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Ninguém considera a União Europeia viável com a feição atual

Com a política imposta pelo governo de Berlim à Zona do Euro e ao restante da União Européia (UE), não existe caso de ser prolongada a complementação e sobrevivência européia em sua feição atual. Esta inconcebível – há apenas alguns meses – conclusão já é lugar-comum em toda a Europa.

Por Mary Stassinákis, no Monitor Mercantil

Qualquer jornal – sério – em qualquer país europeu que o cidadão europeu abrir, trará vários textos a respeito. Sucessivas declarações sobre a questão pronunciam até políticos empoados do "primeiro time", como a chanceler alemã, Angela Merkel, seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, e o presidente da França, Nicolas Sarcozy, assim como hordas de outros políticos empoados e eurocratas idem.

Declarações não típicas, dizendo que "será envidado qualquer esforço para defendermos o euro a qualquer custo", mas declarações que referem-se a uma "União Européia diferente". Generaliza-se, portanto, o ponto de vista de que a Zona do Euro encontra-se à beira do abismo independente, naturalmente, dos problemas da Grécia. "Olhando o abismo" é, por exemplo, o título de um encarte de 16 páginas da revista britânica Economist sobre a crise da moeda comum.

"Europa contra os povos?" questiona título de artigo da mesma revista. "Dois tabus foram quebrados em Cannes. Foi a primeira vez em que os líderes da Zona do Euro reconheceram que um país integrante pode falir e abandonar o euro – mas, a partir do momento em que o incompreensível se torna viável, porque pararam na Grécia?", questiona o articulista, que prossegue: "Foi, também, a primeira vez em que os líderes invadiram – sem terem sido convidados – a política interna de outros países integrantes."

Quarto Reich

Alguns vêem isto como ataque contra democracias nacionais pela elite européia, mesmo que esta não tenha sido eleita ou autoproclamada (a exemplo do fragoroso caso do dueto franco-alemão do "mercozy" de Angel Merkel e de Nicolas Sarkozy). Muitas penas de excepcional talento escreveram em torno da vergonhosamente forçada submissão da Grécia, o Berço da Democracia, a uma segunda ocupação alemã. A do Quarto Reich.

Também o jornal britânico The Guardian – próximo ao Partido Trabalhista da Grã-Bretanha e à social-democracia européia – estampou um muito duro título em artigo de página inteira: "Uma fantasia de 50 anos terminou. Uma nova Europa deverá ser construída sobre as ruínas da velha!".

Mas não escrevem só os jornalistas ingleses assim. "Esqueçam esta União Européia" foi o impressionante título do semanário alemão Die Zeit, em um entrevista do ex-ministro de Relações Exteriores da Alemanha Joschka Fischer.

"Existem agora duas possibilidades: ou a Europa desaba ou daremos um passo rumo à unificação política – não até quando for possível – mas dentro dos próximos dois a três anos", declara Fischer, que proclama imediatamente após: "Vamos esquecer a União Européia dos 27 países-membros!" "Simplesmente, não vejo como estes 27 Estados possam realizar qualquer reforma importante. Consequentemente, devemos conformar uma prioridade. Esta vanguarda define-se pelo interesse comum da manutenção do euro".

Diretório franco-alemão

Também o jornal francês Le Monde, em seu editorial de primeira página (inteira), manifestou o mesmo ponto de vista. "A marcha rumo a uma Europa de duas velocidades" foi o título, e análogo desde o início seu conteúdo: "A garantia de salvação da Zona do Euro poderia realmente dividir a Europa permanentemente e, consequentemente, torná-la mais instável".

Crítico foi, também, o jornal francês Liberation sobre as consequências destes processos da União Européia sobre a democracia que já predominam na Europa: "Sobre os países que pediram a ajuda de seus parceiros (Grécia, Irlanda, Portugal) foi imposta uma tutela direta".

Impiedoso é o jornal francês Liberation em sua crítica sobre as últimas evoluções na Zona do Euro: "Na urgentíssima situação da crise de dívida pública, os 17 da Zona do Euro inventaram, às pressas, um "governo econômico". Mas, na realidade, este governo não passa de um diretório franco-alemão, o qual impõe cada vez mais de forma insípida seus pontos de vista aos seus parceiros em nome do princípio de "quem paga é quem decide"."

"As decisões que toma o casal Merkel-Sarkozy, as quais os chefes de Estado e de Governo dos países integrantes da Zona do Euro adotam, já atingiram o próprio coração da autodeterminação nacional. Esta intromissão nos orçamentos nacionais realiza-se fora de qualquer processo democrático", finaliza o Liberation.