Nova Marginal fica sem verde, tecnologia e acessibilidade

Após quase dois anos de obras, o complexo da Nova Marginal do Tietê foi concluído ontem com a inauguração da Ponte Estaiada Governador Orestes Quércia, mas sem a tecnologia prometida. A construção também não respeita todas as exigências ambientais previstas, como deixar a via mais verde ou melhorar a vida de quem anda ali a pé ou de bicicleta. Mesmo assim, o investimento na Nova Marginal já chega a R$ 1,75 bilhão, 75% a mais do que o orçado inicialmente.

Ponte Estaiada Marginal Tietê

O projeto foi lançado em junho de 2009 pelo então governador José Serra (PSDB). Previa a entrega das pistas em março de 2010 e a inauguração de cinco novas pontes e viadutos até outubro – ou seja, houve um atraso de 10 meses.

Outras promessas ficaram no papel. Uma delas era transformar a Marginal do Tietê em uma via altamente tecnológica, com a criação de "sistema inteligente" de controle de tráfego. Seria possível restringir a entrada em 16 pontos em caso de congestionamento ou enchente. Um edital chegou a ser lançado para a contratação do serviço de câmeras, radares e painéis, mas o projeto de R$ 100 milhões está parado desde o fim do ano passado.

"O monitoramento está sendo discutido com o Município e ainda não há decisão de quem fará o aporte de recursos. Logo se defina, será realizado", disse Laurence Casagrande Lourenço, presidente da Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), empresa responsável pela obra.

O projeto também desrespeita exigências feitas pelo Município para a obtenção da licença de instalação, como a criação de barreiras acústicas para diminuir o ruído perto de escolas, hospitais e residências. "Não dá nem para conversar. Antes, tinha um recuo e os ônibus passavam a três pistas daqui. Agora, andam quase em cima da gente", disse a secretária Paula Marques, que trabalha em uma escola de alunos especiais perto da Ponte Jânio Quadros, na Vila Maria. A grade do parquinho da Emei Prof. Pedro Álvares Cabral de Moraes, na Vila Guilherme, fica a menos de 2 metros da pista.

Medições

A Dersa afirma ter feito medições de ruído na via para decidir que não havia necessidade das barreiras – o tráfego aumentou em 30 mil veículos por dia, de acordo com medição de 2010. A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (responsável pela emissão da Licença de Operação, ainda não cedida) afirma que está analisando os relatórios. Também não saíram do papel ações para melhorar o acesso de pedestres e ciclistas.

15 mil árvores não foram plantadas

Realidade contradiz projeto de 2009, que previa grande vegetação na Nova Marginal

A propaganda apresentada pelo governo no lançamento da Nova Marginal, em 2009, indicava que a via não ganharia apenas pistas e pontes. Ela também ficaria mais arborizada e teria vasta vegetação nos canteiros entre as pistas. Bem diferente do cenário atual: até agora, mais de 15 mil árvores previstas na compensação ambiental ainda não foram plantadas e muitas das novas mudas são apenas galhos secos.

Ao todo, o governo do Estado deveria garantir o plantio de 83 mil mudas – ao longo da Marginal, nas áreas das subprefeituras cortadas pela via e também em uma estrada-parque nas várzeas do Tietê. O custo da compensação é de R$ 182 milhões. A Dersa, responsável pela obra, afirma que 67,5 mil já foram plantadas.

No entanto, mais ou menos 13 mil mudas morreram, o que representa quase 20%. Ao longo da via, nos canteiros, é possível ver muitas árvores que não vingaram. Essa situação é verificada desde o início da obra, em 2009, e ambientalistas chegaram a apontar que o plantio não estava respeitando a "cura" – período de um cuidado maior com as mudas para que vingassem.

"É a comprovação das suspeitas que todos tinham antes da obra: o que interessa é inaugurar rapidamente e todo o restante previsto acaba virando firula", disse o urbanista e professor da Universidade de São Paulo (USP) João Sette Whitaker Ferreira. Ele acrescenta que as compensações e intervenções não diretamente ligadas ao funcionamento da obra não são tratadas com a devida seriedade. "São coisas trabalhosas, que não têm retorno de publicidade imediato. Por isso, caem no esquecimento depois da inauguração."

A compensação ambiental é parte importante ainda das exigências feitas pelas autoridades ambientais para obras de grande porte. No caso da Marginal, a Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente é quem fez a avaliação do estudo e do relatório da Dersa e emitiu as exigências para a obtenção das licenças ambientais. A última é a licença de operação – teoricamente, um empreendimento não poderia começar a funcionar sem esse documento. A pasta informou que essa licença só será emitida após a conclusão das obras e atendimento de todas as exigências.

Pedestres

As exigências para que a Dersa conseguisse licenças para a obra também previam projetos para melhorar acesso de ciclistas e pedestres, principalmente às pontes, além de melhora das calçadas. A realidade mostra que os pedestres precisam se aventurar na Nova Marginal e não há previsão de melhoria – ainda que haja pontos de ônibus em algumas alças de pontes.

"Quanto à questão das travessias para pedestres e bicicletas, que deverão ser implementadas na Freguesia do Ó, Santos Dumont, Casa Verde e junto ao Parque Villa-Lobos, o empreendedor ainda não apresentou os projetos", informou a Secretaria do Verde.

Fonte: O Estado de São Paulo