Lula Morais saúda os 160 anos de Maranguape

Atendendo à solicitação do deputado estadual Lula Morais (PCdoB), a Assembleia Legislativa do Ceará realizou na última segunda-feira (14/11) uma sessão solene para celebrar os 160 anos de emancipação política. Leia a seguir a íntegra do discurso proferido pelo parlamentar comunista durante a solenidade:


Senhor Presidente,
Senhoras Deputadas, Senhores Deputados,
Senhoras e Senhores Convidados:

Vai longe aquele dia de festa e alegrias, há 160 anos, quando, pela Lei Provincial No.553, a povoação de Maranguape se tornou VILA e o distrito atingiu a categoria de MUNICÍPIO. A condição de CIDADE somente seria conseguida dezoito anos depois, em 1869, quando já estavam construídos a Casa da Câmara, a cadeia, o fórum e os demais equipamentos necessários ao funcionamento da administração.

As cidades nascem de um gesto de amor e prosperam no território da esperança. São entes vivos que, assim como as pessoas, têm infância, crescimento e maturidade.

A história de Maranguape começa pelas mãos semeadoras do português Joaquim Lopes de Abreu que, animado pelo espírito aventureiro e o sonho de ganhar o mundo, emigrou adolescente para o Brasil e desembarcou no Ceará na última década do século dezoito.

Como ocorria naqueles tempos pioneiros da colonização, o ponto inicial de fixação deveria ser um lugar que oferecesse condições favoráveis para a agricultura e a criação. Mas era preciso se construir uma igreja para se começar um povoado. Por isso, o destemido Joaquim ergueu uma capela de taipa no lado esquerdo do rio Pirapora, no exato local onde hoje está o bairro Outra Banda, em Maranguape.

Seria esta mais uma simples história da formação de uma cidade cearense, se ao ritual costumeiro não houvessem se agregado em Maranguape algumas qualidades e privilégios especiais, que fogem, de certo modo, da rotina do sol ardente, do solo comburido e do calor desesperador, algozes malfadados da maioria dos municípios do Ceará.

Maranguape, abraçado por duas montanhas, a serra que tem o seu nome e a serra de Aratanha, goza de um clima ameno e tem abundância natural de água, já que seu chão é cortado por numerosos córregos e límpidos ribeirinhos e recoberto por uma vegetação eternamente verde, que se derrama pelo vale fértil.

Em suas matas, malgrado a criminosa devastação de que tem sido vítima a flora nordestina, ainda podem ser encontrados exemplares imponentes de angicos, jatobás, paus d’arco e maçarandubas. Correm pelo chão de arbustos e capim mimoso tatus, pebas, tejuaçus e tejubinas e, das árvores, evola o canto dos sabiás, em torneio vibrante com os galos de campina, canários e corrupiões.

Sobre a paisagem romântica, que inspira e embevece os seus poetas, a lua clara provoca canções peregrinas e baladas de fazer sonhar, como aconteceu com Catulo da Paixão Cearense, que comovido e apaixonado, num de seus sítios, escreveu e musicou o LUAR DO SERTÃO, essa jóia magnífica do cancioneiro popular brasileiro.

Foi ele quem declarou à revista “Cigarra”, em 1936: “Foi a natureza exuberante da Serra de Maranguape minha maior fonte de inspiração. O vulto azul daquela serra, com seu dorso arqueado, fixou-se indelevelmente na minha retina. A cidade nesse tempo não possuía iluminação e as suas noites de luar eram deslumbrantes. Foi pensando nas noites enluaradas de Maranguape que criei o LUAR DO SERTÃO.”

MARANGUAPE, que no tupi-guarani significa “Guerreiro sabedor da guerra” ou, como queria o historiador João Brígido, “Vale da Batalha”, é o berço original de Capistrano de Abreu, o maior historiador brasileiro.

Foi dali, do sítio Columinjuba, que partiu o menino João Capistrano Honório de Abreu, filho do major da Guarda Nacional Jerônimo Honório e da adolescente Antônia de Abreu, para conquistar as glórias da sabedoria e o reconhecimento nacional, figurando entre as maiores capacidades críticas do país, pela pesquisa, pelo estudo minucioso e comparativo, pela observação criteriosa e racional na busca obstinada da verdade histórica.

Terra natal, também, de outros ilustres homens de letras do porte de Antônio Augusto de Vasconcelos, José Sombra, Pontes Vieira, Cândido Jucá, Rocha Lima, Braga Montenegro e Djacir Menezes, foi, desde os primórdios, um manancial de cabeças privilegiadas e honoráveis personalidades, vultos que hoje povoam a história do Ceará e do Brasil.

