Chico Lopes relembra o 7 de Setembro na Fortaleza de antigamente

Menino que morou em bairro popular de Fortaleza, jovem que trabalhou desde cedo, militante que lutou pela conscientização popular e pela resistência à ditadura, o deputado federal Chico Lopes (PCdoB-CE) guarda fortes recordações do 7 de Setembro na capital cearense de antigamente.

Lembranças compartilhadas neste 7 de setembro de 2011, em que as Forças Armadas prestam honras pela primeira vez a uma mulher – a presidente Dilma Rousseff, que fez parte da luta contra o regime militar e pela redemocratização do País.

Ao contrário de hoje, os desfiles de antigamente em Fortaleza aconteciam não na Avenida Beira-mar, mas no Centro da cidade, na Avenida Duque de Caxias, e eram um dos principais acontecimentos da capital – segundo Chico Lopes, juntamente com o 1º. de maio. “O desfile de 7 de Setembro tinha sempre uma participação muito efetiva dos estudantes. Liceu do Ceará, Colégio Cearense, 7 de Setembro eram os colégios que mais se destacavam. Tinham inclusive cavalaria nos desfiles, adereços típicos… Todo um sentimento de representação da pátria”, recorda Chico Lopes. “O Liceu do Ceará tinha uma farda muito bonita para o desfile, inclusive de quepe. Faziam um desfile com muita disciplina, seriedade. Era bonito”.

Música e emoção

Lopes recorda especialmente a participação das Bandas de Música nos desfiles. “As Forças Armadas desfilavam, o Exército com maior número, a Aeronáutica e a Escola de Aprendizes Marinheiros, com a sua banda, com a regência do famoso Tenente Lisboa, maestro nacionalmente consagrado. Inclusive hoje reverenciado, de forma justa, com nome de avenida em Fortaleza”, destaca. “A particularidade da Marinha era um aprendiz na frente, puxando um carneirinho, abrindo o desfile”.

Lopes recorda que o desfile começava às 9h, “mas às 6h já tinha gente pra ficar nas cordas”. “O ponto alto era o Palanque Oficial, na Igreja do Carmo. O desfile era um acontecimento muito importante. A gente acordava cedo, pra pegar ônibus ou ir mesmo a pé. E ia até meio-dia. O resto do dia todo mundo usava a bandeira brasileira, ou fita verde e amarela”, acrescenta. “O desfile não tinha TV, mas era transmitido pela Ceará Rádio Clube e depois também pela Rádio Iracema”.

Ditadura e atualidade

Para Chico Lopes, parte do simbolismo e da popularidade dos desfiles de 7 de Setembro se perdeu devido à forte associação entre os símbolos nacionais e o regime ditatorial, imposta pelos governantes militares. “Mas é uma data importante, que as pessoas devem valorizar. Os símbolos do País não têm dono, são de todos nós”.

Mesmo no auge da perseguição a estudantes e sindicalistas, durante a ditadura, Lopes não deixou de acompanhar os desfiles. “Na ditadura, as Forças Armadas redobravam o número de seguranças à paisana, pra vigiar principalmente os estudantes universitários. Começavam a vigiar já no dia anterior, para reprimir possíveis manifestações contra a ditadura. Saíam manifestos nesse dia, chamando o povo pra derrubar a ditadura, mas nunca houve manifestação contra o 7 de Setembro, interferência no desfile em Fortaleza”, testemunha.

“Mesmo correndo perigo, eu ia sempre dar uma olhada no desfile. Mesmo com dificuldade, quando fui indiciado, em 1964. Ou em 1969, quando fui olhar à meia distância, meio preocupado. Sabia que havia muitos agentes à paisana, da Polícia e da Dops”, relata.

“Hoje é importante que as pessoas estejam presentes, levem seus filhos, valorizem esse momento para reflexão sobre os rumos do nosso País, que felizmente vive outro momento, mas ainda tem grandes lutas para alcançar totalmente sua independência”, complementa Chico Lopes.

Fonte: Assessoria do Deputado Federal Chico Lopes – PCdoB-CE