Artistas, boleiros e PMs saem em defesa da luta dos bombeiros
A “onda vermelha” desencadeada pelos bombeiros após a ocupação do Quartel Central, na sexta-feira passada, ganhou um novo tom: o azul da Polícia Militar, que aderiu ao movimento na quarta-feira. Representantes de entidades de classe da segurança pública do Rio se reuniram com o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Sérgio Simões, e manifestaram apoio.
Publicado 09/06/2011 10:52
Após a reunião, a Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, a Associação dos Oficiais Bombeiros, do Clube de Cabos e Soldados da PM e a Associação de Cabos e Soldados Bombeiros anunciaram a criação da Frente Unificada das Entidades de Classe da Segurança Pública. O Sindicato dos Policiais Civis do Estado apoiará o grupo.
O encontro, no Quartel Central, durou cerca de duas horas. Além da unificação da pauta de reivindicações das duas corporações, a frente apresentou a proposta de elevar o piso salarial para R$ 2.900 — valor R$ 900 acima do reivindicado anteriormente pelos bombeiros. Antes mesmo de a adesão dos PMs ser oficializada, mais de cem policiais participaram de uma carreata com bombeiros em Cabo Frio.
Nilo Guerreiro, presidente da Associação de Cabos e Soldados Bombeiros, explicou que a comissão chegou ao mínimo de R$ 2.900 com base na média nacional de pisos da PM e do Corpo de Bombeiros. Hoje, o piso dos bombeiros é R$ 1.198; o dos PMs está em torno de R$ 1.100. “Somos militares como os PMs. Os soldos são os mesmos. Não pode haver diferença. Estamos unidos com um mesmo propósito”, disse Guerreiro.
À noite, a juíza Ana Paula Monte Figueiredo Pena Barros, da Auditoria da Justiça Militar, negou o relaxamento da prisão de 431 bombeiros que estão presos. Há 439 profissionais presos, mas apenas esses 431 são atendidos pela Defensoria Pública.
Mais apoios
O movimento dos bombeiros do Rio também recebeu a solidariedade de jogadores de futebol e até atores famosos. Um vídeo produzido por Sérgio Marone e divulgado no YouTube mostra a mensagem de um grupo de atores em apoio aos bombeiros do Rio . Com um efeito técnico que deixa as imagens vermelhas, eles pedem a liberdade dos presos e a retomada dos diálogos com o governo.
"Não se sobrevive com um salário de R$ 950 por mês. Apoiamos tudo que os bombeiros fizeram até agora. Queremos e exigimos a liberdade de todos eles. Em nome de um país amado, liberdade para todos", diz a atriz Cássia Kiss no vídeo.
Já o ator Ary Fontoura pede que o governador Sérgio Cabral retome o diálogo com os militares e chama de “antidemocrática” a prisão dos manifestantes. Participam ainda da gravação os atores Elizabeth Savalla, Mateus Solano e Sergio Marone, que finaliza o vídeo dando apoio aos militares e suas famílias.
Segundo Marone, a ideia do vídeo, que até o início da noite desta quarta-feira já tinha sido visto por mais de 300 pessoas, surgiu por acaso, durante uma conversa entre os colegas. “Todo mundo estava indignado com a situação, principalmente como ela está sendo conduzida, e queríamos uma forma de se manifestar. Então eu peguei a minha máquina de fotos, que estava até descarregada, e eu filmei cada um por cerca de 20, 30 minutos, e depois fiz a pós-produção. Nada foi planejado”, contou o ator.
Outra atriz que mostrou apoio aos militares foi Cissa Guimarães, que postou a seguinte mensagem em sua página do Facebook: "Eu apóio os bombeiros do Rio. Essa não é uma luta só deles. Como cidadão apóio esses heróis".
Mais cedo, salva-vidas distribuíram fitas vermelhas para os jogadores do Flamengo, que realizavam um treino físico na Praia do Recreio. O técnico Vanderlei Luxemburgo, que também recebeu uma fita, afirmou apoiar as reivindicações: “A prisão dos bombeiros por tanto tempo é uma arbitrariedade do governo. A população reconhece o trabalho e a dedicação que essa categoria tem nas ruas e nas praias. Acho que as reivindicações são justas”, declarou o técnico.
Apoio sindical
Manifestantes estão acampados desde domingo na escadaria da Alerj, onde receberam representantes da CUT, do Sindicato dos Bancários e da Força Sindical. Apesar de os bombeiros não terem direito a se organizar em sindicatos, a articulação entre os movimentos foi bem-sucedida.
A Força doou cem colchonetes para eles continuarem acampados. Um ônibus alugado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Asseio, Conservação e Limpeza Urbana levou cerca de 50 estudantes de escolas estaduais de Niterói ao local, que recebeu a visita de outros alunos de colégios públicos e privados. Houve também uma passeata pelas ruas da cidade a favor dos bombeiros.
Militares e alguns civis rasparam o cabelo em plena calçada, escrevendo o número 439 na nuca, numa referência ao total de bombeiros detidos após a invasão do Quartel Central. Um grupo de bombeiros pendurou numa grade um cartaz que pedia "anistia aos 439". Dentro da Alerj, um grupo de cerca de 50 parentes de bombeiros presos se reunia com defensores públicos, para saber da situação jurídica dos detidos. À tarde, os defensores visitaram o quartel de Charitas, onde estão os presos.
A presidente da Comissão de Direitos Humanos Ordem dos Advogados do Brasil do Rio (OAB-RJ), Margarida Pressburger, considerou a prisão arbitrária porque a comunicação à Justiça deveria ter ocorrido em, no máximo, 24 horas, prazo é determinado pelo Código de Processo Penal Militar. De acordo com o TJ-RJ, a comunicação foi feita apenas às 19h de hoje, mais de 60 horas após as prisões.
Com isso, a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro entrou, com pedido de relaxamento de prisão e liberdade provisória para os 439 bombeiros presos. "O pedido de relaxamento de prisão foi feito porque, até o momento, a Defensoria não recebeu o auto de prisão em flagrante dos militares, o que tornaria a prisão ilegal. Para os defensores, a demora na comunicação não se justifica nem mesmo com o número elevado de detidos", explicou, em nota, a Defensoria Pública.
Ontem, o governo acenou com um abono de R$ 350, além da distribuição de óculos, filtro solar e pés de pato aos salva-vidas. A proposta foi levada aos militares pelo novo comandante geral dos bombeiros, coronel Sérgio Simões, que esteve reunido por mais de quatro horas com representantes do movimento na noite de terça-feira.
Os bombeiros se recusaram a negociar e já avisaram que desconsideram a proposta do abono. Para eles, a gratificação não resolve o problema porque, se o militar fica doente ou não pode trabalhar, o pagamento é suspenso. Além disso, ela não seria paga para aposentados e pensionistas e não incide nas gratificações.
Da Redação, com agências