Dilma apoia minha pré-candidatura à Prefeitura de SP, diz Haddad
Ministro da Educação desde o primeiro governo Lula, Fernando Haddad (PT) assumiu de vez sua pré-candidatura à sucessão de Gilberto Kassab (PSD) na Prefeitura de São Paulo.
Publicado 04/08/2011 11:12
Em entrevista ao Valor Econômico, o petista evitou o embate com próprio Kassab e disse que sua pré-candidatura, lançada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem o respaldo também da presidente Dilma Rousseff. “Conversei ontem com a presidente e ela falou com entusiasmo da ideia.”
Confira trechos da entrevista.
Valor: O sr. pretende se candidatar à Prefeitura de São Paulo?
Fernando Haddad: Estou há sete anos e meio no Ministério da Educação — seis anos como ministro. Estou muito confortável no ministério, gosto do que faço. Agora está havendo um debate, que está sendo patrocinado por lideranças importantes, a começar do presidente Lula, da própria presidente Dilma. Ela tem muito interesse no tema.
São Paulo é uma cidade importante e o estado nunca foi governado pelo PT — o que leva o partido a redobrar o interesse na disputa. A cidade já foi governada duas vezes pelo PT — e tanto a gestão da prefeita [Luiza] Erundina quanto da prefeita Marta [Suplicy] foram administrações comprometidas com determinados princípios de equidade, de melhoria das condições de vida dos mais necessitados. Há uma experiência que se busca recuperar e aprimorar.
Nesse contexto, é natural que alguém que tenha ficado tanto tempo à frente do ministério discuta isso. E há efetivamente, por parte de algumas pessoas, entusiasmo para que o PT lance um nome novo.
Valor: O sr. falou com a presidente Dilma sobre a candidatura?
Haddad: Conversei com ela ontem [terça-feira] e ela falou com entusiasmo da ideia. Mas a conversa não é no tom do "vai ser assim". Não funciona assim. Estamos considerando a possibilidade.
Valor: Ao falar com Dilma, o sr. já começou a traçar seu sucessor no ministério?
Haddad: Não, foi uma conversa rápida, no sentido de [a pré-candidatura] ser uma possibilidade que o PT deveria explorar.
Valor: E como foram as conversas com Lula?
Haddad: Falei duas vezes com o presidente Lula, em fevereiro e em evento em Goiânia [Congresso da UNE, em 14 de julho]. O presidente me chamou e falou: “Fernando, você tem um legado no Ministério da Educação, tem o respeito dos companheiros pelo trabalho que realizou, tem uma agenda muito afinada com o ideário que o PT sempre defendeu e eu vou defender seu nome para disputar um cargo eletivo. Como é que você vê isso?”.
Eu respondi: “Vejo com naturalidade, presidente”. Só que tenho minhas tarefas no ministério, tenho pouco tempo na agenda para me envolver na disputa. A minha militância se dá em outra arena, na produção intelectual, na reflexão. Eu sempre pertenci a um grupo de militantes que não se engajou na máquina, mas sempre se colocou à disposição do partido para fazer discussões. Era um grupo coordenado pelo Paulo Vanucchi, com Marilena Chauí, Paul Singer, do Antonio Candido e os mais jovens, entre os quais eu figurava. Era um grupo de professores da USP, alguns da Unicamp, de São Carlos…
Valor: O sr. sempre coloca sua candidatura como um pedido de Lula. O sr. não tinha interesse?
Haddad: Minha posição é de interesse no assunto, senão teria dito não. Estimulado pelo presidente Lula, o assunto me interessou. Não sei se partiria de mim a iniciativa de me apresentar ao partido e dizer: “Sou pré-candidato à prefeitura”, se não houvesse uma manifestação. Isso faz diferença: você se apresentar, colocar seu nome à disposição, e ter sido sondado por pessoas dessa envergadura.
Valor: O sr. não teme a resistência do PT por ter sido indicado pelo presidente Lula?
Haddad: Isso não existe, ainda mais no PT de São Paulo. Ali tem uma cultura política muito forte. A opinião dele [Lula] pesa. Pesou para mim.
Valor: O sr. não teme a prévia, já que tem uma militância menor, ligada a um grupo de intelectuais?
