A experiência de Bangu e a esperança de ressocialização
Nesta semana, a deputada Manuela d’Ávila esteve no Rio de Janeiro. Como presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, Manuela foi ver de perto duas realidades distintas, cujas histórias se confundem. Ela visitou o complexo penitenciário de Bangu e as ações do grupo AfroReggae.
Publicado 17/06/2011 18:36 | Editado 04/03/2020 17:10

As realidades se confundem, porque se dão nos morros cariocas. De um lado temos alguns que são agentes do mundo do tráfico; do outro lado estão aqueles que trabalham pela criação de perspectivas e possibilidades concretas para que os que vivem naquele mundo o abandonem. Enquanto alguns sobrevivem com armas em punho, os outros lutam para que essas armas não sejam mais necessárias.
E foi diante dessas duas realidades que a deputada Manuela pode conhecer de perto o que pensam os principais envolvidos no que chamamos de “mundo do tráfico”. Segundo a deputada, o impacto é grande. Ver de perto o complexo penitenciário e conversar os maiores traficantes e lideranças hierárquicas do tráfico do Rio de Janeiro a fez perceber que há um espaço vazio que o Estado ainda não ocupou. Mais, Manuela pode ver na prática, que a mudança é possível, que o espaço e a vontade de mudança existem tanto na comunidade, quanto nos agentes que fazem isso hoje e, especialmente, naqueles que são os principais alvos do trabalho do AfroReggae: os presos. “Ouvi de muitos deles que a vontade de abandonar o mundo do crime é real. Contrapõe-se a isso a realidade com a qual se deparam: a sociedade não está preparada para recebê-los. Ou são perseguidos pelos que permanecem no tráfico, ou por milícias ou, ainda, pela marca que carregarão para sempre pelo que fizeram”, explicou Manuela.
Para a parlamentar, não há romantismo algum na atuação do grupo que a acompanhou nas visitas e que apresentou seu trabalho. “Há uma necessidade concreta de agirmos. O Estado hoje não cumpre esse papel. O AfroReggae provou que é possível”, disse. Na prática, o grupo já articulou, junto a empresários, mais de 1900 empregos para os ex-detentos. Nas cadeias, eles capacitam e preparam os detentos para o mercado de trabalho quando da sua saída. Nas comunidades, eles levam prevenção, arte, esporte e lazer. “A visão de mundo que temos certamente se modifica na medida em que nos deparamos não com grades, mas com a vontade de seres humanos de mudarem suas histórias. Vi isso, não apenas ouvi. As histórias que vemos nos noticiários, eu ouvi dos que as protagonizaram. Da mesma forma ouvi destes a vontade de mudar”, contou a parlamentar.
Para Manuela uma ideia ainda precisa ser combatida e durante sua visita ao Rio de Janeiro, isso se confirmou. “Dialogo constantemente com as pessoas pelo twitter. Lá manifestou-se a ideia (o senso comum) de quem acha que nós, que defendemos direitos humanos, defendemos os bandidos. A estes eu quero lembrar que para cada detento recuperado, ressocializado, temos uma arma a menos apontada para qualquer cidadão nas ruas desse país. Por isso digo que não há romantismo”, relatou Manuela.
Das visitas ao presídio, a Vigário Geral e ao Complexo do Alemão, novas ações serão realizadas.
Para ler o relato pessoal e histórias narradas pela deputada Manuela sobre personagens que encontrou, acesse o seu blog http://bolademeiaboladegude.blogspot.com/