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PT e PSDB temem que desgaste por prévias contagie eleição

A pouco mais de um ano das eleições municipais, PT e PSDB estão em polos distintos — e com papéis inversos — ao criticarem ou defenderem as prévias para a escolha do candidato a prefeito de São Paulo. Na opinião de analistas, o uso das prévias para definir o nome que representará determinada legenda numa disputa pode causar rachas internos e levar à derrota na eleição.

Eles afirmam que, embora seja um instrumento "saudável" de mobilização, a campanha intrapartidária é arriscada, principalmente para as siglas que estão no poder. Instrumento tradicional na história do PT, as prévias têm sido criticadas pela cúpula do partido, que quer engavetá-las e emplacar o ministro da Educação, Fernando Haddad, como candidato.

O PSDB — que nunca abriu esse tipo de consulta para os filiados — passou a defender as prévias como o mecanismo legítimo de escolha de seu candidato, num cenário em que não há um nome natural para concorrer à Prefeitura. O ex-governador José Serra tem dito que não pretende ser candidato a prefeito.

"É uma questão muito mais conjuntural do que programática. Quando há um candidato muito forte, a prévia é vista como algo que pode pôr em risco uma vitória quase certa. Quando não tem uma liderança muito clara, a tendência é que se opte pela prévia", afirma o cientista político e diretor do Centro de Pesquisas e Análises de Comunicação (Cepac), Rubens Figueiredo.

O cientista político David Fleischer conta uma experiência que teve em Honduras, na eleição presidencial de 1989. "Uns deputados falaram para a gente: ‘Professor, perdemos a eleição por causa de vocês, americanos’. Os consultores aconselharam a fazer prévia. Havia quatro candidatos. Ficou tão dividido que perderam a eleição. O outro partido não fez e ganhou", explica. "É um risco, porém a vantagem da prévia é uma pré-mobilização eleitoral. Isso divulga o partido e mobiliza filiados."

As prévias tornaram-se mais comuns nos países com tradição democrática na segunda metade do século 20. A primeira realizada no Brasil foi em 1982, quando Jair Soares, Octávio Germano e Nelson Marchezan disputaram a indicação para o governo do Rio Grande do Sul, pelo PDS, que dava sustentação ao regime militar. Soares ganhou a indicação e, depois, a eleição.

"É extremamente saudável ter prévia. Mas ela é também uma faca de dois gumes. Se a prévia funcionar como uma cisão, aí o partido, em vez de se fortalecer com a democracia, se enfraquece, porque os grupos não vão unidos para a disputa eleitoral", afirma Figueiredo.

Tradição

A Justiça Eleitoral considera a matéria uma questão interna dos partidos e não impõe realização de prévias. Só determina que o candidato escolhido seja chancelado pelos delegados da legenda, em convenção.

A tradição brasileira tem sido o acordo entre os pré-candidatos, promovido pela cúpula partidária. As únicas experiências do PSDB com prévias foram no Acre, nas eleições de 2006 e 2008. Detalhe: tiveram um colégio eleitoral restrito, que contou apenas com uma centena de integrantes dos diretórios estadual e municipal.

O PT promoveu campanhas internas para escolher candidatos a prefeito, governador e presidente em 2002, quando Eduardo Suplicy e um contrariado Luiz Inácio Lula da Silva disputaram as prévias. Com o discurso de que a disputa intrapartidária causa racha, o partido debate agora a reforma do estatuto que prevê limites para o uso das prévias. "O PT não quer mostrar rachas. Por ser governo, quer manter a imagem de partido unido", observa Fleischer.

Da Redação, com informações do O Estado de S.Paulo