Haddad: Não tenho projeto pessoal. Não vim para o MEC por um projeto pessoal, de ser ministro da Educação. Avalio o que é melhor para o coletivo. Então, se o partido entender que a estratégia interessante para ganhar as eleições é lançar um nome novo, com experiência administrativa, lançará um. Se entender que quer um candidato que tenha recall, que já tenha participado de outras eleições majoritárias, há outros [nomes]. Ou seja, vai depender muito da estratégia do PT, do perfil adequado [do candidato].
Se todos os interessados tiverem essa mesma predisposição para o debate, pode ser que as prévias sejam desnecessárias. Com que time entraremos em campo? Se você faz um debate amadurecido, em que as ambições pessoais sejam pouco importantes diante da ambição maior de levar um projeto à frente, a prévia pode ser completamente desnecessária.
Valor: O sr. participa da vida partidária, das eleições internas, congressos?
Haddad: Não. Tem um grupo de pessoas — e é muito comum no PT — que têm um perfil muito parecido com o meu: sempre estiveram disponíveis, quando chamados atenderam ao pedido, sempre se prestaram a discutir, estudaram temáticas relativas ao Estado, à participação política. Tem um perfil de petistas no qual eu me enquadro.
O novo dessa história é uma pessoa desse núcleo ser considerada. Mas é um grupo muito mais comum do que se imagina de professores universitários que militaram pelo PT exatamente na medida em que eu militei. Em muitos partidos ocorre o mesmo. Pessoas que estudam, trabalham, têm seus afazeres, mas estão disponíveis, dedicados a um projeto, a uma causa.
Valor: Há petistas que comparam sua pré-candidatura com a de Dilma…
Haddad: Vejo um processo no qual os interessados vão auxiliar o PT na escolha de um nome, fruto de uma estratégia. No caso da presidente Dilma, nós todos, que fizemos parte do governo, chegamos à mesma conclusão. Não era nem caso de pré-candidatura, dado o cenário, a contribuição que ela tinha dado ao governo Lula, a posição que ocupava naquele momento. Chegou-se a conclusão de que ela era o melhor nome para representar o projeto. Mesmo que mais de uma pessoa ofereça seu nome como alternativa, não significa que as prévias precisam se realizar.
Valor: Como o sr. pretende conquistar o PT?
Haddad: O partido é bom de conversas e a melhor tradição que tem é gostar de conversar. Você chama um petista para conversar e ele topa. Essa é a diferença inclusive para os demais partidos. A cultura interna do PT valoriza demais o debate.
Valor: Não é por isso que a possibilidade de não haver prévias gerou polêmica?
Haddad: Pode ser que o partido conclua que não seja o caso de prévia, mesmo havendo dois, três, quatro, cinco pessoas disponíveis, interessadas, engajadas. Essas pessoas podem chegar à conclusão de que vamos defender o nome do fulano. Acredito muito na capacidade de chegar a uma conclusão e acho que nenhum dos interessados se sentirá derrotado, sobretudo se formos vitoriosos na eleição.
Valor: Além de Dilma e Lula, com quem o senhor conversou no PT? O presidente do PT municipal, por exemplo, reclama que o senhor nunca o procurou para conversar.
Haddad: Tenho conversado. Vou falar com ele no sábado.
Valor: Qual sua visão sobre a cidade?
Haddad: Participei da administração da Marta e pudemos fazer coisas interessantes na cidade. Acredito que é possível fazer uma agenda de humanização de São Paulo. O conceito de urbanidade está fora de moda em São Paulo, é preciso resgatá-lo. Você vê que o centro da cidade se degradou, a cracolândia não é mais a mesma de dez anos atrás, está muito pior. O trânsito, a relação das pessoas… É tudo muito conturbado.
Na gestão da Marta, se viu uma tentativa de garantir condições de vivência mais arejada, aberta, participativa, inclusiva. Isso na área da moradia, de educação — com os CEUs, uniformes, valorização do professor —, de transporte — com o Bilhete Único. Passei mais de dois anos na prefeitura, é uma cidade difícil, mas tem um enorme potencial para melhorar sua condição de vida.
Valor: Quais são as falhas da gestão do prefeito Gilberto Kassab?
Haddad: Não vou… Não é o momento, até porque temos parcerias e queremos estreitar laços. Estamos tentando, depois de muito tempo, levar o Pro-Infância para a cidade, onde é dramática a falta de vagas em creches. Tem sido feito um esforço de aproximação mais recente. Da nossa parte sempre estivemos disponíveis para ajudar.
Da Redação, com informações do Valor Econômico