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PC da Bolívia critica oportunismo da oposição em marcha indígena

Diante das polêmicas geradas a partir de manifestações indígenas contra a construção de uma rodovia na Bolívia, o Partido Comunista deste país divulgou uma nota na qual denuncia que, por trás dos protestos, há uma tentativa da oposição de "desprestigiar o governo" e criar um "estado de comoção social".

Segundo o texto, a marcha é inspirada por "aqueles que buscam pretextos para gerar uma crescente oposição, produzindo situações de tensão, divisões na base social indígena campesina, enfrentamento entre as organizações populares e (tentativas de) torpedear as eleições judiciais de 16 de outubro".

Desde o dia 15 de agosto, manifestantes protestam contra a construção do segundo trecho da estrada federal, entre Villa Tunari, no Departamento de Cochabamba, e San Ignácio de Moxos, no Departamento de Beni, próximo à fronteira com o Brasil, que passaria por dentro de uma reserva indígena.

A nota do partido afirma ainda que a plataforma de reivindicações das lideranças do movimento é inconsistente e inaceitável. "Não corresponde com a realidade objetiva e a necessidade de um verdadeiro desenvolvimento, que não precisam entrar em conflito com os direitos humanos e direitos coletivos dos povos indígenas e os cuidados necessários com o meio ambiente", completa.

Os comunistas bolivianos criticaram os líderes do protesto, que têm "rejeitado" e "ridicularizado" as propostas de diálogo feitas pelo governo. Segundo o PC, os líderes da marcha contra a construção da estrada têm o apoio da expoentes da direita, que agem junto à "extrema esquerda, trotskistas e ressentidos de diversas gamas".

"Não se pode ignorar a confusão e desinformação causadas pela maioria dos meios de comunicação, esmagadoramente dominados pela direita, que criaram em alguns setores sociais atitudes preconceituosas e agressivamente adversas ao governo", diz a nota. O partido critica ainda a ação de várias ONGs que têm incentivado e apoiado a marcha e a interferência da USAID e de funcionários da embaixada dos EUA.

Sobre as denúncias de abuso na represssão policial à marcha indígena, os comunisas concordaram com a atitude do presidente Evo Morales, que defendeu a realização de uma "rápida e convincente investigação" e punição para os culpados. Segundo o PC, a complexa conjuntura local deve ser abordada com "serenidade e autocrítica".

"Certamente nada é acidental no curso dos acontecimentos, existindo fatores internos e externos que levaram à crise atual, onde se sublinha a interferência neoliberal e imperialista. Neste sentido, não devemos perder de vista que a conspiração continuará e será preciso tomar todas as medidas necessárias para salvaguardar o processo de mudança e derrotar seus inimigos jurados", diz o texto.

O partido classifica o episódio como desfavorável para as forças populares. E avalia que é preciso "recuperar setores de trabalhadores, dissipar o desencanto das camadas médias e superar as divisões causadas pelo inimigo, especialmente em organizações sociais e camponesas pouco politizadas e, às vezes, presas a uma pregação falsamente indígenista e marcadamente antisocialista e anticomunista".

No documento, o partido afirma que a marcha tem sido utilizada pela oposição para seduzir as classes médias e propõe ao governo algumas medidas, como apoiar a decisão de Evo Morales de suspender as obras de contrução da rodovia até que se tenha construído um consenso em torno do assunto.

Outra orientação é de reunir esforços para "rearticular as organizações leais ao projeto revolucionário e estabelecer um centro de direção programática e ideológica, que assinale as perspectivas de desenvolvimento e aprofundamento do processo de mudança".