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A música e a voz de Milton Nascimento encantam o mundo

Transformou-se no mais mineiro dos músicos brasileiros e no mais brasileiro dos músicos mineiros. Aqui uma tentativa de homenagear um dos maiores cantores do mundo: Milton Nascimento completa 69 anos nesta quarta (26).

Por Marcos Aurélio Ruy*

Com um som que vai de bossa nova ao jazz, jazz-rock, música regional brasileira e latino-americana, mais as influências de Beatles, Bob Dylan, The Platters, Mercedes Sosa, Violeta Parra, Victor Jara, Pablo Milanes, Silvio Rodrigues e outros grandes, Milton faz sucesso por onde passa. Para os amigos ele é o “bituca” sempre sereno e simples.

Nasceu no Rio de Janeiro, filho da empregada doméstica Maria do Carmo, em 1942. Aos dois anos ficou órfão e foi viver com os avós em Juiz de Fora (MG), mas como o menino não se adaptava a nova vida, o casa Lilian Silva Campos (professora de música) e Josino Campos (dono de uma rádio em Três Pontas, em Minas) resolveu adotá-lo.

Logo a paixão pela música aflorou no garoto que participou de grupos com amigos e dedicou-se ao aprendizado de instrumentos musicais. Chegou até a gravar uma música “Barulho de trem” em 1962. Quando foi morar em Belo Horizont, para estudar economia, conheceu a turma que formaria o clube mais famoso do país, o Clube da Esquina, composto por Lô Borges, Márcio Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, Wagner Tiso, Fernando Brant, entre outros.
Entrava em cena um som diferente e inovador que logo agradou os ouvidos daqui e de fora, chamando a atenção para a voz e as músicas desse que se tornaria um dos maiores compositores de música popular brasileira de todos os tempos.

Em 1967, tira o segundo lugar no Festival Internacional da Canção com a linda “Travessia”, que o projetaria nacionalmente. No mesmo ano grava seu primeiro disco, com arranjos de Luiz Eça. Foi um dos compositores prediletos de Elis Regina e na voz da pimentinha suas músicas se tornaram verdadeiros hinos do nosso cancioneiro popular, como “Maria Maria”, hino das feministas e “Coração de Estudante”, hino do movimento por eleições diretas de 1984, que ajudou a enterrar a ditadura brasileira, instaurada em 1964.

Juntamente com Dom Pedro Casaldaliga e Pedro Tierra, Milton fez a “Missa dos Quilombos” em protesto contra o racismo no país, num canto pela vida, pela liberdade e pela igualdade.
Milton Nascimento recebeu uma singela homenagem do Festival Internacional de Corais de Belo Horizonte no ano passado, com mais de mais de mil pessoas interpretando a canção “A voz do coral”, de Fernando Brant e Leonardo Cunha.

Aqui, esta pequena homenagem pela passagem de seu aniversário fica restrita a poucas e mal traçadas linhas porque no ano que vem é que haverá uma grande festa em comemoração aos 70 anos. O maior presente que podemos dar a esse grande artista brasileiro é refletir sobre suas canções e deliciar-se com esse canto pela unidade latino-americana.
Abaixo alguns vídeos de algumas delas:

Travessia (com Fernando Brant, 1967)

Quando você foi embora fez-se noite em meu
viver
Forte eu sou mas não tem jeito, hoje eu tenho
que chorar

Minha casa não é minha, e nem é meu este
lugar
Estou só e não resisto, muito tenho prá falar
Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar

Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito que
viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu
viver

Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar

Canção da América (com Fernando Brant, 1980)

Amigo é coisa para se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção que na América ouvi
Mas quem cantava chorou
Ao ver o seu amigo partir

Mas quem ficou, no pensamento voou
Com seu canto que o outro lembrou
E quem voou, no pensamento ficou
Com a lembrança que o outro cantou

Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a distância digam "não"
Mesmo esquecendo a canção
O que importa é ouvir
A voz que vem do coração

Pois seja o que vier, venha o que vier
Qualquer dia, amigo, eu volto
A te encontrar
Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar.

Notícias do Brasil – Os pássaros trazem – (Fernando Brant, 1982)

http://www.youtube.com/watch?v=Gt344yychA8

Uma notícia está chegando lá do Maranhão.
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão.
Veio no vento que soprava lá no litoral
de Fortaleza, de Recife e de Natal.
A boa nova foi ouvida em Belém, Manaus,
João Pessoa, Teresina e Aracaju
e lá do norte foi descendo pro Brasil Central
Chegou em Minas, já bateu bem lá no sul!

Aqui vive um povo que merece mais respeito!
Sabe, belo é o povo como é belo todo amor.
Aqui vive um povo que é mar e que é rio,
E seu destino é um dia se juntar.
O canto mais belo será sempre mais sincero.
Sabe, tudo quanto é belo será sempre de espantar.
Aqui vive um povo que cultiva a qualidade,
ser mais sábio que quem o quer governar!

A novidade é que o Brasil não é só litoral!
É muito mais, é muito mais que qualquer zona sul.
Tem gente boa espalhada por esse Brasil,
que vai fazer desse lugar um bom país!
Uma notícia está chegando lá do interior.
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão.
Ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil,
não vai fazer desse lugar um bom país!

Coração Civil (com Fernando Brant, 1982)

Quero a utopia, quero tudo e mais
Quero a felicidade nos olhos de um pai
Quero a alegria muita gente feliz
Quero que a justiça reine em meu país
Quero a liberdade, quero o vinho e o pão
Quero ser amizade, quero amor, prazer
Quero nossa cidade sempre ensolarada
Os meninos e o povo no poder, eu quero ver
São José da Costa Rica, coração civil
Me inspire no meu sonho de amor Brasil
Se o poeta é o que sonha o que vai ser real
Bom sonhar coisas boas que o homem faz
E esperar pelos frutos no quintal
Sem polícia, nem a milícia, nem feitiço, cadê poder ?
Viva a preguiça viva a malícia que só a gente é que sabe ter
Assim dizendo a minha utopia eu vou levando a vida
Eu viver bem melhor
Doido pra ver o meu sonho teimoso, um dia se realizar

Nada será como antes (com Lô Borges, 1972)

http://www.youtube.com/watch?v=gQIAkSc896w

Eu já estou com o pé nessa estrada
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Alvoroço em meu coração
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Num domingo qualquer, qualquer hora
Ventania em qualquer direção
Sei que nada será como antes amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Sei que nada será como está
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol

O Cio da Terra (com Chico Buarque, 1976)

http://www.youtube.com/watch?v=mAS9a7H2T78

Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão

Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel,
Se lambuzar de mel

Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, propícia estação
De fecundar o chão.

*Marcos Aurélio Ruy é colaborador do Vermelho