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Dilma diz que rebaixamento dos EUA é "precipitado"

Após o rebaixamento da qualificação da dívida dos Estados Unidos pela agência Standard & Poor's e o agravamento das tensões nos mercados financeiros, a presidente Dilma Rousseff tratará do assunto, nesta segunda (08), na reunião da Coordenação Política. Já pela manhã, ela descreveu o rebaixamento como "precipitado" e "não correto" e  falou dos eventuais efeitos da nova classificação americana no cenário brasileiro.

 Para ela, o Brasil "não é uma ilha" e, portanto, não está "imune" às turbulências mundiais. "Queria deixar claro que não compartilhamos com a avaliação precipitada e um tanto quanto rápida e, eu diria assim, não correta da agência que diminuiu o grau de valorização de crédito dos Estados Unidos, a Standard & Poor's", disse Dilma, ao receber o primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper, em Brasília.

Na avaliação da presidente, mesmo que o cenário econômico mundial esteja instável com as situações financeiras dos Estados Unidos e de países da Europa, o mercado interno nacional está mais bem preparado do que estava durante 2008 e 2009, quando a crise de crédito se agravou.

"Hoje estamos muito mais fortes para enfrentar a crise do que estávamos no início de 2009 e final de 2008. Temos quase 60% a mais de reservas. Hoje chegamos a quase US$ 350 bilhões. Temos muito mais recursos depositados no Banco Central a título de compulsório. Hoje um pouco mais que o dobro, US$ 420 bilhões de reservas, é o que possuímos no Banco Central. Mas temos clareza que não somos imunes, que não vivemos em uma ilha. Sabemos que o Brasil tem força o suficiente (…) para fazer face a essa conjuntura", ressaltou Dilma.

Sem citar o governo de Barack Obama ou o impasse entre republicanos e democratas nas negociações sobre o aumento do teto da dívida dos Estados Unidos, a presidente atribuiu as novas turbulências a "políticas monetárias unilaterais, insensatez política na condução da economia e ajustes fiscais não completados".

"Expressei ao primeiro-ministro (do Canadá) minhas preocupações com a deterioração da situação econômica e financeira internacional. Políticas monetárias unilaterais, insensatez política na condução da economia, ajustes fiscais não completados comprometem o crescimento da economia mundial e golpeiam o equilíbrio social e político de muitos países desenvolvidos", ctiticou.

Segundo ela, "quem paga a conta é o conjunto da humanidade, inclusive aquela parte que soube implementar alternativas de desenvolvimento com inclusão social e equilíbrio",

Dilma está atenta à movimentação do mercado financeiro e aos reflexos da crise na economia mundial, além de receber constantemente informações da equipe econômica. Tradicionalmente a reunião de coordenação política começa com uma exposição do ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre o panorama econômico nacional e internacional.

Hoje, bolsas de valores em todo o mundo operam em baixa em reação ao rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos pela agência Standard and Poor’s. O rebaixamento gerou incerteza ao piorar a nota do país que sempre foi considerado o melhor pagador entre os que emitem papéis para vender e pegar dinheiro emprestado no mercado financeiro.

Na última sexta-feira, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, disse em comunicado que o presidente Barack Obama dará incentivos para que tanto o comitê fiscal bipartidário quanto o Congresso trabalhem para uma recuperação econômica e um caminho fiscal "mais sensato" a longo prazo.

Na terça-feira da última semana Obama promulgou a criação de um comitê que irá estudar cortes adicionais de US$ 1,5 trilhão ao gasto público antes do fim de ano.

Entenda

No auge da crise de crédito, que se agravou em 2008, a saúde financeira dos bancos no mundo inteiro foi colocada à prova. Os problemas em operações de financiamento imobiliário nos Estados Unidos geraram bilhões em perdas e o sistema bancário não encontrou mais onde emprestar dinheiro.
 
Para diminuir os efeitos da recessão, os países aumentaram os gastos públicos, ampliando as dívidas além dos tetos nacionais. Mas o estímulo não foi suficiente para elevar os Produtos Internos Brutos (PIB) a ponto de garantir o pagamento das contas em muitos países.

A primeira a entrar em colapso foi a Grécia, cuja dívida pública alcançou 340,227 bilhões de euros em 2010, o que corresponde a 148,6% do PIB. Com a luz amarela acesa, as economias de outros países da região foram inspecionadas mais rigorosamente.
 
Portugal e Irlanda chamaram atenção por conta da fragilidade econômica. No entanto, o fraco crescimento econômico e o aumento da dívida pública na região já atingem grandes economias, como Itália (120% do PIB) e Espanha.

Um fundo de ajuda foi criado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Central Europeu (BCE), com influência da Alemanha, país da região com maior solidez econômica. Contudo, para ter acesso aos pacotes de resgates, as nações precisam se adaptar a rígidas condições impostas pelo FMI. A Grécia foi a primeira a aceitar e viu em suas ruas grandes manifestações contra os cortes de empregos públicos, programas sociais, aumentos de impostos e perspectivas de privatizações.

Os Estados Unidos atingiram o limite legal de endividamento público – de US$ 14,3 trilhões (cerca de R$ 22,2 trilhões) – no último dia 16 de maio. Na ocasião, o Tesouro usou ajustes de contabilidade, assim como receitas fiscais mais altas que o previsto, para seguir operando normalmente.

O governo, então, passou por um longo período de negociações para elevar o teto. O acordo veio só perto do final do prazo (2 de agosto) para evitar uma moratória e prevê um corte de gastos na ordem de US$ 2,4 trilhões (R$ 3,7 trilhões).

Com Terra

Atualizada às 13h20