Murilo Ferreira:  Dilma, a JK de Saia

 O historiador e assessor sindical Sérgio Danilo Rocha conseguiu enfim me convencer de que a inflação é mesmo desagregadora de base social. Assim, o que teria mesmo derrotado o governo JK senão a inflação galopante? Ninguém duvida de seu audacioso e extraordinário Plano de Metas – superado na época somente pelos Planos Quinquenais da antiga URSS – que tinha como tripé de sustentação o capital Estatal, o capital nacional e o capital estrangeiro.

Apesar das críticas de endividamento excessivo externo o Plano de Metas relançou o Brasil – integração nacional, industrialização, infra estrutura e modernidade.

Ante essas conquistas e ante o cumprimento das metas o endividamento externo não obstruiu, mas ajudou a alavancar o país, pois ele não era o centro, mas estava sim associado, portanto, justificável no contexto do Brasil de década de 1950. E mais, o governo JK nos deu altivez, perspectiva e prosperidade, ao mesmo tempo em que rompeu com os controles e constrangimento impostos pelo FMI/imperialismo. Mas foi politicamente derrotado… E o que dizer do papel da inflação na derrota do governo centrista da Nova República e na pavimentação da vitória dos neoliberais em 1989? Sim, Sérgio Rocha tem razão, a inflação promoveu grandes estragos nacionais!

No governo Dilma, desde inicio, tem-se uma preocupação constante com o controle inflacionário, pois é o que vem garantindo a unidade de amplas forças políticas e a continuidade do projeto político de uma presidenta em início de mandato, caso contrário, não haveria dúvidas de que a direita faria bom uso político da escalada dos preços. Aliás, essa pode ser uma questão nevrálgica para a nova UDN, salvando-a do colapso e da fragmentação e alcançando organicidade, unidade e plataforma de combate a nosso governo.

Para nos nortear melhor, as contas do governo Dilma estão melhores do que o do governo Lula: a dívida líquida do setor público em junho de 2011 estava em 39,7% do PIB; a economia para cumprir a meta de superávit primário chega ao primeiro semestre a quase 80 bilhões de Reais, restando apenas cerca de 40 bilhões no segundo semestre para cumprir a meta anual de 117,9 bilhões – e com isso ter mais folga para realizar investimentos e obras sociais – além de a economia continuar a crescer sustentavelmente, em torne de 5% em termos anuais, o desemprego estar em baixa e o consumo e a renda da população continuar crescendo. Essa situação levou o FMI a afirmar que o país estaria com sintoma de superaquecimento, o que não acredito, mas que reflete o quanto o país em nada se parece com o país dos neoliberais.

Agora o governo lançou um programa que seria um resgate da boa tradição desenvolvimentista, isto é, a Política Industrial. Apesar daqueles que acham que são apenas medidas paliativas, acho sim que ele abre uma nova etapa do Projeto Nacional, que consolidará o papel da indústria nacional num ambiente de crise internacional e de fortes ameaças, e que vem, basicamente, de duas direções: uma dos EUA, com suas medidas protecionistas e de desvalorização do dólar, e que está afetando em muito a competitividade desse nosso setor, a outra, é o papel agigantado da Indústria chinesa, cujo PIB industrial já superou o dos EUA, e que inundada o Brasil e a America Latina de bens de alto valor agregado, enquanto nós a abastecemos de commodities agrícolas e minerais, numa relação clara de concorrência desleal.

O governo Dilma ataca esses dois problemas, que já são muito, pois também temos que ter a cautela necessária para não nos tornamos uma ilha. Foi o protecionismo que mergulhou o mundo numa grande depressão na década de 1930. A via brasileira tem sido aquela inaugurada pelo presidente Lula, a da integração com os emergentes e, principalmente, a integração latino americana. Fiquemos atentos, pois o protecionismo elevado a certos patamares não nos interessa. A balança comercial nos tem sido muito favorável e podemos chegar a cerca de 30 bilhões de dólares em superávit comercial em 2011, bem acima da previsão do mercado e do próprio governo. Nos últimos 12 meses exportamos 235 bilhões de dólares, algo impensável há anos atrás.

Por último, é verdade que a taxa básica em 12,25% nos coloca com os mais elevados patamares de juros do mundo. Esse seria um nó cego que temos para desatar. Mas ninguém também nega que o governo, ao lançar mão da política de juros, tem tido alguma eficácia no controle da inflação. Para mim é uma situação semelhante ao papel do endividamento externo no governo JK, isto é, se o programa de governo está sendo cumprido, se a situação geral da economia e do povo vai melhorando, então, os juros elevados constituem o preço que temos que pagar para o atingirmos os nossos objetivos.

Para os EUA, por exemplo, existe uma situação pouco confortável com relação a essa política, isto é, estão de mãos atadas com relação a este instrumento, já que não podem elevar a taxa porque senão freia o crescimento, e tampouco podem abaixá-la, pois já está praticamente perto de zero. Ninguém também nega o pioneirismo de Dilma em usar outros instrumentos, como as medidas macroprudenciais de contenção do credito e do consumo, uma inovação desde a implantação do Plano Real e que teria a vantagem de ser uma alternativa á elevação da Selic. O resultado também é promissor, pois já existe uma expectativa de queda inflacionária para o próximo período e, consequentemente, dos juros.

Tudo isso aponta para um diagnostico amplamente favorável destes primeiros sete meses do governo Dilma, realmente ela tem sido muito competente, audaciosa, inovadora e apontando para um avanço do legado do presidente Lula. Sim, o Brasil vai seguir em frente, com planejamento, crescimento sustentado, distribuição de renda, inflação controlada e a derrota da direita, acima de tudo.

Murilo Ferreira é engenheiro agrônomo e mestre em Economia Rural pelo Universidade Federal de Lavras. É diretor do Sinpro e da CTB MInas