Nos embates cívicos e em defesa da nacionalidade, quer nos campos do Paraguai, na campanha abolicionista, no movimento republicano, na conquista do Acre ou na luta contra a ditadura militar, o braço altivo e a voz honesta dos maranguapenses sempre estiveram corajosamente a serviço das causas do povo e na defesa intransigente da liberdade e da democracia.

O progresso foi chegando aos poucos para Maranguape através das primeiras estradas, como a Estrada da Taquara, construída nos tempos coloniais. E, depois, pelo trem, pelo correio, pela luz elétrica, pelo rádio, pelo telefone. Muito antes que a maioria das comunas do interior do Ceará, já que era receptora imediata das novidades da civilização que chegavam para a Capital.

Cidade-veraneio para os fortalezenses e turistas procedentes de vários recantos do país, o clima e os balneários de Maranguape viraram lenda nacional e sobre eles poetas e seresteiros produziram versos e os médicos recomendações, pois a natureza desta bela terra é reconhecidamente benfazeja para a alma e para o corpo.

A história de Maranguape é um roteiro laborioso de conquistas.

Nasce do sonho da prata, cobiçada pelos holandeses no século 17 e jamais conseguida em níveis compensadores. E se efetiva pelo trabalho ingente que, desde os pioneiros, tem sido a marca dos habitantes do sopé da serra.

Ao ruído plangente dos engenhos de cana de açúcar e sobre os campos brancos das roças de algodão, a economia deste heróico município se fez forte e consolidada por suas lavouras, suas usinas, suas casas de comércio.

E o que é interessante destacar nessa trajetória econômica é o espírito associativo de seus operadores. Maranguape sempre acreditou e investiu no sistema cooperativo. As cooperativas são uma marca triunfante do progresso local.

Entretanto, não só de trabalho duro vive e viveu a população de Maranguape.

Um outro traço peculiar de sua gente é a capacidade artística, expressada de variados modos em todos os tempos.

Desde a criação de uma entidade que reunia atores, músicos, pintores e fotógrafos, intitulada de ARTÍSTICA MARANGUAPENSE, nos inícios do século vinte, por iniciativa do ourives Domingos Façanha.

O incentivo dessa sociedade artística, que há quase um século se mantém atuante, talvez explique o despertar de tantas vocações de filhos de Maranguape para as artes.

Do passado, por falta de oportunidade de divulgação, poucos nomes ficaram, embora tenham sido muito ativos no espaço local vários poetas, atores, compositores, comediantes e contadores de anedotas.

Mas, nos tempos contemporâneos, avultam nomes como o de Chico Anysio, o maior humorista brasileiro de todos os tempos, e Manassés de Souza, virtuoso violonista, um músico de renome internacional.

No Parlamento, fizeram história Antônio Botelho de Souza e Almir dos Santos Pinto (este, um lavrense que adotou Maranguape), presidentes da Assembléia Legislativa do Ceará.

Hoje, Maranguape é dirigida pelo jovem prefeito George Lopes Valentim, que juntos pertencemos ao PCdoB.

George Valentim, que tem sido fiel ao compromisso de dedicar cada segundo do mandato, com o objetivo de elevar a qualidade de vida dos maranguapenses.

Assim vem realizando uma gestão profícua, com realizações, não só no campo das obras de engenharia, que são muitas, mas principalmente no resgate da autoestima do povo, que vivencia uma quadra de prosperidade política e administrativa, realizando a pavimentação da estrada do futuro, que conduzirá à melhoria do povo maranguapense.

Concluindo, senhoras e senhores, quero trazer, nesta noite de celebração, o abraço amoroso deste deputado à terra de Capistrano de Abreu, que embora não tenha o sangue desse povo, fui por ele votado e dele recebi a orgulhosa delegação para representá-lo. Hoje, reafirmo o compromisso de honrar a missão e fazer jus à confiança em mim depositada.

A Assembleia Legislativa do Ceará, juntando-se ao júbilo justificado da comemoração dos 160 anos de Maranguape, saúda os seus filhos e a sua história, desejando que prossiga nessa marcha intrépida de conquistas e vitórias e que os triunfos obtidos tragam as cores e as luzes da liberdade e da justiça social.

Parabéns, Maranguape! Que forma seus filhos no amor, na paz e na luta!