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Sindicalistas condenam associação de jornada menor a "preguiça"

Representantes das centrais sindicais reagiram em audiência pública realizada nesta segunda-feira (1º ), no Senado, contra a difusão de comentários que buscam desqualificar com argumentos morais a redução da carga de trabalho semanal, de 44 para 40 horas, considerada como solução para a criação de mais de dois milhões de novos postos de trabalho no país. Os sindicalistas citaram a tática de associar a antiga reivindicação a comportamento de indolência ou aversão ao trabalho.

De acordo com o diretor-executivo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Antônio Lisboa, isso é parte de visão ideológica arraigada e manipulada com força no passado contra a abolição da escravatura.

Durante a escravidão, salientou ainda Lisboa, havia também o argumento de que o país iria quebrar se os escravos fossem libertados. Hoje, afirmou, os opositores da jornada de 40 horas apelam para semelhante argumento ao dizer que as empresas do país não vão suportar os impactos da redução da carga de trabalho.

O sindicalista citou o caso de um deputado que, em pronunciamento, afirmou que a redução da jornada só serviria para o trabalhador ter mais tempo para frequentar bares e beber. “O deputado esqueceu que um trabalhador tem direito, como qualquer cidadão que paga imposto, de ir aonde quiser”, disse Lisboa.

Motivos técnicos

“Há motivos técnicos para querermos reduzir a jornada e não porque sejamos preguiçosos e não queiramos trabalhar”, disse Tadeu Moraes, vice-presidente da Força Sindical, acrescentando, a favor da redução da jornada de 40 horas, a importância de mais tempo para os trabalhadores dedicarem a atividades de capacitação, família e lazer, além da abertura de novos postos de trabalho.

O tema já vem sendo discutido pelo Congresso há 15 anos, por meio de Proposta de Emenda à Constituição de autoria do então deputado e agora senador Inácio Arruda (PCdoB-CE). O senador Paulo Paim (PT-RS), que preside a Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, que promoveu a audiência pública, foi um dos subscritores da PEC. Eleito senador, Paim também apresentou à Casa proposta com o mesmo objetivo.

Paim observou que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) indicou a redução da carga semanal para 40 horas desde 1995. No Brasil, a jornada atual de 44 horas foi fixada pela Constituição de 1988. Antes, o teto era 48 horas.

Fonte: Agência Senado