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As sanções econômicas contra a Síria funcionarão?

Os ministros do Qatar & Cia anunciaram sanções econômicas contra a Síria. Três países árabes, Iraque, Líbano e Jordânia, exatamente os países com fronteiras conjuntas com a Síria, já anunciaram que não aderirão às sanções.

Por  Assad Frangieh

O Iraque nas palavras de seu Ministro do Exterior Hoshyar Zebari declarou que os laços entre seu país e seu vizinho vão além das relações econômicas. Há quase um milhão de refugiados iraquianos na Síria que os abrigou em pleno conflito civil além de acordos de segurança pública e entendimentos políticos estratégicos. Quase 80% das exportações da pequena indústria síria vão para o Iraque e isso não deve mudar.

O Líbano, que já tinha vetado a resolução de suspender a Síria da Liga Árabe possui laços políticos, sociais, culturais e uma economia entrelaçada com a Síria em todos os níveis, inclusive no sistema bancário. O Líbano não possui outra fronteira terrestre exceto a Síria. Fechar suas fronteiras com a Síria não é dar um tiro no pé. É um tiro no próprio coração.

A Jordânia já informou publicamente que o artigo 50 da ONU declara que um país deixará de aplicar sanções se for atingir sua própria economia. Toda a produção jordaniana e importante parte da produção palestina da Cisjordânia passa pelo território da Síria em direção à Turquia, Iraque, Líbano e Kuwait. E vice-versa. Os caminhoneiros jordanianos, moradores do norte da Jordânia, formam a principal força de trabalho desta região e, portanto um boicote geraria muito mais do que desemprego já que a Jordânia precisa também do corredor sírio para manter seus laços sociais e familiares com o Iraque. Além disso, o porto sírio de Lattiquie no Mediterrâneo é o principal porto de exportação do cimento jordaniano a Europa, importante componente na economia do Reino Hashimita. Lembrar também que a Síria é o principal exportador de trigo à Jordânia, Cisjordânia, Iraque, Líbano. Não há como interromper esses fluxos nem a eletricidade comprada na Síria para alimentar o norte jordaniano.

Em relação à Turquia, são 2,7 bilhões de dólares de sua economia que passam pela fronteira síria em direção aos diversos países árabes. Não é a toa que a oposição turca começou se mobilizar contra o Governo de Erdogan em sua política de intervenção na Síria. Desde o início do conflito, a Turquia evita falar em sanções econômicas. É como o Líbano, fechar suas fronteiras com a Síria é atirar em sua própria economia, ao contrário do fluxo de comércio sírio que é apenas um quinto desse valor.

Outro aspecto do boicote é relacionado à produção de petróleo e gás da Síria. Poderá afetar a principal produtora estatal em apenas 50% dos lucros já que os outros 50% foram privatizados para a Shell Holandesa e a British Petroleum (30%) e os outros 20% para as companhias indianas e chinesas. O que fazer com o duto de gás árabe que atravessa o território sírio até o mediterrâneo? Interromper seu escoamento vindo dos países árabes apenas causará a elevação de preço do gás iraniano e russo! Em relação ao boicote aéreo, é algo relativo, já que o movimento aéreo prejudicará mais as companhias aéreas do Golfo do que a aviação civil síria que possui rotas alternativas e muitas sem passar pelos espaços aéreos desses países. Para os sírios que moram nos países do Golfo, basta embarcar e desembarcar no aeroporto de Beirute, a pouco mais de 80 quilômetros da capital Damasco.

Se as sanções econômicas contra a Síria funcionarão, é bom aprender com a História. Não funcionaram no Irã, em Cuba, na Coréia do Norte e nem mesmo nas olimpíadas de Moscou. As sanções apenas farão entrar na história a turma do Qatar & Cia, como meros agentes da conspiração e da traição.

Fonte: Elmarada Brasil