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EUA: maior pobreza será tema crucial nas eleições de 2012

Nunca houve tantos pobres nos Estados Unidos. A constatação de que 46,2 milhões de pessoas vivem em condição de pobreza deve ser tema crucial na campanha para as eleições presidenciais de 2012. "Os republicanos vão usar estes dados para mostrar que iniciativas econômicas democratas não estão funcionando. E os democratas vão usar isso como tática para incentivar as minorias a irem para as urnas", projeta o professor de Ciência Política Lester Spence, da Universidade Johns Hopkins.

Conforme o relatório do governo, a quantidade de americanos na pobreza chegou a 15,1% em 2010, o maior percentual desde 1993 – os 46,2 milhões de pobres representam a maior cifra absoluta em 52 anos. Gente como Michael Pennycook, de 31 anos, que há dez anos era gerente de suprimentos de uma empresa em Washington, e hoje não tem sequer onde dormir.

Entre os mais afetados pela crise estão os negros, grupo que teve aumento de 1,9% no índice em apenas um ano. "(A comunidade negra) está fazendo o que pode para sobreviver no final do dia. Os que são politicamente organizados ainda apoiam Obama, mas com menos entusiasmo do que quando ele foi eleito. E por outro lado, estão ainda mais hostis contra os republicanos, especialmente contra o Tea Party", disse o professor Spence em entrevista ao Terra.

Demitido em meio à crise econômica de 2008, Pennycook faz bicos para, a cada dia, tentar ganhar os US$ 40 necessários para pagar um quarto em um hotel barato da capital americana. Vende jornais ou peixes pescados no rio Potomac. Quando não consegue, passa a noite sentado em uma lavanderia 24 horas ou no saguão de um prédio residencial. Ele economiza se alimentando no "sopão" de uma igreja local, onde também recebe doações de roupas.

Washington é um exemplo da crescente desigualdade e da segregação social nos Estados Unidos: abriga, ao mesmo tempo, os extremamente ricos e os muito pobres. Para o professor Spence, esta dicotomia é a nova cara do país. "E os Estados Unidos não estão preparados para esta realidade", afirmou ele.

De acordo com Spence, não há programas eficientes que oferecem moradia ou atendimento de saúde aos pobres. Em Washington, por exemplo, pode-se demorar até seis anos para conseguir uma casa oferecida no programa de residências do governo, diz o especialista.

Na empresa onde Pennycook trabalhava, outros 30 colegas foram demitidos para corte de gastos. Como compensação, os diretores pagaram três meses de salário para os ex-funcionários. "Por isso não me preocupei tanto na época. O problema foi que depois não consegui outro emprego. Procurei, mas não consegui", diz.

A história de Pennycook está cada vez mais comum de se ouvir nas ruas das grandes cidades norte-americanas. Atualmente, o país tem 14 milhões de desempregados. E o índice de pobreza cresceu pelo terceiro ano consecutivo: foi de 14,3%, em 2009, para 15,1% em 2010.

Apesar de não ter ido para a faculdade, o ex-gerente pensou que sempre teria um emprego que lhe garantisse uma moradia fixa e uma vida estável. "Mas simplesmente aconteceu. Um dia você está trabalhando, e no outro não está mais", lamenta.

Fonte: Carlas Ruas, para o Terra