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Espectro da moratória ronda o capitalismo europeu e ameaça o euro

A crise da dívida soberana na zona do euro e resultados desapontadores de indicadores econômicos nos EUA derrubaram ações e commodities em todo o mundo.

A escalada da crise política na Grécia tem forte impacto nos mercados nesta quinta-feira (15) e alimenta a sensação de que é inevitável que a zona do euro enfrente seu primeiro default (calote) da dívida.

Efeito dominó

Aumentam as preocupações de que isto possa ter um efeito dominó potencialmente desastroso para o sistema financeiro europeu, com vários especialistas fazendo uma comparação com o pânico provocado entre os investidores pelo colapso do banco Lehman Brothers em 2008.

Enquanto cresce a pressão para que os líderes da zona do euro cheguem a um acordo para um novo socorro ao país, em que os credores privados assumam parte dos custos, a agência de classificação de risco Moody's colocou o BNP Paribas, o Crédit Agricole e o Société Générale (SocGen), três dos maiores bancos franceses que detêm dívida grega, sob revisão para um possível rebaixamento. Em relatório, o Banco Central Europeu afirma que as ligações entre finanças públicas fracas e os bancos são o principal risco à estabilidade financeira da zona do euro.

Incerteza

Ao mesmo tempo que o premiê grego George Papandreou prepara uma mudança em seu governo na tentativa de obter aval do Parlamento para as medidas de austeridade, políticos europeus expressaram seu desânimo enquanto preparam o que pode ser o encontro crucial de líderes da União Europeia.

"O que mais precisamos hoje é unidade", comentou o presidente francês Nicolas Sarkozy. "Temos de deixar as lutas nacionais para trás para encontrar nosso sentimento de destino comum de novo." O apelo, algo desesperado, evidencia a percepção da gravidade do problema pelo líder da direita francesa.

Enquanto os eventos se desdobram e a incerteza cresce, especialistas estão cada vez mais convencidos de que é inevitável alguma forma de default da dívida pela Grécia. O país simplesmente não tem como gerar recursos para pagar os juros astronômicos dos débitos e recorrer uma vez mais à ajuda do FMI pode mesmo agravar a crise.

Falso socorro

Faz um ano que a Grécia recebeu o primeiro “socorro” da trinca (FMI, Banco Central Europeu e União Europeia), acompanhado da imposição de um pacote de arrocho que acentuou a recessão (o PIB declina há três anos consecutivos) e elevou o índice de desemprego para 16,2% em março (no mesmo mês de 2010 a taxa estava em 11%).

A crise social e as medidas de arrocho (corte de salários, aposentadorias, emprego e direitos, além de aumento de impostos e privatizações) despertou a revolta da classe trabalhadora, que neste ano já realizou três greves gerais, e está conduzindo o país a um claro impasse político. Trata-se de um falso socorro. O povo percebe que todos os sacrifícios requeridos pelo governo servem aos interesses dos credores estrangeiros (franceses e alemães, principalmente).

Se Papandreou não conseguir aprovação para seu plano de austeridade, a Grécia não vai obter as próximas parcelas do resgate financeiro e pode ter de renegar suas próprias obrigações da dívida.

Mais de um trilhão de euros

A fim de ajudar a Grécia, deve ser solicitada alguma forma de default. Nas últimas semanas, as principais autoridades financeiras da Europa estiveram em desacordo sobre como trazer os credores privados para compartilhar a dor, movimento que alguns especialistas consideram como default.

Um representante do Banco Central Europeu (BCE) alertou que o fundo de socorro de crise da União Europeia, inicialmente estabelecido em 750 bilhões de euros, deve ter de dobrar para 1,5 trilhão de euros se a Grécia fracassar em pagar suas dívidas, disseminando a turbulência financeira.

Autoridades europeias estão falando de mais ajuda para manter a Grécia fora de um default, mas o caos político jogou tudo na incerteza. E a incerteza afetou a confiança nos mercados no mundo.

Humores instáveis

"A conversa de dobrar o tamanho do fundo de resgate, a mudança no governo grego e a oferta de renúncia do premiê Papandreou não delineiam um cenário estável para os investidores", disse o analista de mercado da CMC Markets, Michael Hewson.

Em Paris, Sarkozy pediu que outros líderes europeus encontrem um compromisso sobre a crise da dívida da Grécia para estabilizar o euro. A crise grega deve ser um dos principais assuntos da conversa entre o dirigente francês e a chanceler alemã Angela Merkel na sexta-feira.

Sarkozy afirmou que é necessário agora o compromisso para "preservar a estabilidade da zona do euro, porque, sem a estabilidade, não é possível haver crescimento".

Crise do capitalismo europeu

O potencial de que um default da Grécia pode causar danos na França, a segunda maior economia da Europa, ficou evidente ontem, quando a Moody's alertou que três grandes bancos do país correm o risco de terem suas notas de crédito rebaixadas por causa da exposição à dívida grega.

À frente de outra rodada de reuniões de ministros das Finanças da zona do euro e líderes europeus na próxima semana, existem mais e mais comentários de que deve sair um acordo envolvendo o setor privado para dividir parte do peso do resgate e evitar o default da Grécia.

O pano de fundo da tragédia grega é a crise do capitalismo europeu, que não diz respeito apenas à Grécia. Irlanda e Portugal vivem problemas semelhantes e a Espanha parece a próxima na fila a caminho do FMI e, provavelmente, do calote da dívida. Aliás, a moratória dos débitos e a saída do euro são as alternativas sugeridas pelos movimentos das massas indignadas em Atenas e outras cidades europeias.

Da Redação, com agências