Anne Cabral: mais qualidade para a educação no Brasil
Anne Cabral, diretora de movimento estudantil secundarista da UJS abre a série de entrevistas #Tenhoalgoadizer e fala dos desafios da campanha ao 39º Congresso da UBES.
Publicado 23/09/2011 15:14 | Editado 04/03/2020 16:57
1. Tem sido uma luta constante da UBES e naturalmente da militância da UJS que atua no movimento secundarista à qualidade da educação, você acha que tiveram avanços no último período?
Na década de 90 o principal gargalo das escolas era a universalização. Hoje, o grande desafio da nossa geração é a qualidade da educação básica. No último período algumas conquistas nossas foram cruciais, como o Fundeb, a retomada do Ensino Técnico, a introdução do 9º ano no ensino fundamental, ampliação do acesso a Universidade através do Prouni e do Reuni, todavia, o movimento estudantil secundarista constata que nenhuma medida houve ainda que mudasse radicalmente a qualidade da escola brasileira.
O Brasil está em processo de desenvolvimento, vamos receber a Copa de 2014 e as olimpíadas de 2016, estamos em processo de retomada da infraestrutura no Brasil, com construção de rodovias, ferrovias, estádios e a universidade vem gradativamente mudando, mas, a Educação Básica parou no tempo. Houve várias mudanças e conquistas, porém, o padrão da Escola continua o mesmo de três gerações atrás e, o centro desta mudança está na conquista da qualidade.
O nosso movimento ao congresso da UBES, "Tenho algo a Dizer", surge no centro deste debate, conquistar a qualidade na educação significa lutar para mudar radicalmente a infraestrutura das escolas, com quadras, laboratórios, bibliotecas e tecnologia, lutar pela valorização dos professores, lutar pela ampliação da gestão democrática nas escolas e lutar por um currículo que possa dar resposta aos desafios da educação do nosso tempo, como é a questão do trabalho hoje.
2. E o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego)? Qual é a opinião da UJS sobre este programa?
O Brasil passa por um momento de desenvolvimento, são muitas possibilidades de trabalho que devem surgir no próximo período, é revoltante neste quadro de oportunidades ouvir se falar em apagão de mão de obra! O Pronatec surge como resposta imediata para estas novas questões, é um importante instrumento para proporcionar à juventude o protagonismo neste processo de desenvolvimento.
Do ponto educacional o Pronatec tem acertos e limitações. Primeiro, o Pronatec é composto por várias frentes de atuação e, a primeira frente de atuação é a ampliação radical do Ensino Técnico Profissionalizante, com a criação de 201 novas unidades de Institutos Federais e o investimento no Brasil Profissionalizado – que é uma linha de crédito para a estruturação da rede de Escolas Técnicas Estaduais – , com investimento em infra estrutura, recursos pedagógicos e formação de professores.
Outra frente de atuação é a utilização de vagas gratuitas no Sistema "S" (Senai, Senac e etc) para a complementação educacional dos estudantes do ensino médio regular público, assim, o estudante que estuda pela manhã na escola pública poderá fazer um curso técnico ou profissionalizante do Sistema "S" à tarde. A terceira frente de atuação é o Fies, que poderá ser utilizado por estudantes para acessar cursos técnicos ou profissionalizantes que não são gratuitos e também por trabalhadores, através de empresas que desejem complementar a formação educacional de seus funcionários ou por pessoas que sejam beneficiados pelo seguro desemprego e queiram se reinserir no mundo do trabalho, enfim, esta é parte boa.
Naturalmente existem limitações, por exemplo, o extrato principal do Pronatec deve ser a reestruturação da modalidade de Ensino Técnico, devendo ser complementado pela oferta do ensino Profissionalizante e não o inverso, o movimento estudantil precisa estar vigilante para que as vagas geradas pelo Pronatec sejam alocadas no ensino técnico e não apenas na transitoriedade ou no custo reduzido, que é o simples Ensino Profissionalizante. Outra preocupação é que o Pronatec não substitua o modelo público adequado de Ensino Integral. Por fim, achamos que o Pronatec atende aos interesses soberanos da Nação, mas, para garantir que a sua implementação se dê com os necessários ajustes que os estudantes exigem, a UBES deve participar do Conselho Gestor do PRONATEC e este modelo deve ser repetido na gestão Estado a Estado do programa.
