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Estudantes chilenos rejeitam proposta de Piñera e mantêm protesto

Beijos apaixonados e simultâneos. É dessa forma que os estudantes chilenos — em protesto contra o sistema de educação do país — pretendem burlar a proibição a manifestações públicas e protestar contra o governo do presidente Sebastián Piñera.

Nesta terça-feira (05), Piñera, cuja popularidade é de somente 35%, propôs um acordo nacional que inclui um fundo de US$ 4 bilhões, em uma tentativa de acabar com os protestos que exigem maior contribuição do Estado para reduzir as dívidas dos alunos.

Piñera advertiu que "já é tempo de terminar com os protestos e retomar o caminho do diálogo e dos acordos, e propôs um Grande Acordo Nacional pela Educação (Gane), cujos principais objetivos são melhorar a qualidade, o acesso e o financiamento da educação superior".

Ao contrário do que ocorre no Brasil, onde as universidades públicas são mantidas com impostos cobrados sobre produtos consumidos por todos os brasileiros, no Chile, os estudantes pagam mensalidades nas universidades públicas e, se não podem pagar, carregam por décadas a dívida de um financiamento estudantil.

Minutos depois do anúncio em cadeia nacional, as principais entidades estudantis chilenas rejeitaram as medidas apresentadas e anunciaram que seguirão com as mobilizações. Segundo Camila Vallejo, presidente da Federação dos Estudantes da Universidade de Chile, e uma das principais líderes do movimento, as declarações do presidente marcaram um retrocesso. Segundo ela, "o que se viu foi mais do mesmo".

"Com alguns pesos a mais, não se vai respeitar a lei que proíbe o lucro nas instituições universitárias privadas, e se está atendendo mais aos interesses de uma determinada classe política que aos dos estudantes chilenos", afirmou Vallejo ao Opera Mundi.

As entidades não confirmaram se marchas como as da semana passada, que reuniram mais de 100 mil em Santiago e quase 500 mil em todo o país, voltarão a acontecer. A Intedência Metropolitana, orgão responsável pela autorização de manifestações na capital chilena, já anunciou que não permitirá novas manifestações nas proximidades do Palácio de La Moneda ou do edifício do Ministério da Educação.

Alternativas

Desafiados pelo presidente, em cadeia nacional, a atuar e reagir sem violência, os estudantes chilenos convocaram, através das redes sociais, um beijaço, que deverá ocorrer às 17h (18h de Brasília) em diferentes praças nas cidades mais importantes do país.

Ontem, antes da declaração de Piñera, cerca de 500 estudantes recriaram uma praia artificial em plena Praça de Armas de Santiago, a poucas quadras da sede do governo. A ideia surgiu de uma declaração do presidente do Sindicato dos Professores, Jaime Gajardo, que havia dito que o ministro Joaquín Lavín estava mais preocupado com suas férias do que com os problemas da educação chilena.

Durante cerca de duas horas, a praça, que é a mais movimentada do centro de Santiago, foi palco de cenas curiosas: estudantes deitados em cadeiras de praia, esteiras, jogando frescobol e tomando sorvete, apesar da temperatura em torno dos 5ºC, resultado da onda polar que afeta a região.

Além da praia artificial, outros eventos inusitados tiveram grande repercussão. Semanas atrás, na mesma praça, centenas de estudantes dançaram ao som da canção Thriller, de Michael Jackson, repetindo o que Piñera e correligionários fizeram durante a campanha presidencial. Em outra iniciativa, alguns jovens iniciaram no dia 13 de junho um revezamento que visa acumular 1800 horas de corridas ao redor do Palácio de La Moneda.

Alta aprovação

A boa repercussão dessas manifestações alternativas, somadas à também positiva repercussão das marchas tradicionais, renderam ao movimento estudantil chileno uma aprovação da cidadania como nunca antes haviam obtido.

Em pesquisa divulgada ontem pelo instituto ImaginAcción e pela Rádio Cooperativa, 81,9% dos chilenos apoiam as principais demandas dos estudantes. Além disso, 69,4% se disseram contra o uso da força pública como se viu no final da última marcha, e 80,7% opinou que o ministro da Educação, Joaquín Lavín, não tem se mostrado capaz de resolver o conflito.

Por outro lado, foi divulgada uma pesquisa do instituto CERC, que apontou uma queda de 12% na popularidade de Piñera. O apoio ao presidente foi de só 35%. Segundo o instituto, em seu histórico, essa é a menor aprovação verificado por um presidente chileno desde 1990, quando se restebeleceu a democracia no país. O nível de rejeição foi de 53%.

Fonte: Opera Mundi