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Centrais aceitam debater política industrial, mas não vão a ato

Na sexta-feira (29), cinco das seis centrais sindicais do país recusaram convite para participar do ato de lançamento da nova política industrial brasileira, marcado para esta terça-feira (2). As centrais argumentaram não ter participado do debate. Em resposta, o governo federal convocou uma reunião das centrais com ministros para debater o tema nesta segunda (1º). Os sindicalistas participaram da reunião, mas mantêm a posição de não participar do ato desta terça.

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O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Wagner Gomes, acredita que a reunião das centrais com o governo é fruto da pressão das centrais para participar do debate sobre a política industrial brasileira. “Na maioria das reuniões o governo chama as centrais, anuncia o que vai fazer e pronto. Vamos como convidados, apenas para aplaudir. Na nota publicada na semana passada afirmamos que não iríamos por conta disso. O que mudou? A presidente resolveu chamar as centrais antes, para uma reunião com o ministro, ele ouvirá as centrais e vai dizer o que pretende, e amanhã será o lançamento. A depender do resultado da reunião de hoje, as centrais participam ou não do ato de amanhã. Não iremos mais apenas como convidados, queremos opinar”, afirma Wagner.

O vice-presidente da CTB, Nivaldo Santana, participou da reunião com os ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência da República),Guido Mantega (Fazenda), Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia)e  Garibaldi Alves (Previdência Social), além do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Representantes das outras cinco centais sindicais e os sindicatos dos metalúrgicos do ABC e de São Paulo também estiveram presentes.

O governo apresentou a sua política industrial, cujos objetivos, explica Nivaldo, são: reduzir custos da indústria nacional, ampliar crédito e diminuir impostos, para dar maior competitividade à indústria brasileira e reverter o quadro de desindustrialização em curso no país. Entretanto, o sindicalista afirma que as seis centrais sindicais não participarão do lançamento marcado para esta terça-feira (2) por não terem participado da construção da proposta. 

"Não participaremos do ato porque fomos comunicados na véspera a respeito da proposta, não participamos do processo de construção da proposta", afirmou Nivaldo. Ele disse, aidna, que as centrais defenderam que o governo crie fóruns para debater o combate à desindustrialização com a participação dos trabalhadores, além do próprio governo e o setor industrial.

Resposta positiva

Em que pese a recusa em comparecer ao lançamento, as centrais consideram que a reunião desta segunda (1º) deixou claro que a resposta do governo à desindustrialização é "positiva", como avalia Nivaldo Santana.

Segundo o representante da CTB, a nova política industrial prevê ao menos sete conjuntos de medidas, válidas até dezembro de 2012, para enfrentar os efeitos da crise causada pelo aumento de importações e retração da indústria.

As medidas anunciadas pelo governo na reunião com as centrais são: desoneração da folha de pagamento da área da previdência em setores intensivos do uso da mão-de-obra – o governo afirma que o Tesouro cobrirá eventuais perdas da previdência; financiamento de inovação tecnológica para empresas que produzem no Brasil; combate às importações predatórias e fraudulentas; uso das compras governamentais para adquirir apenas produtos nacionais; ampliar crédito para micro e pequenas empresas; reforço do conteúdo nacional da indústria para evitar esvaziamento das cadeias produtivas; e novas medidas na área cambial.

Um documento conjunto de confederações de metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical e Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) com propostas para o fortalecimento da produção nacional e geração de empregos de qualidade já havia sido encaminhado ao governo antes mesmo da reunião.

Importação e desemprego

Segundo o deputado federal Paulo Pereira, o Paulinho (PDT-SP), presidente da Força Sindical, a importação de produtos está causando desemprego na indústria brasileira e essa é uma das preocupações que será manifestada nesta terça-feira (1º), durante a reunião na qual será apresentada a Política de Desenvolvimento da Competitividade (PDC), no Palácio do Planalto.
“Só no ano passado, a indústria perdeu 58 mil empregos [por causa da competição com os importados]. Essa questão [da importação] é muito grave e queremos que o governo enfrente isso”, disse Paulinho.

Segundo Paulinho, medidas como a desoneração de impostos e as relacionadas ao câmbio não são suficientes para conter o aumento da importação. “O governo poderia adotar um índice de nacionalização de produtos, de 70%”, assinalou. “Assim, uma televisão, por exemplo, teria que ter 70% de componentes nacionais e um carro, 70% das peças produzidas no Brasil.”

Há muito tempo

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, vinculado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Nobre, disse que os sindicatos estão pedindo essa reunião há muito tempo para que possam não só conhecer a política, mas também debater seus pontos com o governo. Sua opinião é coincidente com a do presidente da Força Sindical: “Nossa principal preocupação é com os produtos importados, que vem prejudicando o emprego no país. No ano passado, foram importados 700 mil veículos que, se fossem produzidos aqui no Brasil, poderiam ter gerados 105 mil empregos.”

Os sindicatos também se preocupam com a questão da desindustrialização, acrescentou Nobre. “Nossa indústria está virando uma indústria de bugigangas, e queremos fazer produtos de qualidade”.

Da redação, Luana Bonone, com informações da Agência Brasil e DCI