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Seminário na África do Sul avaliou imperialismo e alternativas

O Partido Comunista Sul-Africano e o Instituto de Estudos Sociais e Políticos, que edita a revista Correspondencia Internacional (Corint) promoveram neste mês, na África do Sul, um seminário internacional para discutir a profunda crise que o imperialismo atravessa e as opções que a esquerda tem atualmente para construir um mundo alternativo.

O Seminário Internacional sobre o Imperialismo foi constituído para ser uma plataforma de intercâmbio e engajamento, reunindo progressistas de todo o mundo para trocar ideias, perspectivas e para melhorar a qualidade da crítica ao imperialismo.

Um seminário semelhante foi realizado em São Paulo em 2009 e resultou em um livro, traduzido para o francês e o inglês – a versão em português está em produção. O objetivo da reunião foi aprofundar o conhecimento sobre a atual estratégia do imperialismo, seus pontos fortes e fracos no estágio atual, o declínio que vive e que conduz a agressões militares, assim como avaliar o estágio da consciência dos povos e das lutas contra o imperialismo.

O seminário atual lembrou que a nova ordem mundial surgiu com o colapso do socialismo na Europa Oriental e o posterior surgimento de um mundo caracterizado pelo unilateralismo, que teve Zbigniew Brzezinski, ex-assessor de Segurança Nacional dos EUA da administração Jimmy Carter, como um dos seus mais destacados teóricos.

O seminário teve a contribuição de vários destacados ativistas, intelectuais e acadêmicos de esquerda de países como Brasil, Argentina, Bélgica, França, Polônia, Itália, Tunísia, Mauritânia, Burundi, Zimbábue, Suazilândia e Etiópia, além de representações oficiais da República de Cuba e da República Democrática Árabe Saaraui.

O jornal Umsebenzi, do PC Sul-Africano, destaca que o seminário poderia ter sido realizado em qualquer lugar do mundo, mas o fato de ter sido sediado pela África do Sul tem uma importância considerável, visto que o continente africano estava sendo vítima de uma agressão imperialista, no caso da Líbia, e de uma trama das nações colonialistas no caso das eleições na Costa do Marfim.

"A África também está no núcleo das organizações que surgem reunindo as nações em desenvolvimento, nas quais os sul-africanos jogam um papel destacado", afirma a publicação.

O seminário destacou o papel dos comunistas em construir os laços entre a teoria e a prática no sentido de contra-atacar a atual ofensiva do imperialismo contra as nações soberanas, contra a legislação trabalhista, anti-comunista e de rapina.

Os debatedores abordaram temas relativos ao imperialismo no continente africano, suas perspectivas internas e no resto do mundo e as formas alternativas e de resistência.

Ian Beddowes, do Zimbábue, explicou como em um prazo de tempo muito pequeno, em um contexto interno terrível, a antiga tradição do movimento de libertação pode ressurgir no contexto de uma luta anti-imperialista e pode oferecer uma alternativa em relação às forças degeneradas anti-imperialistas e àquelas subordinadas ao imperialismo.

A tunisiana Yajoubi Tej Mbarka contou que o recente processo revolucionário que a Tunísia viveu fez renascer as esperanças em várias partes do mundo e mostrou o caminho para outros povos. Ela falou da força da unidade popular em determinadas lutas, assim como a alta capacidade do imperialismo e de seus subordinados em se adaptar para salvar os elementos essenciais do poder e ludibriar os movimentos populares.

A terrível situação que Burundi atravessa no momento foi o tema escolhido por Nzokima Benoite, que relatou o processo destrutivo ao qual o país foi submetido pelo imperialismo, que encorajou e estimulou disputas étnicas na região.

O seminário também contou com a explanação de Mohamed Hassan, da Etiópia, que falou sobre a forma como o imperialismo domina a geopolítica da costa do Oceano Índico e o Chifre da África. Segundo ele, o imperialismo trabalha não apenas com uma visão genérica teórica, mas com uma percepção muito clara da complexidade histórica, da geografia e dos fatores étnicos da região, dividindo para dominar, e corrompendo para dividir.

O representante da Mauritânia no seminário, Moustapha Bedreddine, encerrou a participação da África explicando a história do movimento popular do país em sua luta contra o colonialismo francês, o neo-colonialismo e o recente golpe de Estado, apoiado pelo imperialismo francês. Segundo ele, o golpe é uma demonstração de como o imperialismo é capaz de usar diferentes formas de agressão para manter sua dominação.

