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Cruz Vermelha denuncia abandono de familiares de desaparecidos

Os familiares de pessoas desaparecidas em conflitos armados ou qualquer outra situação de violência sofrem o abandono sistemático das instituições, denunciou nesta sexta-feira (26) o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

Estas pessoas "sofrem muito ao tentar investigar o que aconteceu com seus parentes", afirmou o CICV, lamentando que o impacto desses desaparecimentos na vida diária de pessoas e comunidades inteiras "continue sendo ignorado" pelos governos.

"É preciso um maior esforço para satisfazer as necessidades econômicas, psicológicas, sociais e jurídicas de centenas de milhares de famílias de desaparecidos", declarou o CICV às vésperas do Dia Internacional dos Desaparecidos, 30 de agosto.

"Cada pessoa que desaparece deixa parentes angustiados. Mesmo achando que o parente está morto, os familiares não podem fazer o enterro como gostariam. Sem uma prova da morte, não podem virar a página, nem vender uma propriedade, nem sequer fazer o enterro", afirmou Olivier Dubois, chefe adjunto da Divisão da Agência Central de Buscas e de Atividades de Proteção do CICV.

A Cruz Vermelha lembrou que este drama afeta todos os que estão envolvidos em um conflito, já que civis, militares ou membros de grupos armados podem morrer nos confrontos ou ser vítimas de desaparecimentos como tática para provocar o medo.

Na Colômbia, por exemplo, foi criado o Registro Nacional de Desaparecidos, no qual estão inscritas cerca de 50 mil pessoas que desapareceram nas últimas décadas. É o caso de Elías e Julia, que registraram o desaparecimento de seu filho Luis, de 19 anos, que foi visto pela última vez em dezembro de 2009. Os pais suspeitam que o rapaz se uniu a um grupo armado nos arredores da localidade de Apartadó, na província de Urabá.

"Ficamos sem notícias dele durante nove meses", explicou à Cruz Vermelha Elías, que em dezembro soube que seu filho estava ferido, para depois descobrir por rumores que o cadáver de Luis teria sido recuperado após um tiroteio.

Nos últimos anos foram descobertas na Colômbia numerosas covas ilegais, aumentando a lista de mortos sem o conhecimento de suas famílias.

"São muitas as famílias que, ao longo das últimas décadas do conflito, esperam receber notícias de seus parentes e sofrem a angústia de não saber o paradeiro deles. Esses familiares precisam ser tratados com respeito", explicou Guilhem Ravier, colaborador do CICV que trabalha na questão dos desaparecidos na Colômbia.

Ajudar os parentes dos desaparecidos é uma prioridade para o CICV, que faz o possível para atender suas necessidades. Sempre que solicitado, o CICV ajuda as famílias tentando buscar informação sobre os desaparecidos, um processo que muitas vezes é longo e complexo, pois costuma consistir em visitar os presídios, hospitais e necrotérios, e pedir às autoridades que investiguem e procurem respostas.

Em alguns países as sociedades nacionais da Cruz Vermelha ou do Crescente Vermelho participam deste processo.

"O direito internacional humanitário impõe aos estados a obrigação de tomar todas as medidas possíveis para encontrar as pessoas desaparecidas e dar às famílias toda informação que conseguirem", acrescentou o especialista da Cruz Vermelha.

É por esta razão que o CICV pede aos estados que ainda não participam desse processo que assinem, confirmem e apliquem a Convenção Internacional para a proteção de todas as pessoas contra os desaparecimentos forçados.

Fonte: Efe