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Metalúrgicos de todo o país se unem contra a desindustrialização

Às vésperas do lançamento do Plano de Desenvolvimento de Competitividade – que pretende incentivar a política industrial brasileira –, trabalhadores metalúrgicos de todo o país se unem em defesa de uma ampla pauta de reivindicações. Em reunião realizada nesta segunda-feira (25), em São Bernardo do Campo, entidades da categoria lançaram um manifesto que, entre outros pontos, visa a “defender, estimular e valorizar a produção nacional”.

Por André Cintra

O alerta soa mais alto num momento em que a economia brasileira – destacadamente a indústria automotiva – apresenta indícios concretos de desindustrialização. A política cambial do governo Dilma, marcada pela sobrevalorização do real, acaba por estimular a importação de produtos industrializados e enfraquecer a indústria nacional.

A presença cada vez maior de automóveis importados no mercado brasileiro afeta não apenas o parque fabril – mas também o mercado de trabalho. De acordo com dados do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, cerca de 103 mil empregos diretos deixaram de ser gerados apenas em 2010 devido à escalada de importações.

Há 18 dias, cerca de 30 mil metalúrgicos de grandes montadoras ocuparam a Via Anchieta, em São Bernardo. Foi a primeira vez na história que uma manifestação foi organizada conjuntamente pelos sindicatos dos metalúrgicos do ABC, ligado à CUT, e de São Paulo, vinculado à Força.

Já a reunião desta segunda-feira agregou o apoio de mais uma central sindical – a CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil). A nova plataforma de lutas foi aprovada pelas principais entidades metalúrgicas dessas que são as três maiores centrais sindicais brasileiras – a Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM, vinculada à CUT), a Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM, ligada à Força) e a Federação Interestadual dos Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (FIT-Metal, da CTB).

O manifesto dos metalúrgicos parte de cinco pressupostos:

1) Em 2 de agosto, o governo Dilma divulgará o Plano de Desenvolvimento de Competitividade (PDC), sem ter ouvido em nenhum momento os trabalhadores;

2) O setor é estratégico, já que “no Brasil o desenvolvimento industrial foi responsável pela integração de grande parte da população ao consumo, a ampliação da classe média, a urbanização e o crescimento dos demais setores econômicos”;

3) A garantia de “de alto padrão de vida e pleno acesso a bens e serviços” aos cidadãos depende de “uma indústria sólida, diversificada e com alto grau de inserção nos mercados internacionais”;

4) A desindustrialização é uma realidade no país, haja vista “a redução da participação da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB)”;

5) O “aumento generalizado das importações” põe em xeque “a manutenção do emprego e da indústria nacional”.
 

É sob esse contexto que os presidentes da CNM, Paulo Cayres, da CNTM, Mônica Veloso, e da FIT-Metal, Marcelino da Rocha, cobram do governo a criação de um “fórum de negociação tripartite e permanente”. A esse fórum caberá “a elaboração de medidas de fortalecimento da indústria e do emprego”, nos marcos do Plano de Desenvolvimento de Competitividade.

De acordo com as entidades, a formulação da política industrial do governo Dilma deve incluir a participação dos trabalhadores, visar ao “emprego bem remunerado e de qualidade”, com estímulo à produção nacional e fortalecimento de uma indústria moderna.

“Não temos uma política industrial definida nem por 30 dias”, resumiu Marcelino da Rocha, à Rede Brasil Atual. As três maiores centrais sindicais superaram suas diferenças e chegaram a uma boa pauta para negociação. Agora, com a palavra, a presidente Dilma Rousseff.