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A troika joga mais 109 bilhões de euros no ralo da dívida grega

Os líderes da União Europeia fecharam um acordo para um segundo resgate à Grécia que incluirá a participação do setor privado, de acordo com informações divulgadas nesta quinta-feira, 21, pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy.

O novo pacote será no valor de 109 bilhões de euros. O setor privado promete contribuir com 37 bilhões de euros.

Em pouco mais de um ano este é o segundo pacote de “resgate” destinado à Grécia. Estima-se que o primeiro, aprovado em maio de 2010, já queimou 160 bilhões de euros. Era para resolver a crise, mas não resolveu. As coisas pioraram, a dívida cresceu no rastro da recessão e hoje equivale a mais de 150% do PIB, o desemprego pulou de 11% para 16%, a luta de classes ganhou as ruas e no ano passado foram realizadas em torno de 15 greves gerais.

Salvando os bancos

O novo pacote tampouco vai solucionar a crise da dívida, contraída principalmente junto a bancos alemães e franceses. A razão é simples. O dinheiro novo teoricamente destinado à Grécia na prática nem chega àquele país. Vai direto para o bolso dos banqueiros, em pagamento dos juros.

Ao mesmo tempo, a suposta ajuda é acompanhada de condicionalidades amargas para a sociedade grega, impostas pela chamada troika (FMI, Banco Central Europeu e cúpula da União Europeia). São cortes profundos nos gastos públicos, salários, direitos e empregos da classe trabalhadora. Uma receita que, em certa medida, já conhecemos (foi aplicada por aqui nos anos 1980 e 1990 durante a crise da dívida externa) e cujo principal resultado é a depressão econômica. A nação helênica padece há 3 anos de recessão.

Sacrificando os trabalhadores

Com isto, embora a notícia possa trazer alívio imediato aos mercados de capitais (é o que se verá, ou não, nos próximos dias) não significa o fim da crise econômica na região. Os conflitos sociais, que já emergiram com força, tendem à radicalização na medida em que o pacote da troika for produzindo seus dramáticos efeitos.

A participação de bancos privados no socorro financeiro ao país europeu é considerado como uma forma de calote, mesmo que parcial, pelas agências de classificação de risco.

Diante das críticas das agências de classificação de risco nos últimos meses, Sarkozy prometeu que a França e a Alemanha pretendem avançar na criação de uma agência de classificação europeia.

Calote disfarçado

No início da reunião, diversas opções estavam sobre a mesa. Uma das propostas era permitir que a Grécia entre em um "default temporário". A troika promete flexibilizar as condições de empréstimo ao país. As taxas de juros, por exemplo, serão reduzidas de 4,5% para 3,5% ao ano. O prazo de pagamento também será alongado, de 7,5 anos para 15 anos.

Portugal e Irlanda, outros países que receberam ajuda da União Europeia e do FMI (Fundo Monetário Internacional), também serão beneficiados com o alívio nas condições da ajuda.

Explosão de déficits fiscais

A chamada crise da dívida europeia foi um desdobramento natural e lógico da crise econômica exportada pelos EUA a partir de 2008. Os Estados derramaram trilhões de dólares na economia com o objetivo de salvar o sistema financeiro. Para os bancos, foi uma benção, mas o efeito colateral não demorou a dar as caras através da explosão dos déficits fiscais.

Isto ocorreu também nos Estados Unidos, cuja dívida pública ultrapassou o teto estabelecido pelo Congresso (US$ 14,29 bilhões), o que pode culminar em moratória se o governo e os parlamentares não chegarem a um acordo sobre o aumento do limite dos débitos e o que fazer para conter o déficit.

Dívida impagável

Na Europa ocidental, a crise sacrificou principalmente os países mais pobres. Aqueles que já tinham gastos públicos elevados viram a dívida estourar, junto com as taxas de juros. A bola de neve levou países como Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha a incorrer em déficits públicos recordes. A dívida se tornou impagável.

A Grécia, uma das mais afetadas pela crise, já recebeu em 2010 um pacote de US$ 160 bilhões da União Europeia e do FMI. O país não conseguiu cumprir as metas fiscais irrealistas previstas.

O governo prometeu à troika impor aos trabalhadores um amplo pacote de medidas de austeridade, que prevê uma economia de até € 28 bilhões (R$ 63 bilhões) aos cofres públicos por meio de cortes de gastos e aumento de impostos até 2015. O plano, aprovado por escassa maioria no Parlamento, é guiado pelo objetivo de garantir o pagamento de juros aos credores.

Portugal e Irlanda

Os líderes da zona do euro deixaram claro que as condições do pacote para o segundo resgate à Grécia não serão aplicadas aos outros países, o que inclui Irlanda e Portugal.

As condições de pagamento de Portugal e Irlanda também serão aliviadas – os empréstimos serão alongados e as taxas de juros reduzidas -, mas os dirigentes descartaram a participação do setor privado no resgate a esses países.

Da Redação, Umberto Martins, com agências