Sem categoria

EUA: Programa espacial agoniza e vai pegar carona da Rússia

Na última sexta-feira (8) o mundo viu a decolagem da última missão dos ônibus espaciais americanos. A Atlantis decolou da base de Cabo Cañaveral, na Flórida, com quatro astronautas a bordo, dentre eles uma mulher, em direção à Estação Espacial Internacional. O final da missão, 13 dias depois, marcará o momento em que os Estados Unidos não terão mais lançadores espaciais.

Como sempre acontece nesse tipo de operação, não importa que país a execute, houve atraso no lançamento por conta de um pequeno problema. A nave começou sua viagem cerca de uma hora depois do horário previsto, que era às 11h26, graças a um problema que abortou a contagem de lançamento a apenas 31 segundos de seu início.

"Foi um problema num indicador eletrônico", explicou Allard Beutel, porta-voz do Centro Espacial Kennedy, que momentos antes, dizia em entrevista coletiva que a manhã daquela sexta-feira "marcava o princípio do fim de uma era".

Para a missão de 13 dias com destino à ISS, a nave levará quatro astronautas: o comandante Christopher Ferguson, o piloto Dough Hurley e os especialistas de missão Sandra Magnus e Rex Walheim.

É a menor tripulação desde 1983, porque não há ônibus espaciais de reserva para resgatá-los caso haja um problema após a viagem. A Nasa informou na noite desta segunda que prorrogou a missão por mais um dia.

A Atlantis leva 3,7 toneladas de alimentos e equipamentos para a ISS, o que representa um fornecimento de um ano para a tripulação permanente da estação orbital.

Os três ônibus espaciais restantes, de uma frota inicial de seis – o protótipo Entreprise nunca voou, e dois outros se perderam em tragédias, como o Challenger, em 1986, e o Columbia, em 2003, causando a morte de 14 pessoas 150 vão fazer parte do acervo de museus.

Estagnação até 2015

Durante pelo menos quatro anos, após a aterrisagem da Atlantis, a Nasa vai ter de recorrer à generosa carona dos russos, com suas "antigas" naves Soyúz (União, em russo).

A retirada de circulação dos ônibus espaciais é motivo de nostalgia e tristeza para muitos, sobretudo na área próxima ao Centro Espacial Kennedy, a chamada "Costa Espacial".

Elogiado pela mídia ocidental, cantado em prosa e verso pelos meios de comunicação do ocidente, o poderoso programa espacial americano, cuja maior vitória – e talvez única, pois viu os soviéticos anteciparem todas as ações – foi ter levado seres humanos ao satélite natural da Terra, sucumbe sem verbas.

Com o fim dele serão demitidos nada menos que 27 mil trabalhadores. "É como perder um ser querido", comentou recentemente Marcia Gaedcke, presidente da Câmara de Comércio de Titusville, uma cidade de 45.000 habitantes que fica ali perto e perderá 40% dos empregos.

"Não temos ideia do que será o futuro do programa espacial. É totalmente desconhecido", lamentou Garry Broughton, engenheiro da United Space Alliance, uma empresa terceirizada pela Nasa. "As pessoas são dispensadas todos os dias", reclamou.

Broughton é mais um dos trabalhadores que ficará sem emprego, depois de 32 anos de trabalho ininterrupto no programa espacial americano. Lamentações também são ouvidas por parte dos astronautas. "É muito difícil", admitiu Steve Robinson, em entrevista à agência AFP.

China passa EUA

Não foi só o programa espacial soviético que esteve à frente do americano. Os chineses já realizaram essa proeza, há cerca de quatro anos, quando até mesmo a mídia ocidental marcou o avanço do programa espacial chinês sobre o americano, em outubro de 2007.

A própria CNN, emissora de televisão americana que pode ser considerada uma das vozes "oficiais" do país, reconheceu naquele ano que o programa espacial chinês estava mais avançado do que os EUA para uma possível volta à Lua.

"Eu acredito que a China voltará à Lua antes de nós", disse na época o então o administrador da Nasa, Michael Griffin, durante uma palestra em Washington.

"Acho que quando isso acontecer os americanos não vão gostar", lamentava.

"A sinceridade de Griffin assustou a comunidade espacial, mas muitos concordaram com a realidade. A China já lançou dois vôos espaciais e está ansiosa para pisar na Lua", assinalava a reportagem da TV a cabo americana.

Segundo a CNN, a Nasa tinha planos de chegar à Lua novamente em 2020. Os planos estão atualmente congelados por falta de verba. Enquanto isso, a China promete lançar um satélite artificial para a Lua em 2017.

"Poderíamos chegar à Lua antes dos chineses, mas não temos a força de vontade dos políticos. Sendo assim, não temos verbas" lamentava, em 2007, Griffin.

Da redação, com agências