Obama renova apelo à aprovação do seu pacote contra desemprego
O presidente dos EUA, Barack Obama, reiterou nesta segunda-feira, 12, o apelo ao Congresso Nacional pela aprovação do pacote econômico contra o desemprego anunciado na semana passada pelo governo. Também conclamou a população a pressionar os parlamentares, através de mensagens na internet e outros meios.
Publicado 12/09/2011 18:50
A situação no parlamento não parece muito favorável aos planos do presidente. De olho nas eleições presidenciais do próximo ano, os republicanos prometem dificultar a aprovação do projeto na Câmara, onde têm maioria.
Questão central
O desemprego revela a face mais dramática da crise do capitalismo norte-americano, iniciada no final de 2007 e ainda não contornada. Estima-se em 25 milhões o número de desempregados e subempregados no país. A estatística oficial, que capta apenas o chamado desemprego aberto, reconhece um contingente menor: cerca de 14 milhões (9,1% da População Economicamente Ativa), além de 2 milhões que desistiram de procurar um novo posto de trabalho.
Qualquer que seja o critério de avaliação, a crise no mercado de trabalho é inegável e só encontra paralelo na Grande Depressão dos anos 1930. Além do sofrimento de milhões de famílias trabalhadoras, que também sofrem adicionalmente com os despejos, o desemprego funciona como fator de realimentação da crise.
De efeito a causa
Ao perder a fonte de renda, o trabalhador desocupado reduz o consumo e praticamente para de gastar, além de ficar inadimplente com os bancos. A consequência macroeconômica é a diminuição da taxa de consumo, que possui uma importância extravagante na economia parasitária dos EUA. A contração da demanda é o principal obstáculo à reativação das atividades produtivas no país. Ao mesmo tempo, a inadimplência, forte principalmente no mercado imobiliário, afeta negativamente a saúde já precária do sistema financeiro.
Com isto, o desemprego deixa de ser mero efeito para se transformar em causa da crise econômica. O governo não está incorrendo em erro ao propor medidas que ataquem diretamente o problema. A questão é o tempo e o alcance do pacote. Suspeita-se que tenha vindo tarde e seja demasiadamente tímido para o objetivo proposto, ou seja, uma redução substancial do número de desempregados.
Concessões
O presidente apresentou o pacote como uma obra bipartidária, com o propósito de viabilizar sua aprovação no Legislativo. As medidas contemplaram notórias concessões aos republicanos. Mais de 50% dos recursos previstos para a concretização do plano são cortes de impostos e não aumento de gastos.
De acordo com o economista Paul Krugman, o pacote “prevê US$ 200 bilhões de novos gastos – na maior parte em coisas que necessitamos de qualquer maneira, como reformas de escolas, redes de transporte e para evitar demissões de professores – e US$ 240 bilhões em cortes de impostos. Pode parecer muito, mas na realidade não é. Os efeitos prolongados da crise do setor imobiliário e o ressalto da dívida das famílias, criada nos anos de bolha imobiliária, estão criando um buraco de aproximadamente US$ 1 trilhão na economia dos Estados Unidos, e este plano – que não deve oferecer todos os seus benefícios no primeiro ano – somente cobrirá parte desse buraco. E não está claro, em particular, o quão eficaz será o corte de impostos para impulsionar os gastos.”
Apesar das ressalvas, Krugman apoia a proposta de Obama. “É muito melhor do que nada e algumas das medidas previstas, cujo objetivo específico é oferecer incentivos para a contratação de pessoal, podem resultar num grande benefício para a criação de empregos”, salienta o economista em artigo para o jornal The New York Times. Outros economistas se mostraram menos impressionados e mais céticos. “Parece uma mistura de coisas que já vimos”, disse Stephen Stanley, economista-chefe da Pierpont Securities. “Eu não sei por que exigir uma sessão conjunta do Congresso para apresentar um pacote banal”, acrescentou.
Trilhões para a banca
O desemprego em massa já era um grande problema para a classe trabalhadora em 2008, antes da eleição de Obama. O primeiro presidente negro da história dos EUA foi eleito graças à promessa de que iria combater e solucionar o problema. Por esta razão, obteve o apoio maciço dos sindicatos e dos trabalhadores.
