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Mostra no Rio de Janeiro celebra carreira de Pedro Almodóvar

Nenhum cineasta retratou de forma tão peculiar as complexidades da alma feminina. Desde que lançou seu primeiro longa, ‘Pepi Luci, Bom e Outras Garotas de Montão’, em 1980, Pedro Almodóvar moldou um estilo inconfundível ao misturar elementos do melodrama e da cultura pop em meio a tramas muitas vezes surreais, envolvendo não só as mulheres, mas os homens, os travestis e figuras até mesmo inimagináveis.

Com 17 filmes de sua autoria e outros 23 que serviram de referência para a obra do diretor espanhol, acaba de chegar à Caixa Cultural RJ a mostra ‘El Deseo — O Apaixonante Mundo de Almodóvar’, que ainda conta com a exposição ‘Secretos Sobre Negro’, com fotografias assinadas por Antonio Banderas.

O eterno galã, que foi revelado nos filmes de Almodóvar, esteve no Rio semana passada para divulgar uma nova fragrância, The Secret, e falou sobre o começo da carreira e os filmes ‘A Lei do Desejo’ (1987) e ‘Ata-me’ (1990), que estão na programação. Depois de 21 anos, Banderas está no novo filme do cineasta, ‘La Piel que Habito’, lançado em maio, no último Festival de Cannes.

“Eu gosto de trabalhar com um diretor que é profundamente autoral e tem uma grande personalidade. Isso foi algo que sempre me atraiu muito nele. Sua valentia na hora de atacar temas, tabus, e, ao mesmo tempo, fazer isso com elegância. Almodóvar é um gênero”, elogia Antonio Banderas.

Ele desmente boatos de que teria ficado na pior por causa do polêmico ‘A Lei do Desejo’, em que interpreta um homossexual envolvido num crime, e que tentou tirar o filme do mercado. “Não é verdade. Acontece que o longa, para mim, naquele momento da minha vida, me atingiu de maneira moral. Me dava medo interpretar um personagem, não por ser gay, mas que tivesse o sexo tão explícito”, explica ele, sobre as cenas de alto teor erótico.

Mas Banderas confessa que, por outro lado, o filme o fez refletir sobre a questão. “A moral do público também estava em jogo. Porque o personagem era um assassino, mas o que não aceitavam era uma relação sexual com uma pessoa do mesmo sexo”, recorda.

Já de ‘Ata-me’, filme em que o ator contracena com Victoria Abril e também inclui cenas de sexo, Banderas tem outras recordações. “Gosto muito desse. Foi o final de um caminho na minha carreira. Depois dele, eu me mudei para a América. Foi uma época de descobertas, deixei minha vida de Madri. ‘Ata-me’ representa tudo isso, toda essa relação profissional com o Pedro”, admite o ator, que, com o aval dos filmes do diretor espanhol, iniciou uma carreira sólida em Hollywood.

Em cartaz até 26 de junho, a mostra que revisita a carreira de Almodóvar ainda traz outros clássicos na programação, como ‘Tudo Sobre Minha Mãe’ (1997), ‘Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos’ (1988) e ‘Fale com Ela’ (2002), que conta com uma participação de Caetano Veloso.

O ingresso de cada sessão custa R$ 4 e a bilheteria arrecadada será revertida para a Sociedade Viva Cazuza. A exposição de fotografias de Banderas é gratuita e apresenta uma visão íntima e pessoal do mundo feminino através de uma perspectiva masculina. “Quis inverter as coisas e mostrá-las em papéis que normalmente são dos homens”, diz Banderas.
 
Fonte: O Dia