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De ator a cineasta, Leon Cakoff viveu todos os papéis do cinema

O crítico Leon Cakoff, fundador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, morreu nesta sexta (14), às 13h, no hospital São José, em São Paulo. Ele tinha 63 anos e, desde dezembro do ano passado, lutava contra um câncer – um melanoma que originou metástase, chegando ao cérebro. Foi um grande lutador pelo cinema autoral e pelo exercício da cinefilia.

Por Christiane Marcondes

Nascido Leon Chadarevian em Alepo, na Síria, Cakoff chegou ao Brasil aos oito anos. Adotou o sobrenome Cakoff como pseudônimo, após ter que enfrentar a censura em função de suas atividades políticas durante a ditadura.

Começou a carreira de crítico de cinema aos 19 anos, escrevendo para o Diário da Noite e o Diário de São Paulo, dos Diários Associados.

Em 1971, com US$ 300 e uma passagem permutada, viajou ao Festival de Cannes e começou a pensar numa maneira de levar filmes de fora do circuito para o Brasil. Seu espírito desbravador e temperamento entusiasta abriram caminho para amizades com consagrados nomes do cinema mundial, como é o caso do espanhol Luis Buñuel, com quem passeou nos intervalos dessa primeira visita a Cannes.

Em 1974, o que era sonho começa a ganhar contorno de realidade. Cakoff passa a trabalhar no departamento de cinema do Masp e começa a desenvolver a proposta do evento. Três anos depois, aproveitou a data redonda, comemoração dos 30 anos do museu, e criou a 1ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 1977.

Desde então, a mostra vem sendo editada todos os anos, tendo recebido obras de cineastas como Abbas Kiarostami, Manoel de Oliveira, Amos Gitai, Theo Angelopoulos, Alejandro Agresti, Alexander Sokurov, Béla Tarr. Chega agora, em 2011, à sua 35ª edição.

Mas não foi fácil prosseguir com a saga cinematográfica quando o festival se desvinculou do Masp, em 1984. Teve que providenciar a edição deste ano num escritório improvisado na prefeitura, por intermédio e gentileza de Gianfrancesco Guarnieri, então Secretário Municipal de Cultura.

O bom é que nesta época o festival já era referência nacional, sendo considerado "o" evento cinematográfico de todos os anos em outubro, por fazer com que muitos – desde os anos 1980 e até hoje — tirem férias de seus trabalhos para enfrentar as filas e acompanhar o máximo possível da extensa programação.

Entre muitas lutas, Cakoff enfrentou a censura (principalmente a do regime militar), a lentidão da alfândega, o despreparo do público, pouco habituado a ver cinematografias distantes (público que já foi pequenino, agora é grande), os problemas do dia a dia que qualquer festival cinematográfico enfrenta, a antipatia de muitos, a inveja de outros, suas próprias tensões, enfim, todo um desafio diário, um leão por dia a ser enfrentado e dominado. E também um desafio anual, para nosso prazer.

Tanto dificuldade não prejudicou o bom humor de Cakoff, que era também um ótimo contador de histórias. Várias delas estão em livros seus sobre a mostra ou sobre o amor pelos filmes, estão também nos pequenos jornais da mostra que circulavam até pouco tempo. Uma dessas histórias é, para dizer o mínimo, invejável: Cakoff se tornou figurante por um dia do filme Ginger e Fred, do italiano Federico Fellini, ao visitar o set de filmagem na Itália.

Filmes

Em 1999, Cakoff dirigiu, em parceria com Renata de Almeida, sua esposa, o filme Volte Sempre, Abbas, sobre a vinda do cineasta iraniano Abbas Kiarostami a São Paulo para integrar o júri da 22ª Mostra. Também com Renata, organizou Bem-vindo a São Paulo (2004), filme composto por 17 episódios sobre a cidade de São Paulo filmados por vários cineastas, como o israelense Amos Gitai, o alemão Wolfgang Petersen, o japonês Yoshida e o próprio casal organizador da Mostra.

Em 2000, em sociedade com Adhemar Oliveira, formou a distribuidora Mais Filmes.

O último projeto de Leon Cakoff foi o longa Mundo Invisível, com episódios de cineastas como Wim Wenders e Atom Egoyan, que filmou a volta de Cakoff à terra de seus pais, na Armênia.

Com agências