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Crise alimentar persiste na Etiópia

Em Gondar, no norte da Etiópia, as igrejas têm lotado. "As pessoas estão rezando para que as chuvas parem", conta um funcionário do Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU. Depois da seca que atingiu o Chifre da África e lançou 13 milhões de pessoas em uma situação crítica, as chuvas voltaram. Mas nem por isso a crise alimentar provocada pela perda das colheitas de verão terminou: ainda é cedo demais para saber se as colheitas em andamento permitirão que a situação se restabeleça.

Etiópia - Farah Abdi Warsameh/AP

No sul da Etiópia, região mais afetada pela seca, as chuvas das últimas semanas reabasteceram os pontos de água e aliviaram os criadores, cujos animais voltaram a encontrar comida. Mas, em certos lugares, choveu tão violentamente que as colheitas, que prometiam ser até boas, foram comprometidas. A empresa indiana Karuturi, que aluga 100 mil hectares de terras no Estado etíope, no oeste do país, viu sua colheita de milho ser destruída por inundações.

"Vinte e duas equipes percorrem o país para avaliar a situação, dentro de uma pesquisa que efetuamos duas vezes por ano, a cada colheita", explica Tadesse Bekele, vice-diretor encarregado da prevenção de catástrofes e da segurança alimentar no ministério etíope da Agricultura. "Mas o que já sabemos é que os eventos climáticos têm ficado cada vez mais imprevisíveis".

Cerca de 4,5 milhões de etíopes, em uma população de 88 milhões, receberam ajuda alimentar a partir de julho, sendo 3,5 milhões através do PAM. "O país tem uma longo histórico de secas, e o governo soube responder rapidamente à situação", acredita Lynne Miller, vice-diretora da agência da ONU na Etiópia. "O principal desafio era encaminhar rapidamente o auxílio em alimentos, uma vez que não havia comida disponível na região, e que, portanto, foi preciso trazer de outros continentes".

Por muito tempo

A situação parece se estabilizar na Somália, embora novas regiões ali tenham sido declaradas recentemente em estado de fome. O número de somalis que a cada dia atravessam a fronteira etíope caiu para cerca de 300 pessoas por dia, contra as 3 mil no auge da crise, em julho. "Não conseguimos determinar claramente se elas estão deixando seu país por causa da situação política ou da crise alimentar", reconhece Giorgia Testolin, encarregada da questão dos refugiados no escritório do PAM em Adis-Abeba.

Os quatro campos de refugiados de Dolo Ado, que abrigam 137 mil somalis do lado etíope da fronteira, estão saturados. A abertura de um quinto campo de tendas, atualmente em construção, é esperada para breve. "É preciso tentar se projetar no futuro, pois podemos imaginar que essas pessoas ficarão ali por muito tempo", diz Giorgia Testolin. "Deveria haver condições para lhes oferecer atividades geradoras de renda". Os moradores mais antigos desses acampamentos são refugiados somalis que chegaram em 2009.

A situação alimentar continua crítica, embora o índice de desnutrição tenha caído desde o verão. Segundo um estudo conduzido em conjunto pelo PAM e por ONGs presentes em um dos acampamentos, a situação nutricional dos refugiados voltou a se degradar por causa de práticas alimentares e sanitárias inadequadas. Além disso, surgiram tensões com a população local, que se queixa de que os refugiados coletam lenha.

A questão dos refugiados está se tornando um grande problema na Etiópia, que no final de outubro acolhia 273 mil deles, segundo o Alto Comissariado para os Refugiados. Isso porque aos somalis se somam quase 40 mil sudaneses que atravessaram a fronteira nas últimas semanas para fugir dos combates no Estado do Nilo Azul, mais de 50 mil eritreus no norte do país, bem como alguns milhares de quenianos expulsos por tumultos étnicos.

Fonte: Le Monde
Tradução: Lana Lim