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Terrorismo na Noruega reflete vitória do imperialismo

O fascismo anti-imigração, islamofóbico e que vem se propagando pela Europa nos últimos 20 anos teve início, não por coincidência, com o fim da União Soviética e a comunidade socialista. A Caixa de Pandora foi aberta a partir da queda do Muro de Berlim e após as contrarrevoluções que varreram o pouco que restava de socialismo na Europa Oriental, combalido pelo revisionismo, na reinstalação do capitalismo.

Por Humberto Alencar

O atentado terrorista realizado pelo norueguês Anders Behring Breivik na semana passada abre uma discussão que a imprensa procura abordar pelo aspecto menos lógico. Fala-se que Breivik "é louco" ou que é um norueguês "orgulhoso de suas raízes vikings". Tergiversação para ocultar uma dinâmica social e política que tem sido praticada na Europa há 20 anos.

"Breivik certamente está sozinho em seu extremismo, em seus crimes. Mas é interessante ver que tudo ocorreu em um contexto sociopolítico, que não foi um massacre como outro qualquer, ele não saiu do nada", opina a norueguesa Kari Helene Partapuoli, diretora do Centro Antirracista de Oslo.

Para ela, o Partido do Progresso (a direita populista) norueguês "foi muito bem sucedido em orientar o debate público", incluindo a rejeição aos muçulmanos e aos estrangeiros, lembra ela.

Essa orientação foi facilitada pelas guerras de agressão que o imperialismo impôs ao mundo, já que derrotara seu principal inimigo e podia agir com liberdade. Foi o que aconteceu na dissolução da União Soviética, quando mais de um milhão de pessoas deixaram o país no rumo da Europa e dos Estados Unidos à procura de emprego, e também da Iugoslávia, cuja guerra, além de matar quase um milhão de pessoas, ampliou de forma vertiginosa a migração para outros países europeus. Migração anotada pela mídia por ter deslocado pessoas de religião "alienígena" às praticadas na Europa cristã.

Outros acontecimentos que deflagaram migrações foram a invasão e ocupação do Afeganistão e do Iraque, além de dezenas de conflitos na África e na Ásia, em seguida à derrocada do sistema socialista.

Um dos exemplos de países onde a direita se aproveitou da imigração é a Suécia, na Escandinávia, que recebeu mais refugiados iraquianos após a ocupação de 2003 do que todos os grandes países da Europa juntos, segundo a Autoridade de Migrações.

Nos países escandinavos, atualmente a proporção de pessoas nascidas no exterior superou os 10% na Suécia e na Noruega e se situa em torno de 8% na Dinamarca, percentuais que chegam a 27% em Oslo e passam dos 80% em alguns bairros dos subúrbios suecos, segundo estimativas oficiais.

As políticas sociais adotadas na Europa, na esteira da onda neoliberal, ajudou a por um fim aos Estados de Bem Estar social, que serviam como almofada para conter ânimos revolucionários dos operários. Com o desmonte desse aparato de Bem Estar criado nos anos posteriores à Segunda Guerra, a direita usou a oportunidade para marcar terreno.

A direita ressurgiu na Europa, principalmente nos países bálticos (Letônia, Estônia e Lituânia), na Hungria, na Áustria, na Tchéquia, Eslováquia, na França, no Reino Unido, na Polônia, na Holanda, com intensidade diferente mas absolutamente iguais no anticomunismo assumido. Parlamentos dominados por essas forças aprovaram leis anticomunistas por toda a Europa. Partidos e associações comunistas e operários foram proibidos em várias dessas nações.

Nos países escandinavos não foi muito diferente. Iniciado na Dinamarca no fim dos anos 90, o desenvolvimento da direita populista anti-imigração parece ter tido muitas consequências.

"Mas o sentimento xenófobo não cresceu, pelo contrário, ele até diminuiu. É mais o caso de uma utilização política hábil que foi feita", considera Ulf Bjereld, cientista político da Universidade de Gotemburgo.

O Partido do Progresso da Noruega, do qual Anders Behring Breivik foi membro por vários anos antes de deixá-lo porque parecia considerar suas propostas moderadas demais, tornou-se o segundo maior partido do país, com 23% dos votos nas últimas eleições. Seu líder, Siv Jensen, fez da "islamização crescente" um de seus cavalos de batalha.

Na Dinamarca, o governo minoritário conservador baseia-se desde 2001 em sua aliança parlamentar com o Partido do Povo Dinamarquês (PPD), em posição ideal para impor suas ideias, como o restabelecimento de controles aduaneiros permanentes nas fronteiras.

Os Democratas da Suécia (com o slogan: "manter a Suécia sueca") entraram no Parlamento em setembro, provocando um terremoto político que se repetiu sete meses depois na Finlândia quando os nacionalistas "Verdadeiros Finlandeses" conquistaram 19% dos votos.

O papel da mídia nesse processo é fundamental. Por meio de jornais que pertencem aos grandes magnatas da comunicação na Europa – e no mundo, como Rupert Murdoch – as ideias xenófobas se propagaram como fogo em mato seco. O racismo ressurgiu com força em países nos quais havia sido banido, como a ex-União Soviética.

A barbárie que o terrorista norueguês cometeu em seu país é um reflexo das ações do imperialismo e do capital. Dominada pelo sistema financeiro, a Europa vê Grécia, Itália, Portugal, Espanha e Irlanda sucumbirem com dívidas fenomenais, provocadas principalmente pela especulação financeira.

A Irlanda deve 114% do seu PIB e a Grécia, 152%. Portugal e Espanha também agonizam com 90% e 63% do PIB a pagar, respectivamente. Dívidas baseadas em anos de crédito fácil e fomentadas pela especulação financeira. Hoje, elas forçam cortes em receitas sociais e provocam desemprego (na Espanha é de 20%).

A "austeridade", imposta pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) aos povos e aos trabalhadores eurupeus como condição a empréstimos bilionários a esses países, para que seus governos paguem aos bancos, é mais um combustível para a direita avançar, em um período em que a esquerda ainda tenta reunir forças.

Com agências