Familiares de casal assassinado sofrem novas ameaças
Há uma semana, um atentado contra familiares de Maria do Espírito Santo da Silva, assassinada junto de seu companheiro, José Cláudio Ribeiro da Silva, no dia 24 de maio, relatam ter sofrido uma ameaça. Seria um “aviso” semelhante ao que foi feito contra o casal antes de serem executados em uma emboscada.
Publicado 26/08/2011 17:28
Laisa Santos Sampaio e José Maria Gomes Sampaio, conhecido como Zé Rondon, vivem num lote ao lado do lote onde viviam Maria e José, no assentamento agroextrativista Praia Alta Piranheira. Com os suspeitos do assassinato, os pistoleiros Lindonjonhson Silva Rocha (irmão de José Rodrigues) e Alberto Lopes do Nascimento, e da encomenda do crime, o pecuarista José Rodrigues Moreira, todos soltos, eles relatam uma sensação de desespero e descrença frente ao Estado e as autoridades.
Após o crime, a polícia civil especializada, da delegacia de conflitos agrários, chefiada pelo delegado José Humberto Melo Jr., solicitou por três vezes a prisão dos suspeitos: o acusado de ser o mandante, Moreira, chegou a comparecer à delegacia. O juiz estadual, Murilo Lemos Simão, negou os pedidos de prisão. O mandado foi assinado apenas após solicitação do Ministério Público, após protocolada a queixa crime.
No âmbito das investigações da Polícia Federal, o inquérito não chegou a ser concluído, mesmo depois de a própria presidenta Dilma ter determinado as investigações federais. Chefiado pelo delegado federal Marcelo de Sousa, o então juiz federal Carlos Haddad autorizava os pedidos de diligências, feitos pelo delegado e pelo Ministério Público Federal. Mas a chegada de um novo juiz, Marcos Silva Rosa, parou o caso. Ele decidiu que o objeto não seria competência federal, e sim apenas um crime comum.
O Ministério Público recorreu, afirmando que se trata de um caso federal, pois foi um crime que ocorreu dentro do território federal (Incra), contra pessoas que defendiam o patrimônio federal. O recurso, apresentado há 3 semanas, ainda não foi enviado ao tribunal. Em decisão recente, o mesmo juiz puniu o Ibama por ter fechado as serrarias em Nova Ipixuna. Elas eram reincidentes em crimes ambientais e tiveram as licenças cassadas pela secretaria de Meio Ambiente.
A seguir, trechos do boletim de ocorrência, em que Laisa relata o temor vivido pelo marido, Zé Rondon:
“Na quinta-feira dia 18 de agosto do presente ano, por volta das 06 da manhã, a declarante recebeu um telefonema efetivado por seu companheiro, José Maria, o qual passou a relatar para a declarante que na madrugada da data supracitada, por volta das 03 horas da madrugada, acordou atordoado com um barulho proveniente do lado externo da casa onde moram, não sabendo e não dizendo especificamente o que seria aquele barulho e quem praticara”;
“seu esposo acredita que o “estrondo” partiu de próximo do açude da propriedade que fica localizado há 100 metros da residência do casal”;
“seu esposo não saiu de dentro da residência e não viu algum tipo de sombra humana”;
“na manha do dia 18 de agosto, sentiu falta dos dois cachorros que possuem, os quais são chamados de Canguçu e Bicho do Mato, os quais não permaneciam como de costume na propriedade”;
“seu esposo falou que depois que foi até o curral para tirar leite, e logo após, quando retornou avistou que o cachorro Canguçu estava mancando e havia sido ferido na região do “quaro traseiro”, próximo da pata esquerda traseira, contudo, não chegou a perecer”;
José Maria informou que a causa daquele ferimento teria sido causado por um disparo de arma de fogo, uma vez que um especialista foi até o local e verificou a gravidade dos ferimentos causados no animal. Não foi encontrado rastros de moto ou pegadas. Mas Zé Rondon disse que encontrou, dias antes, uma palha de coqueiro na entrada da sua propriedade, no meio do caminho da trilha de chão batido. Segundo ele, um sinal de uma possível emboscada.
Maria informou à polícia que Zé Rondon ficou com medo de relatar os fatos, “temendo que algo ruim lhe acontecesse”.
O Boletim de Ocorrência foi registrado na delegacia de conflitos agrários de Marabá, no dia 19 de agosto.
Maria disse à polícia que se sente ameaçada com o fato ocorrido no dia 18. E justifica: “Antes de Maria e José falecerem ocorreu um fato semelhante ao ocorrido na sua propriedade, que foi entendido como um aviso para se precaverem de um possível atentado.” Ela pede segurança e providências ao governo para que suas vidas sejam preservadas.
Recentemente, a família, junto da Comissão Pastoral da Terra de Marabá, iniciaram uma campanha e um abaixo assinado pedindo a federalização do processo e da investigação do assassinato de José Cláudio e Maria.
Fonte: Carta Capital