Bancários, uma categoria de luta

Historicamente, os bancários são reconhecidos pela luta em defesa dos trabalhadores e dos bancários. Ao longo das décadas, os sindicatos em todos os estados são destaque na atuação política em defesa dos direitos dos trabalhadores e pelas conquistas da categoria.

Quer seja contra a Ditadura, em defesa das Diretas ou em busca de mais segurança no trabalho, os bancários são considerados pelos movimentos sociais um dos mais organizados e combativos. “Está no DNA do bancário reivindicar, lutar, ousar e avançar”, diz Gabriel Rochinha, diretor do Sindicato dos Bancários do Ceará.

Segundo o sindicalista, o sistema financeiro nacional é o setor da economia que mais lucra com a imposição de juros altos e tarifas abusivas. “Não é fácil enfrentar os banqueiros, o mais rico, perverso e estrategista dos patrões. A cada ano o lucro deles aumenta e tentam calar os trabalhadores”, observa.

Ao longo dos anos a luta do trabalho contra o capital tem sido a bandeira principal da categoria. “Os banqueiros nunca deram, dão e nem darão nada de graça e sempre venderam muito caro as conquistas que alcançamos. A única linguagem que eles entendem é uma atuação do movimento forte, unido e coeso. Só assim conseguimos arrancar avanços para os trabalhadores”, reforça Rochinha.

O processo de achatamento dos bancários vem crescendo ao longo dos anos. “Na década de 1990, éramos quase um milhão. Hoje, somos pouco mais da metade e quase o mesmo número de funcionários terceirizados”, contabiliza. “Foi uma década de muito sofrimento, com reestruturação de bancos, privatizações, planos de demissão voluntária além de demissões arbitrárias. Mas a categoria sempre resistiu bravamente”. A falsa alegativa dos bancos, segundo Rochinha, é devido a automação bancária, internet, máquinas de auto atendimento e ainda créditos online. “O que percebemos, porém, é o aumento do número de pontos de atendimento e cada vez mais pessoas têm acessos aos bancos. Ao invés de ampliar o número de funcionários, os banqueiros terceirizam e precarizam nossa atividade”.

Conquistas

Gabriel Rochinha destaca que a categoria dos bancários é a única que tem convenção coletiva nacional e que reúne todos os bancos, públicos e privados. “Se o movimento bancário não fosse tão forte e organizado, a categoria já estaria extinta. Ao longo dos anos, sofremos fortes ataques, pancadas duras, mas resistimos e continuaremos lutando”.

Jornada de 6h de trabalho, plano de previdência e de saúde, vale alimentação e refeição, participação nos lucros e resultados dentre outras conquistas são fruto de muita luta e suor. “Arrancamos dos banqueiros esses avanços. Hoje, o movimento sindical bancário busca consolidar esses direitos já alcançados e luta por mais conquistas”.

Negociações

As negociações salariais de 2011 já começaram. A primeira reunião entre sindicatos e Federação Brasileira de Bancos (Febraban), entidade que representa os banqueiros, aconteceu no dia 30 de agosto.

O tema da campanha deste ano é “Emprego Decente”. Os bancários defendem um reajuste salarial referente à inflação do período mais ganho real de 5%, melhor participação nos lucros, fim do assédio moral e ainda mais segurança no trabalho. Nas quatro reuniões já realizadas, todas as reivindicações foram negadas. Os banqueiros alegam que, diante de cenário de crise, não podem reajustar os salários pagos para a categoria. “Este argumento esbarra no que nós vivenciamos. Os números nunca foram tão positivos e mostram: só no primeiro semestre deste ano, os bancos lucraram R$ 43 bilhões”.

A categoria aguarda a apresentação das propostas da Febraban, prevista para acontecer na próxima reunião, agendada para o dia 20 de setembro. “Estamos céticos quando a essas propostas. Provavelmente entraremos em greve, pois esta é a única linguagem que os banqueiros conhecem. Só com muito sacrifício conseguiremos melhorias para a nossa categoria”, reforça Rochinha. A próxima reunião do Sindicato dos Bancários do Ceará irá discutir a proposta apresentada pelos patrões. A categoria realizará uma assembleia na próxima quinta-feira (22/09) e definirá os próximos rumos da campanha nacional dos bancários 2011.

Sindicato no Ceará

O Sindicato dos Bancários do Ceará foi fundado em 21 de fevereiro de 1933, tendo participado ativamente de momentos importantes da história do Brasil. A entidade sobreviveu a dois golpes de Estado (o Estado Novo de Getúlio Vargas e o golpe militar de 1964) e a vários planos econômicos governamentais. Presenciou o suicídio de Getúlio Vargas, a renúncia de Jânio Quadros e o impeachment do presidente Fernando Collor, luta de que participou ativamente no Ceará. Em sua existência, o Sindicato sofreu três intervenções. A primeira foi durante o Estado Novo (1937-1945) e duas vezes no período da ditadura militar (1964-1985).

De Fortaleza,
Carolina Campos