Desafio de Celso Amorim na Defesa é conquistar cúpula militar
Excelente chanceler no governo Lula, Celso Amorim foi escolhido para assumir o Ministério da Defesa por pelo menos duas razões: sua larga experiência em temas relacionados à segurança internacional e por pertencer a uma carreira de Estado, hierarquizada e disciplinada, semelhante à exercida pelos militares. A opinião do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — que nunca poupou elogios ao seu ex-ministro — também pesou.
Publicado 05/08/2011 11:10
Nos bastidores do governo, dizia-se nesta quinta-feira (4) que o grande desafio de Amorim será conquistar a simpatia da cúpula das Forças Armadas. José Viegas, o último diplomata que assumiu o Ministério da Defesa, não teria conseguido atingir esse objetivo. Nelson Jobim foi o civil que se entendeu com os militares, depois do vice José Alencar.
Formado no Instituto Rio Branco, Celso Amorim é pós-graduado em Relações Internacionais pela Academia Diplomática de Viena, na Áustria e membro permanente do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP). Foi ministro das Relações Exteriores em duas oportunidades. Entre 1993 e 1994, no governo Itamar Franco, e de 2003 até o final de 2010, no governo Lula.
Amorim foi representante permanente do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), de 1995 a 2001, e embaixador no Reino Unido, entre 2001 e 2002. Aposentado desde 2007 do Itamaraty, escrevia colunas para a CartaCapital, estava concluindo um livro sobre sua experiência nos últimos anos e se preparava para voltar a dar aulas. Decidiu suspender esses projetos e atender ao chamado da presidente Dilma Rousseff.
O ex-diplomata está em João Pessoa, onde participa de um seminário, e só voltará a Brasília na segunda-feira, quando se encontrará com a presidente. Ele foi convidado nesta quinta-feira à tarde pela própria Dilma e aceitou.
No governo Lula, Amorim tomou atitudes corajosas e soberanas, como a mediação da questão iraniana e a defesa veemente de que o país possa ter uma política nuclear. Apoiador entusiasmado da integração latino-americana, também tem laços de amizade com presidentes e líderes da região, como Hugo Chávez, da Venezuela.
O retorno de Amorim ao governo poderá ser bastante útil em um momento em que o Brasil reforça sua candidatura a uma vaga permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Seu antecessor, Nelson, Jobim, nunca defendeu publicamente a reforma da ONU e a possibilidade de os brasileiros ganharem mais espaço nas grandes decisões mundiais.
Além disso, em um dos documentos vazados pelo site Wikileaks, o então ministro Jobim teria dito que havia uma "inclinação antiamericana" do Itamaraty — que, na época, era comandado por Amorim. Em conversa com diplomatas americanos, Jobim também teria dito que o vice de Amorim, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, "odeia os EUA e trabalha para criar problemas na relação".
Pois a rejeição ao complexo de vira-lata é uma das principais virtudes de Celso Amorim — o que ficou claro logo que ele assumiu o Itamaraty, a convite de Lula, em 2003, no auge das fortes medidas de segurança adotadas pelos Estados Unidos, por causa do recrudescimento do terrorismo. Amorim avisou que preferia ser preso a ter de tirar os sapatos em aeroportos, tal como teve de fazer seu antecessor, Celso Lafer, para entrar em território norte-americano.
Da Redação, com agências