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Desaceleração do mercado de trabalho reflete desindustrialização

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta terça, 16, indicam a geração de 140 mil novos postos de trabalho com carteira assinada em julho. Embora positivo, o número traduz uma queda de 22,6% em relação ao mesmo mês do ano passado, que está associada ao aumento das importações de produtos industrializados, segundo o ministro do Trabalho, Carlos Lupi.

Nos sete primeiros meses deste ano foram criadas 1,59 milhão vagas formais, o que também significa queda de 14% frente ao mesmo período do ano passado, quando foram abertas 1,85 milhão de vagas. Além de ter registrado queda frente ao ano passado, os dados do governo mostram que a criação de empregos formais, de janeiro a julho deste ano, também ficou abaixo do resultado registrado em igual período de 2008 – quando foram criados 1,67 milhão de empregos com carteira assinada.

Desaceleração

As estatísticas sugerem desaceleração, que está associada ao ritmo mais lento de evolução do PIB. Em 2010 a economia avançou 7,5% e também no primeiro semestre de 2008 o país vinha crescendo de forma mais acelerada. O crescimento recuou neste ano, em função do ajuste fiscal promovido pelo governo Dilma e da alta da taxa básica de juros, além do cenário mundial crítico, que vem provocando notáveis prejuízos na bolsa de valores. As estimativas para o crescimento do PIB em 2011 giram em torno de 3,5 a 4%.

O comportamento do mercado de trabalho é determinado pelo ritmo das atividades econômicas. Mas, apesar do recuo na criação de empregos formais, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, manteve a avaliação de que não está havendo uma desaceleração na abertura de vagas neste ano. "Não está desacelerando (…) Temos um comportamento diferente do ano passado sobre contratação do servidor público. De maio do ano passado em diante, foi proibido por conta das eleições. Temos contratações por municípios e estados neste ano. Acho que esse número vai ser significativo comparando com o que houve em 2010", declarou.

Em julho do ano passado criadas 181 mil vagas formais, 41 mil a mais que neste ano. Os números frustraram as previsões do ministro. No mês passado, ele informou que a criação de empregos formais ultrapassaria o valor registrado em junho deste ano (214 mil empregos). Já na última semana, ele disse que os empregos criados em julho também seriam superiores ao registrado no mesmo mês de 2010 – quando foram abertas 181 mil vagas. Em ambos os casos, as estimativas não se confirmaram.

Importados

O ministro avalia que a crise pode ter afetado o ritmo de contratação no mês passado, principalmente na área da indústria de transformação. O aumento de importações, que alguns analistas consideram fonte da chamada desindustrialização, é o maior problema do mercado de trabalho do País hoje, na avaliação de Carlos Lupi.

"O que diminui a empregabilidade do Brasil hoje é isso", considerou, acrescentando que as últimas atitudes do governo para impedir a entrada de tantos produtos estrangeiros foram positivas.

O aumento das importações de industrializados decorre da forte valorização do real frente ao dólar verificada ao longo dos últimos anos. Isto encarece a exportação da indústria brasileira e barateia importados do setor, dando lugar a um processo que alguns economistas classificam de "doença holandesa" e "desindustrialização".

Crise

O ministro analisou que a crise pode ter afetado também o ritmo de contratação no mês passado, principalmente na área da indústria de transformação. Para ele, no entanto, o impacto da crise sobre o emprego foi mais de receio do que ação, já que empresários não chegaram a demitir, mas pausaram as admissões. "O que já tinha que acontecer já aconteceu."

Na visão do ministro, tem muita gente querendo "ganhar dinheiro fácil" com a crise. "Mais do que a outra, esta é uma crise de especulação", resumiu. Ele disse não entender como os Estados Unidos, que estão em crise, ainda são o porto seguro para muitos investidores. "Os Estados Unidos estão em crise, mas o dólar está aumentando e as pessoas estão comprando títulos americanos", considerou.

Lupi também disse não compreender o vaivém das bolsas. "É tanta especulação junta, que tem dia que cai 9% e no meio da semana, já possui ganho real de 1%". Ele previu que nesta semana haverá alta da bolsa.

Dado fraco

Lupi também atribuiu o número menor a demissões no setor de Educação, por conta de férias escolares. O segmento apresentou um volume de desligamentos 8.289 maior do que o de contratações. Ele também citou a diminuição do ritmo da indústria do Sul e do Sudeste e do setor do agronegócio. "Foi abaixo do que aconteceu no ano passado, mas não é nada que signifique tendência", disse. Em julho de 2010, o saldo foi de 181.796 novas vagas.

O melhor sinal para avaliar o mercado de trabalho, conforme Lupi, é a rotatividade. Apesar de um saldo mais tímido na geração de vagas de trabalho formais em julho, o número de contratações e demissões foi recorde para o mês. Os números apontam para 1.696.863 admissões em julho e 1.556.300 desligamentos.

Projeção

Lupi manteve a previsão de que o Brasil criará 3 milhões de empregos formais neste ano. A projeção do ministro abrange os trabalhadores com carteira assinada e os servidores públicos das três esferas do governo. No acumulado do ano até o mês passado, o volume de geração de postos de trabalho no âmbito da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) foi de 1.593.527.

"Mantenho a projeção de geração de 3 milhões de empregos formais", afirmou. "Este ano, teremos comportamento diferente do visto no ano passado", acrescentou, salientando que em 2010, o Estado não pôde contratar por conta das eleições. "Vamos ter acréscimo com a Rais (Relação Anual de Informações Sociais) mais significativo este ano", previu.

Lupi enfatizou também o volume de vagas criadas de 2003 a julho deste ano, com base na Rais e no Caged. De acordo com o Ministério, foram 16.977.969 novas vagas formais. "Estamos chegando perto de 17 milhões de empregos", considerou.

O ministro previu que os próximos dois meses a serem divulgados pelo Caged serão melhores. "Agosto e setembro serão mais fortes. Tenho certeza absoluta de que agosto superará julho", previu, assegurando que julho nunca é um mês que puxe o emprego para cima. É esperar para ver.

Com agências