Livro inacabado de Saramago será lançado em 2012
No dia 18 de junho, a morte de José Saramago completa um ano e, ao longo dos últimos meses, sua viúva, a jornalista Pilar del Río, "cúmplice" do grande escritor, não deixou de trabalhar pelo "compromisso cívico" que ambos compartilhavam.
Publicado 15/06/2011 16:12
Em sua casa em Madri, Pilar del Río anunciou nesta terça-feira (14), em entrevista à Agência Efe, que em 2012 será publicado o romance que Saramago deixou inacabado e no qual trabalhava quando morreu. De acordo com a jornalista, "serão os editores" do Prêmio Nobel português que decidirão os detalhes da publicação do livro, que terá lançamento mundial.
Após publicar "Caim", o escritor começou uma nova obra sobre a indústria armamentista e o tráfico de armas, que havia intitulado "Alabardas, alabardas! Espingardas, espingardas!", um verso do poeta e dramaturgo português Gil Vicente.
Nesta semana, Pilar, que exatamente nesta terça-feira comemoraria 25 anos de relacionamento com Saramago, participará de vários atos para lembrar a figura do escritor no primeiro aniversário de sua morte.
O principal deles acontecerá no sábado, 18 de junho, em Lisboa, quando suas cinzas serão depositadas em frente ao rio Tejo e diante da sede da Fundação José Saramago, presidida por Pilar.
Segundo ela, as cinzas serão enterradas "sob as raízes de uma oliveira trazida de Azinhaga", a aldeia natal do autor. Haverá também uma lápide com a inscrição "Mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia", uma frase do livro "Memorial do Convento".
Na noite da última terça-feira, a Casa da América de Madri seria cenário da leitura dramática "Vozes de mulher na obra de Saramago", que contaria com a participarão da própria Pilar e das atrizes espanholas Aitana Sánchez Gijón, Pilar Bardem e Pastora Vega, além da dançarina de flamenco María Pagés.
Como presidente da Fundação e, "sobretudo, como cúmplice de Saramago e militante do mesmo corpo de ideias", Pilar procurou "manter e respeitar" a posição que ele defendia como cidadão e como intelectual.
"Não podemos passar a responsabilidade a outras pessoas. Não vão ser as cúpulas de poderosos que vão solucionar nossa vida e resolver nossos problemas", afirmou a viúva de Saramago, que teve que conter a emoção em vários momentos da entrevista.
"Somos nós cidadãos que devemos ter coragem, ir para a rua, gritar, desmantelar, construir. Esse era o projeto de Saramago, mas também é o meu", afirmou.
A voz de Saramago parece ser escutada na casa que o escritor e sua mulher tinham em Lanzarote, aberta ao público há três meses e que com o tempo se transformará "em uma visita obrigatória para os leitores de todo o mundo", destaca a jornalista.
Entre suas paredes "se percebe a vida de Saramago, se veem seus livros e onde escreveu os últimos romances. As pessoas saem chorando de emoção", relatou.
Fonte: EFE