3. É inevitável não falar das gigantescas mobilizações estudantis que estão ocorrendo no Chile. Em que estágio da luta os estudantes brasileiros se encontram? É diferente do Chile?
É incontestável o alto grau de participação popular que a juventude vem tendo no Chile, mas, eu não compararia com o Brasil, são realidades muito díspares. No Chile, o desemprego entre jovens atingiu a marca de 17,6% o que representa cerca de 190 mil jovens entre 15 e 24 anos, na maioria dos países de acirramento extremo de mobilizações percebe-se uma recessão econômica, como é o caso da Espanha. No Brasil é diferente, a juventude se mobiliza sim, no último dia 31 de agosto cerca de 20 mil jovens ocuparam as ruas de Brasília por 10% do PIB para educação e pela redução dos juros, a juventude se mobiliza para dar sua opinião nas diversas conferências convocadas por governos democráticos, são diversas as formas de mobilização que a juventude encontra para se expressar, adequadas ao momento político que o Brasil vive hoje.
Olhe só, ainda falta muito, mas o Brasil tem crescido, tem mais oportunidades de emprego, os jovens bem ou mal estão inseridos no mundo do trabalho… é descabido convocar esta juventude para uma greve geral porque o Brasil e a educação precisa mudar! A educação precisa mudar de fato e dia-a-dia construímos as mais diversas formas de luta para isso, mas se o instrumento fosse greve geral seria uma greve de 10 gatos pingados, porque a forma de lutar corresponde ao momento econômico, social e educacional de um tempo.
Assim o Brasil se mobiliza hoje muito mais pelo largo horizonte que ainda temos para conquistar, é a mobilização na positiva, porque queremos mais, isso justifica o elevado grau de participação dos jovens nas conferências de mulheres, saúde, meio ambiente e óbvio na Conferência de Juventude em curso, justifica as diversas passeatas que ocorreram este ano, desde passeatas pelos 10% do PIB até passeatas pela legalização da maconha, justifica os mais de dois milhões de jovens que votaram no último congresso da UNE e os milhões de jovens que já se mobilizam para mudar a escola brasileira através do 39º Congresso da UBES. Se isso não é mobilização juvenil?!…
4. No mês de dezembro acontecerá mais um congresso da UBES, como você avalia a particpação da UJS nesta gestão que se encerrará?
A UBES cresceu muito nesta última gestão e se a UBES cresceu a UJS também cresceu a largos passos. Conduzimos incansavelmente todas as mobilizações convocadas, assumimos a dianteira na consolidação do movimento secundarista nos Institutos Federais, na nossa participação no 1º Encontro de Grêmios da UBES a maioria foi no Ensino Técnico, participamos do vitorioso Encontro Nacional de Estudantes de Escolas Técnicas (ENET) da UBES, só em março mobilizamos 16 passeatas no Brasil por 10% do PIB para a Educação, além da grande passeata que mobilizamos junto com as entidades sindicais em 31 de agosto, cuidamos para que a entidade cada vez mais ocupe o seu espaço de opinião dentro do movimento educacional, fomos vanguardistas ao identificar o Pronatec como um avanço para a juventude brasileira. São muitas as conquistas, mas, muito ainda está por vir desta nova geração que surge na UJS.
5. Quais são a partir de agora as tarefas da militância da UJS neste processo de congresso?
Eleger delegados?… Brincadeira, não é só isso… A militância da UJS tem uma grande responsabilidade em fazer a UBES cada vez maior, e isso, sem dúvida, está diretamente ligado a um expansivo processo de eleição de delegados. Além disso, temos a responsabilidade de construir boas etapas estaduais, que dialogue com a sociedade, sobretudo com os professores e tenha boa estrutura para pavimentarmos todas as condições de realizar uma grande etapa nacional do Congresso da UBES aqui em São Paulo. E óbvio, que estamos obstinados por ganhar cada eleição e cada etapa estadual neste Brasil. Rumo à vitória.
Fonte: UJS