Acusação perde o foco e investigação sobre a Sanasa não avança

O prefeito de Campinas, Demétrio Vilagra (PT), foi ouvido na manhã de hoje na Câmara Municipal. O prefeito atendeu convocação feita pela Comissão Processante (CP) instalada para apurar seu possível envolvimento em esquema de desvio de verbas públicas denunciado pelo Ministério Público (MP). O depoimento durou mais de três horas, mas não trouxe fatos novos que relacionem o prefeito às denúncias do MP.

demetrio na camara

O vereador Valdir Terrazan (PSDB) autor do requerimento que levou à instalação da CP iniciou sua intervenção afirmando: “Eu lamento que esteja sendo cerceado de apurar o item Ceasa". Possivelmente, o vereador se referia à decisão do juiz Mauro Iuji Fukumoto que determinou que as investigações ficassem restritas denúncias de corrupção em contratos da Sanasa (Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A.). O requerimento do vereador pediu a apuração de três condutas: participação em esquema de corrupção dos contratos da Sanasa; irregularidades nas licitações da Ceasa/Campinas na compra de carne de avestruz, arroz e feijão e no serviço de caixaria; e favorecimento de apadrinhados políticos (cabides de emprego) na Ceasa.

Em sua apresentação, o prefeito fez um breve relato de sua trajetória de vida. Lembrou sua origem humilde – filho de camponeses do Mato Grosso do Sul –, dos empregos que teve, das dificuldades para estudar, do trabalho na Petrobras, da perseguição que sofreu no período final da ditadura militar e, por fim, sua recente participação no Executivo municipal. Demétrio alegou, por diversas vezes, sua inocência.

Após as apresentações, o vereador Terrazan iniciou as perguntas. O assuntou variou dos temas denunciados pelo MP – inclusive questões não relativas à Sanasa – até questões sobre onde o prefeito mora, qual sua renda, em quantos gabinetes trabalhava (Demétrio acumulava as funções de vice-prefeito e presidente da Ceasa), o que faz um vice-prefeito, o que faz um presidente da Ceasa. A certa altura o vereador perguntou quem havia avisado o prefeito sobre uma das ações desencadeadas na cidade pelo MP e pela Polícia Civil – numa possível alusão a vazamento de informações. Demétrio negou veementemente, afirmando ter sabido das informações, através da imprensa, junto com a população de Campinas.

O prefeito já estava depondo há quase uma hora quando as perguntas começaram a se aproximar do tema investigado. Terrazan quis saber por que o prefeito não determinou o afastamento das pessoas envolvidas no possível esquema de corrupção. Demétrio afirmou que sugeriu ao ex-prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT) que afastasse as pessoas denunciadas. Hélio era o prefeito de Campinas quando as denúncias surgiram. Seu mandato foi cassado pela Câmara em 20 de agosto.

As perguntas começaram, então, a tentar estabelecer a ligação de Demétrio com as pessoas denunciadas pelo MP. O prefeito afirmou conhecer alguns empresários, mantendo apenas relações administrativas. Sobre a ex-primeira dama, Rosely Nassim, principal acusada pelo MP, Demétrio disse ter mantido uma relação protocolar.

Os vereadores fizeram perguntas sobre vários aspectos, mas não foi possível perceber o avanço das apurações no sentido de envolver o prefeito. A certa altura, o vereador Sebastião dos Santos – líder do PMDB – falou ao Vermelho-SP. “Estão desqualificando porque estão saindo do foco. Para o Demétrio está ótimo”, afirmou. Aí, reside a questão chave nesse processo. Segundo o vereador Benassi (PCdoB), a CP anterior não provou o envolvimento de Hélio no suposto esquema. Mesmo assim, ele foi cassado.

Estão previstos, para os próximos dez dias, depoimentos das testemunhas de defesa e de acusação. Embora ao final do depoimento, o vereador Terrazan tenha afirmado que ficou evidente que o então vice-prefeito sabia do possível esquema e não tomou nenhuma atitude quando assumiu, se nos demais depoimentos não surgirem fatos que liguem efetivamente o prefeito, em exercício, às denúncias do MP, os vereadores de Campinas ficarão frente à nova decisão. Manter o prefeito ou condená-lo sem provas.

A jornalista Moara Semeghini, do portal Rac publicou uma transcrição quase literal do depoimento do prefeito. O texto está disponível em: http://www.rac.com.br/noticias/caso-sanasa/106192/2011/11/18/termina-depoimento-de-demetrio-a-comissao-processante.html

De Campinas
Agildo Nogueira Junior, com foto da Assessoria de Imprensa da Câmara