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FMI: francesa busca apoio da Índia; brasileiro vê eleição viciada

Depois do Brasil, agora é a vez da Índia. A ministra francesa das finanças, Christine Lagarde, tenta convencer mais um país do grupo das economias emergentes a apoiar a sua candidatura ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

No Brasil — onde esteve no final de maio —, Lagarde se comprometeu a dar mais peso aos países emergentes no seio do FMI, sem deixar claras as iniciativas nesse sentido. Na continuação de sua luta para obter o apoio dos países dos Brics, a francesa estará na Índia para promover sua candidatura à sucessão do também francês Dominique Strauss-Kahn, acusado da prática de crimes sexuais.

O grupo, assim como outros países em desenvolvimento, reivindica uma reforma no seio do FMI. Não é mais tolerável o acordo tácito, estabelecido depois da 2ª Guerra Mundial, segundo o qual a presidência do FMI deve ser entregue a um europeu, enquanto o Banco Mundial é gerido por um americano.

Os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ainda não definiram um candidato comum. Mas tampouco é garantido que Lagarde deixe a Índia com um apoio expresso e garantido. Além da francesa, o diretor do Banco Central do México, Agustin Casterns, também anunciou sua candidatura.

“Não tenho a certeza de que ela (Lagarde) possa receber, de forma aberta, o apoio indiano”, opina Brahma Chellaney, membro do grupo de reflexão independente do Centre for Policy Research, em Nova Deli. Segundo ele, “a Índia vai querer ver se o candidato mexicano é um concorrente credível e não quer tomar ainda uma posição”.

Para o brasileiro Paulo Nogueira Batista Jr., diretor-executivo do FMI para o Brasil e mais oito países da América Latina e Caribe, Lagarde ainda precisa explicitar melhor suas propostas. "Não queremos que haja retrocesso", afirma, propondo "diversidade de pensamento econômico, defesa de politicas anticíclicas, abertura para administração dos fluxos de capital, inclusive controles de capital".

De acordo com Batista, uma eleição “viciada” como a do FMI torna Lagarde a favorita na disputa. “O cargo número um, o de diretor-gerente, é apenas a ponta de um iceberg. A falta de diversidade está em todos os níveis do fundo. Os países em desenvolvimento estão sub-representados na administração, nas chefias de departamento, nas posições de comando no corpo técnico”, aponta.

O economista brasileiro explica que o pacto entre europeus e americanos é praticamente o bastante para liquidar a eleição. “A União Europeia tem pouco menos de um terço dos votos; os Estados Unidos, 17%. Os dois somados têm quase metade. É essa concentração das cotas que permite sustentar a convenção”, explica ele, lembrando que o diretor-gerente é eleito pela diretoria-executiva por maioria simples dos votos ponderados.

Sem mudança

Na opinião de Batista, a eleição não demonstrou, até agora, nenhuma mudança em relação ao passado. “Os europeus, muito pressionados pela sua crise, estão se agarrando a seus privilégios. A verdadeira mudança de representatividade virá com a redistribuição das cotas e do poder de voto.”

Segundo o economista, o primeiro passo para mudar o Fundo Monetário é justamente a redivisão dos votos, para “acelerar a implementação da reforma de 2010”. Já o segundo passo, diz, é “rever a fórmula de cálculo de cotas, que precisa refletir melhor o peso econômico relativo dos países membros”. A terceira etapa é “fazer a reforma seguinte até janeiro de 2014 e assegurar uma transferência de poder de votos expressiva para países em desenvolvimento”.

Da Redação, com agências