Mas Obama frustrou as expectativas populares. O governo e o Federal Reserve (FED, banco central dos EUA) gastaram o grosso da munição que o Estado dispõe para fazer frente à crise no resgate do sistema financeiro, negligenciando a necessidade de proteger a classe trabalhadora, o que significa investir na criação de empregos e no fortalecimento do setor produtivo. Não foi o que ocorreu.
Trilhões de dólares foram derramados na economia, através de estímulos fiscais e emissão de papel-moeda por parte do Federal Reserve, que manteve a taxa básica de juros entre zero a 0,25% ao ano. O déficit público subiu a 9,9% do PIB em 2009 e 10,6% em 2010, devendo alcançar 10,8% neste ano, segundo estimativas do FMI. A dívida pública extrapolou os últimos limites estabelecidos pelo Congresso e ensejou um conflito entre republicanos e democratas que abalou os mercados de capitais e resultou no rebaixamento da classificação de risco dos EUA.
Trabalhadores ao léu
O governo fez pouco ou nada para estimular os investimentos produtivos e a geração de emprego. Chegou ao ponto de estatizar a GM para proteger um símbolo do poder industrial do império, mas ironicamente o plano de reestruturação da multinacional, com um custo estimado em R$ 50 bilhões, reduziu unidades produtivas e empregos da montadora nos EUA e incentivou a chamada deslocalização, com a expansão dos investimentos da montadora na China e no Brasil. Neste caso, a intervenção do Estado foi claramente responsável pelo aumento do número de operários desempregados. É a lógica do Estado capitalista na chamada globalização.
Além de provocar alta das commodities e a chamada guerra cambial, a inflação do dólar resgatou grandes empresas da falência, especialmente no ramo financeiro, e engordou os lucros capitalistas. Todavia, não minorou o sofrimento de quem depende da venda da força de trabalho para sobreviver. Em outras palavras, o desemprego não cedeu, a economia escorrega para o pântano da estagnação e a recaída numa nova recessão mundial é uma possibilidade que cresce a cada dia como causa e efeito do pânico nos mercados de capitais.
As estatísticas de agosto, que não registram a criação de nenhum novo posto de trabalho, revelam o agravamento do quadro. O drama é maior para negros e imigrantes. No mês passado, a taxa de desemprego (9,1% na média) para afro-americanos atingiu oficialmente os 16,7%, ao passo que para os latinos foi de 11,3%. Quando se olha para o número de trabalhadores que caíram fora da força de trabalho e não são contados nas estatísticas do desemprego, as percentagens de trabalhadores oprimidos sem trabalho são muito maiores.
Recessão profunda
“Tornou-se claro que a recuperação após a crise tem sido muito menos robusta do que o esperado”, reconheceu o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, na quarta-feira da semana passada (8). “Com as mais recentes revisões da contabilidade nacional e também com as mais recentes estimativas de crescimento para a primeira metade deste ano, aprendemos que a recessão foi ainda mais profunda – e a recuperação, ainda mais fraca – do que tínhamos pensado; de fato, a produção agregada nos Estados Unidos ainda não retornou ao nível alcançado antes da crise. É importante o dado de que o crescimento econômico tem apresentado em geral um ritmo insuficiente para produzir reduções sustentáveis no desemprego, que tem ultimamente pairado um pouco acima dos 9%.”
O presidente democrata, que prometeu mundos e fundos aos eleitores, abandonou a classe trabalhadora à própria sorte em 2009, quando as condições para um plano governamental em defesa do emprego eram incomparavelmente melhores. Neste momento, seus discursos inflamados a favor do pacote soam não como uma preocupação efetiva com a situação deplorável das famílias operárias, mas como demagogia eleitoreira. As ilusões com Obama evaporaram. O homem é desaprovado, hoje, por mais da metade dos cidadãos estadunidenses e a perspectiva de reeleição em 2012 está embaçada. O pacote contra o desemprego é uma tentativa desesperada de recuperar terreno perdido.
O melhor recurso dos trabalhadores contra o desemprego é a luta por mudanças políticas e medidas efetivas para que os verdadeiros responsáveis pela crise, os grandes capitalistas, em especial os banqueiros, paguem o pato, em vez de transferirem os prejuízos para os assalariados.
Da Redação, Umberto Martins, com agências