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Não Alinhados destacam conquistas e apontam desafios

A 16ª Conferência Ministerial do Movimento de Países Não Alinhados iniciou, nesta quarta-feira (25), na Indonésia, a sua etapa de alto nível, com chamados a reafirmar a validade dos propósitos e princípios que deram origem ao fórum terceiro-mundista.

Na abertura da reunião, o presidente indonésio, Susilo Bambang Yudhoyono, fez um relato das conquistas do movimento em seu meio século de vida e disse que não tinha nenhuma dúvida de que a história mundial teria sido diferente sem sua existência.

"Sem nós, a danosa bipolaridade teria dominado totalmente o século 20, e os países em desenvolvimento teriam sido marginalizados", disse o mandatário.

Segundo o chefe de Estado, os Não Alinhados, que inicialmente eram apenas 25 membros, agora já são 118. Com a incorporação de Fiji e do Azerbaijão nesta jornada, o número chegará a 120.

"Mas como converter esse poder numérico em uma influência coletiva?", questionou, dirigindo-se ao plenário. "É o peso de nossas conquistas políticas e socioeconômicas, nosso intenso ativismo e a força das nossas ideias que, em última instância, definem o nosso desempenho", o presidente ressaltou.

"Se, em 1961, nosso movimento nasceu como uma resposta ativa a um mundo marcado pelas pressões da bipolaridade, no século 21 o nosso movimento pode ser mais proativo na formação do mundo novo", disse Bambang Yudhoyono.

Ele também ressaltou a necessidade de assegurar que a melhoria nas relações entre os países poderosos não ocorra em detrimento dos pequenos estados. Neste sentido, exortou os presentes a fazerem da luta pelo desarmamento nuclear total uma causa comum, na qual a posição das grandes potências é peça-chave.

Por sua parte, o ministro das Relações Exteriores do Egito, Nabil Al-Araby, na qualidade de presidente do Birô de Coordenação do Movimento de Países Não Alinhados no nível ministerial, insistiu que o sucesso do movimento depende da unidade alcançada dentro de sua diversidade.

Depois de um breve resumo do trabalho do Egito a partir da Cúpula de Chefes de Estado e de Governo em Sharm El-Sheikh em 2009, o chanceler recordou o nascimento do movimento em uma época em que os povos tinham medo ante o período da chamada Guerra Fria.

"Hoje em dia é diferente, temos podido nos livrar desse medo?", perguntou e, em seguida, afirmou que os povos continuam temendo por suas vidas e suas sociedades ante os grandes problemas que a humanidade enfrenta, como o aumento dos preços de alimentos, de energia, a proliferação de armas nucleares e as mudanças climáticas, entre outros fenômenos.

"Nosso destino é que nos unamos ainda mais, e que os interesses gerais prevaleçam sobre os regionais e nacionais", disse o chanceler, que insistiu na necessidade de reforma das Nações Unidas, a fim de que seja mais democrática a tomada de decisões, não se limitando ao Conselho de Segurança, onde cinco membros permanentes têm poder de veto.

O ministro egípcio lembrou que o orçamento regular das Nações Unidas foi congelado, o que afeta a implementação de programas de importância para os países em desenvolvimento. Ele se referiu à necessidade de uma maior capacidade dos Não Alinhados para atuarem em áreas de conflito no mundo, de maneira que estas não fiquem nas mãos dos países desenvolvidos.

Ele citou o exemplo de que o conflito palestino-israelense se encontra nas mãos do chamado Quarteto (EUA, Rússia, UE e ONU), que, segundo ele, "nunca se reúne, e, quando se reúne, não chega a nenhum acordo."

Por outro lado, o chanceler mencionou a conferência do Tratado de Não Proliferação Nuclear que, em 2010, aprovou por consenso um plano de quatro ações, incluindo uma para o Oriente Médio, dirigida a tomar medidas específicas em 2012 para estabelecer, na região, uma zona livre de armas nucleares e outros meios de destruição em massa.

"Infelizmente, transcorreu quase um ano desde a adoção desse plano, e nenhuma das ações começou a ser executada", disse o chanceler egípcio.

Na conferência, o movimento celebra o seu meio século de vida com discussões sobre a "visão compartilhada sobre a contribuição do Movimento dos Não Alinhados para os próximos 50 anos".

De hoje até sexta-feira, os ministros das Relações Exteriores ou seus representantes presentes na reunião em Bali apresentarão as posições de seus países sobre questões globais e regionais, e examinarão os documentos acordados em reuniões anteriores de altos funcionários, incluindo o Projeto de Declaração Final e pronunciamentos especiais.

Entre eles, terão sobre a mesa um comunicado sobre o desarmamento nuclear, apresentado por Cuba e aprovado na sessão plenária de altos funcionários, e outros dois sobre a causa palestina e a situação dos prisioneiros palestinos nas prisões israelenses.

O embaixador da Palestina nas Nações Unidas, Riyad Mansour, destacou a importância deste documento sobre as detenções de seu povo promovidas por Israel, pois é a primeira vez que a questão é abordada de maneira concreta em uma conferência ministerial dos Não Alinhados.

"Estamos muito satisfeitos com esta decisão, pois é um assunto muito importante para os palestinos, e o documento que foi adotado no segmento de altos funcionários é um excelente texto", disse ele.

Segundo Mansour, a declaração internacionaliza a problemática, permitindo informar à comunidade mundial a situação de milhares de prisioneiros palestinos. "Muitos devem ser libertados imediatamente, incluindo mulheres e crianças", sublinhou o diplomata.

Nas prisões sionistas continuam seis mil palestinos, dos quais 700 estão sofrendo de câncer, doenças cardíacas e insuficiência renal, entre outras anomalias.

De todos os presos, quase 800 estão condenados à prisão perpétua; 135, a mais de 20 anos; e 307, a mais de 18 anos. As mulheres atrás das grades são 38, enquanto as crianças são em torno de 300.

Da guerra de 1967 até o os dias de hoje, cerca de 800 mil palestinos de Gaza e da Cisjordânia foram encarcerados em prisões nas ocupações israelenses.

No seu mais recente informe sobre a situação dos direitos humanos nos territórios palestinos ocupados desde 1967, o Relator Especial das Nações Unidas, Richard Falk, expressou sua consternação pelas detenções e encarceramentos constantes de crianças palestinas pelas autoridades israelenses.

O relatório indica que em 2010 foram detidas crianças em postos de controle, na rua ou, mais geralmente, em suas próprias casas.

"Neste último caso, um grande número de soldados israelenses geralmente cerca a casa da família durante a noite. Depois de levá-los a golpes e patadas, os colocam na parte traseira de um veículo militar, no qual sofrem novos maus tratos físicos e psicológicos no caminho até os centros de interrogatório e de detenção", resenha o relatório de Falk.

O funcionário da ONU agrega que, no momento da prisão, raramente são informadas às crianças e às famílias as acusações que pesariam contra elas.

Com Prensa Latina