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Congresso da UBM debate autonomia econômica das mulheres

A psicóloga e pesquisadora especialista em assédio moral Margarida Barreto participou da mesa “Trabalho e Autonomia Econômica” em conjunto com a presidente do PCdoB do Rio de Janeiro, Ana Rocha, que ocorreu neste sábado (11) pela manhã, durante o 8º Congresso da União Brasileira de Mulheres (UBM). Confira os materiais apresentados pelas debatedoras da mesa ao fim desta matéria.

- Luana Bonone

Margarida Barreto tratou sobre diversas formas de discriminação no espaço de trabalho, por questões étnicas, religiosas, de gênero, de orientação sexual, pela existência de deficiências físicas ou mesmo doenças causadas pela própria prática laborial. A pesquisadora lembrou que há diversas convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT), leis federais e outros mecanismos e ferramentas para proteger os trabalhadores e as trabalhadoras de preconceitos, para garantir seus direitos.

Barbárie

Margarida Barreto apresentou diversos exemplos de discriminação do local de trabalho, citando os nomes das empresas envolvidas.

Entretanto, ela relatou inúmeros exemplos de discriminação em empresas grandes, de atuação internacional, chegando a barbaridades como definir o uso de um “fraldão” por trabalhadores para impedi-los de ir ao banheiro durante a jornada ou mesmo extremos como oferecer mulheres que não atingiram metas para servir sexualmente homens “produtivos”, ou seja, que cumpriram suas metas.

Margarida ressaltou que a opressão atinge especialmente sobre a mulher negra. A especialista informou, ainda, que um em cada oito homens chegam a posições de chefia no trabalho, enquanto esta proporção entre as mulheres é de uma em cada 40. Além disso, as mulheres recebem em média 20% a menos que os homens quando exercem a mesma função.

Por fim ela defendeu que “é necessária uma campanha séria do governo federal sobre a importância da divisão do trabalho em casa” e apresentou o saldo de 5 séculos de capitalismo para a humanidade: “218 milhões de crianças entre 5 e 17 anos trabalham em condições precárias e de alta periculosidade”; “6,4% da riqueza dos 10% mais ricos do mundo seria suficiente para duplicar a renda de 70% da população mundial”, relatou, e em seguida disparou: “se a humanidade tem futuro, este futuro será claramente socialista. Com o capitalismo, não haverá futuro, nem para ricos, nem para pobres”. Margarida concluiu de forma triunfal: “socialismo ou barbárie!”.

Trabalho invisível

Ana Rocha, uma das fundadoras da UBM, iniciou afirmando que o trabalho é fundamental para formação do ser social”. Com base na produção de Hanna Arendt, ela explicou que o trabalho privado, ao qual a mulher foi confinada, é invisível, enquanto o trabalho no espaço público é visível e valorizado socialmente. A comunista denunciou ainda a privatização dos serviços públicos, concluindo que, além de precarizar o trabalho para homens e mulheres, aumenta a exploração do trabalho gratuito das mulheres de cuidados com a casa e com a família.

Em seguida, Ana Rocha tratou dos impactos da crise econômica do capitalismo que teve seu auge em 2009 sobre o conjunto dos trabalhadores e de forma específica sobre a exploração do trabalho da mulher. Ana Rocha defendeu que as questões de gênero e etnia são eixos estruturantes da desigualdade no Brasil e defendeu que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não pode perder o olhar de gênero nas suas ações.

A debatedora esclareceu, ainda, que embora o nível de participação da mulher no mercado tenha aumentado, mas principalmente no trabalho informal e precário. Ela explica q1ue isso é consequência da manutenção da mulher como cuidadora: “as mulheres continuam responsáveis pelo cuidado, o que as leva ao trabalho informal e flexível”. A principal bandeira para garantir disponibilidade de tempo para a mulher são creches e escolas em tempo integral. “Creche e educação integral parece uma bandeira velha, mas é mais atual do que se pensa. Sem isso é balela falar em igualdade das mulheres no mercado de trabalho”, bradou Ana.

Controle social

Por fim, Ana Rocha falou sobre o papel dos movimentos de mulheres no controle social das ações de governo, como a luta pela ampliação do acesso das mulheres ao mercado formal de trabalho, crédito para empreendedoras e equipamentos sociais para ampliar tempo disponível das mulheres.

“A total superação do machismo só é possível em outro sistema. Mas o combate deve se dar desde já. Queremos reduzir hoje e já a opressão sobre as mulheres”, declarou Ana Rocha.
A presidente do PCdoB-RJ disse ainda que o aumento da renda das mulheres aumentou renda familiar brasileira, provando que a contratação de mulheres é um elemento fundamental para a redução dos índices de pobreza.

Por fim, Ana Rocha alertou para o perigo das aparências. Segundo ela, as militantes devem se perguntar qual é a ideologia do capitalismo para a época atual. “Na Segunda Guerra, o capitalismo criou condições para a mulher trabalhar fora, porque era necessário. Agora com o neoliberalismo falta emprego e o capitalismo promove a volta da mulher ao lar com novas roupagens, por meio do trabalho flexível, informal”, esclareceu e em seguida defendeu que a UBM tem o papel de cobrar do Estado e da sociedade a redução da responsabilidade da mulher sobre o cuidado como bandeira fundamental.

“Não podemos permitir que aparência de que está tudo resolvido mantenha o mal estar no espaço privado. Vamos acabar com o mal estar para que homens e mulheres sejam mais felizes”, concluiu Ana Rocha.

De Praia Grande, Luana Bonone