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José Inácio Werneck: I don't speak Cuban

Depois de ser acusado de assédio sexual e entrar em morte cerebral quando foi perguntado sobre a Líbia, a última façanha do candidato a candidato pelo Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos, Herman Cain, foi perguntar, em um restaurante na Flórida, “como se diz “delicious” em cubano”?

Por José Inácio Werneck*, de Bristol (EUA), para o Direto da Redação

Expliquemos. Nos Estados Unidos, os candidatos são escolhidos em primárias, que começarão em mais algumas semanas, e Herman Cain, ex-Executivo-Chefe da Godfather Pizza, vem obtendo surpreendente apoio. Há quase sempre o chamado “negro Pai Tomás” para fingir que o Partido Republicano não é racista e Herman Cain pertence a esta tradição, adotando pontos-de-vista extremamante conservadores.

Entre outras coisas, apresentou um plano econômico, batizado de 9-9-9, que aumentaria o imposto de renda para a classe média e pobre, reduzindo o dos ricos. Era a favor de um fosso separando os Estados Unidos do México, de preferência com crocodilos dentro, para impedir a entrada de imigrantes ilegais, mas quando sua companheira de campanha Michele Bachman sugeriu a alternativa de uma cerca, disse que ela deveria ser eletrificada.

Foi acusado de assédio sexual por quatro mulheres. Ao dar carona para uma delas, meteu a mão por baixo de sua saia, fazendo-a deslizar para aquela terra prometida um pouco mais ao norte, enquanto puxava a cabeça da moça em direção ao seu território varonil. Segundo um cômico na televisão, Herman Cain pretendia iniciar a jovem em sua política 69-9-9.

No meio de tudo isto veio a entrevista, que vocês já devem ter assistido no YouTube, com um jornal de Milwaukee. Ao ser perguntado se concordava com a política de Barack Obama em relação à Líbia, o cérebro de Herman Cain sofreu uma espetacular pane, dolorosamente registrada por mais de cinco minutos por impiedosa camera. Ao fim de longo silêncio, acabou admitindo que “há muita coisa girando em minha cabeça”.

Recentemente, Herman Cain disse que “do jeito que as coisas vão, a China acabará possuindo a bomba atômica”, algo que o país tem desde 1964.

Agora ele foi levado a um restaurante hispânico em Miami, onde lhe serviram croquettes, croquetas em espanhol. Ele provou, gostou e perguntou: “How do you say delicious in Cuban?”. Para tornar as coisas piores, foi indagado sobre a política dos “pés secos”. Ela refere-se ao fato de que os cubanos que conseguem por os pés em terra firme nos Estados Unidos ganham o direito de permanência. “Wet foot, dry foot?”, ficou Herman Cain a repetir, sem entender, enquanto seus assessores o levavam para longe.

Mas Herman Cain sente-se à vontade num Partido em que há outros candidatos tão absurdos quanto a já mencionada Michele Bachman e o texano Ricky Perry, também famoso por outro espetacular colapso cerebral em recente debate, além de inúmeras gaffes.

Tudo isto seria cômico, se não fosse trágico, pois estes mesmos personagens já se declararam a favor de aplicar a tortura do “waterboarding” a suspeitos islâmicos, enquanto outros um pouco mais alfabetizados, como Mitt Romney, não afirmam explicitamente que a adotarão, mas negam que o procedimento, criado pela Inquisição Espanhola, seja ilegal.

A última tirada de Mitt Romney foi garantir que, se for eleito, declarará guerra ao Irã. Romney, Cain, Bachman e Perry dizem que os Estados Unidos são um país “excepcional”. Em que sentido devemos entender a palavra?

*Jornalista e escritor com passagem em órgãos de comunicação no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Publicou "Com Esperança no Coração: Os imigrantes brasileiros nos Estados Unidos", estudo sociológico, e "Sabor de Mar", novela. É intérprete judicial do Estado de Connecticut.