A segunda parte do debate envolveu representantes dos outros continentes. Michel Collon, da Bélgica, expôs a agenda do imperialismo citando autores como Zbigniew Brzezinski, que apontaram claramente a estratégia de dominação para seus sete alvos, que são Afeganistão, Iraque, Líbia, Somália, Síria, Líbano e Irã.

Collon pediu que todos procurassem ler a literatura anti-imperialista, para compreender melhor o mundo e assim poder modificá-lo. Ele deixou claro que embora o imperialismo esteja passando por uma fase de decadência em todo o mundo, não deixou de ser perigoso, como já vimos na história de declínio dos impérios.

O polonês Bruno Drewski analisou mais especificamente o laboratório que o imperialismo impôs na Europa Oriental e as tais "revoluções coloridas" que grassaram na região. Os métodos utilizados ali se tornaram mais sofisticados que na época dos dissidentes financiados pelos estados ocidentais. Incluem hoje movimentos que se convencionou chamar de "revoluções coloridas". Esses movimentos tiveram seu início na Iugoslávia, e por meio da exploração das frustrações populares, espalharam o caos por meio das novas tecnologias (internet, redes sociais…) e por meio de conflitos, usando a juventude e com o objetivo de derrubar governos que chamavam de "corruptos".

A terceira parte do seminário abordou as diferenças nas realidades das nações que estão sob domínio do imperialismo, das que estão sob ameaças de ataque e das que são nações imperialistas.

A americana Daniela Folet expôs a situação do imperialismo estadunidense, que vive a iminente falência do seu sistema financeiro e o declínio político e militar mas que mantém ainda sua capacidade de destruição e desestabilização por meio de operações especiais. Ela mostrou dados sobre a crise econômica (queda no setor industrial, aumento da dívida pública) assim como sua capacidade de intervenção no exterior (comando de operações especiais, a dependência nos gastos militares).

O britânico Robert Griffiths descreveu as particularidades da evolução e adaptação do imperialismo de seu país à plataforma financeira do capitalismo global. Descreveu também como se fortaleceram os laços entre o imperialismo europeu e o americano. Ele também falou do crescente sentimento anti-imperialista dentro dos movimentos operários europeus.

A francesa Rosa Moussaoui explicou a dramática mudança de governo na Costa do Marfim, que teve a participação direta do imperialismo francês, que renovou assim seu poder colonial sobre sua ex-colônia mais rica. "Esse é um novo estágio do imperialismo, chamado de Françáfrica, que atualmente, ao contrário do passado, age como um imperialismo complementar ao americano, ao invés de ser seu rival".

A intervenção de Umberto Martins, do Partido Comunista do Brasil, abordou o aprofundamento das diferenças entre os países imperialistas por causa da crise financeira e o fantástico crescimento da China. Ela pode ser lida no Portal Vermelho em sua totalidade.

O italiano Francesco Maringio ofereceu aos debatedores um panorama geral das nações que resistem ao imperialismo. Ele focou primeiro as nações asiáticas, para depois analisar os interesses comuns do bloco de países BRICS na tentativa de mudar o equilíbrio do poder, assim como sua diversidade na construção de um mundo alternativo e multipolar

No intervalo do seminário todos expressaram solidariedade à Revolução Cubana e aos comunistas da Tunísia, que estão diante de uma nova repressão após os acontecimentos que derrubaram o antigo regime no país.

O seminário foi encerrado com uma sessão sobre a Líbia, considerada um forte exemplo do que é o imperialismo e a luta anti-imperialista hoje e uma experiência marcante para ambos os lados. A sessão foi aberta com um relatório geral sobre a história do país, a estratégia da mídia que antecedeu os ataques e as lições que o imperialismo retirou das experiências anteriores no Afeganistão e no Iraque.

As conclusões tomadas pelos participantes formaram um esboço das linhas que deverão ser discutidas a partir de então. Primeiro, um livreto será publicado pelo PC Sul-Africano com o conteúdo do seminário, depois será editado um livro, incluindo outras contribuições, sob a responsabilidade da Corint, e no maior número de línguas possíveis.

O seminário terminou com seus participantes expressando a esperança na crescente capacidade de resistência dos povos e também na liderança dos países independentes no sentido de uma alternativa global.

Da redação, com informações do Umsebenzi, jornal do PC Sul-Africano