os parlamentares mais “esclarecidos” provaram, uma vez mais, sua superioridade cultural sobre os “voluntariosos” e “rústicos” deputados do Norte-Nordeste. Mas a postura de certos deputados ditos progressistas — cuja votação se concentra nas duas maiores capitais do país — talvez tenha outras explicações.
De um lado, há uma clara insensibilidade em relação a milhões de pequenos proprietários rurais que são, hoje, reprimidos pelo Estado e têm sua fonte de sustentação “marcada para morrer”. De outro lado, sobressai o receio — e, em alguns casos, a covardia — de contrariar a fatia de seu eleitorado que lhe dá o chamado “voto de opinião”. Nos dois casos, só temos a lamentar.