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Deputado argentino se une aos brasileiros na luta pela verdade

O deputado argentino, Juan Cabandié, participou, como convidado especial, do ato público de criação da Subcomissão de Acompanhamento da Comissão Nacional da Verdade, criada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados nesta terça-feira (13). O parlamentar uniu sua voz à dos parlamentares brasileiros na defesa de que a Comissão da Verdade cumpra o seu papel de identificar e punir os responsáveis pela violação dos direitos humanos durante a ditadura militar no Brasil.

Deputado argentino se une aos brasileiros na luta pela verdade - Agência Câmara

Cabandié tinha 25 anos quando descobriu que era filho de desaparecidos políticos e que foi criado pelo sequestrador de sua mãe. Após se tornar deputado distrital, Cabandié processou seu “pai”, o militar Luís Falco, que acabou sendo condenado a 18 anos de prisão.

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Com a ajuda da entidade Avós da Praça de Maio, que intermediou um teste de DNA, ele descobriu que sua mãe biológica, Alicia Alfonsín, fora sequestrada por militares aos 17 anos, quando estava grávida. O bebê (ele) nasceu na Escola Militar da Marinha, principal centro de torturas da Argentina nos anos de chumbo. Sua mãe nunca mais foi encontrada. E ele foi entregue ao militar.

Para Cabandié, o resgate da verdade e a punição dos responsáveis só podem ser conseguidas com a união entre a sociedade e o Estado. “Tem que existir o casamento entre os dois, Estado e sociedade”, diz, ao contra que os movimentos das Mães e das Avós da Praça de Mayo foram movimentos marginais, sem apoio da mídia, que só adquiriram força no governo de Nestor Kirchner, que instituiu uma política de Estado de defesa dos direitos humanos.

Ele disse que é “bem-vinda para toda a América Latina a Comissão da Verdade no Brasil, porque é importante que tenhamos consciência de que não falamos do passado quando falamos de direitos humanos, falamos do presente e do futuro. Para construção de um estado de direito, é preciso que tenhamos uma reparação dos acontecimentos delitivos e de lesa humanidade”.

E disse ainda que “se hoje acontece um assassinato, a mídia fala a respeito do assunto durante muito tempo, e não se fala sobre 380 assassinatos no Brasil na época da ditadura”, criticando o silêncio da chamada grande mídia a respeito dos crimes cometidos pelos ditadores brasileiros.

A presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputada Manuela D’ávila (PCdoB-RS), que presidiu a audiência, falou sobre os objetivos da subcomissão, que “não é concorrer com a Comissão da Verdade, mas contribuir para que ela cumpra plenamente suas finalidades. Até porque são limitados os recursos e o tempo previsto para a apresentação das suas conclusões”.

História dos vencedores

Para a deputada, a Câmara dos Deputados não pode se furtar do seu papel – de acompanhar e fiscalizar as atividades do Poder Executivo – em um momento importante como esse. “Essa é a ideia que justifica a criação dessa comissão, cumprir o nosso papel”, afirmou, explicando ainda que a subcomissão “também desempenhará o papel de estabelecer todas as pressões políticas para que a verdade apareça e tenhamos acesso à memória do nosso país”.

“Se quem conta a história são os vencedores, nós temos que contar essa história, porque nós vencemos”, afirmou a deputada.

Eleita por aclamação coordenadora da subcomissão, a deputada Luíza Erundina (PSB-SP) queixou-se a lei de criação da Comissão da Verdade ser restritiva, mas que vai criar condições políticas para que a justiça se cumpra, de identificar os responsáveis e que sejam punidos, porque só assim a democracia no Brasil estará consolidada.

Ela saudou o deputado argentino e agradeceu o que o país dele tem feito na apuração dos casos de violação dos direitos humanos na época da ditadura que serve de referência e estímulo para a América Latina de identificar e punir os responsáveis. Erundina falou que fará o trabalho como coordenadora da subcomissão “estabelecendo ponte com familiares para acumular força política na sociedade para que a Comissão da Verdade vá às últimas consequências no seu caráter e responsabilidade”.

Mulher corajosa

Erundina também elogiou Manuel D´Ávila: “Jovem corajosa e socialista e não tem medo de exercitar prerrogativas do seu mandato”, afirmou, manifestando preocupação com a mudança na Presidência da Comissão de Direitos Humanos no próximo ano. “Temos que ter empenho para que, no próximo ano, quando mudar a Presidência da comissão, que venha alguém que tenha os mesmos compromissos e é preciso ser mulher para ter coragem, porque não é causa simpática de quem é poderoso no país”, afirmou.

O deputado Chico Alencar (Psol-RJ) também falou sobre a importância da Comissão da Verdade cumprir o papel de identificar e punir os torturadores. “Espero que essa coragem proverbial da mulher inspire a presidente Dilma para escolher nomes que realmente estejam interessados em descobrir a verdade”, disse, referindo-se aos sete integrantes que farão parte da comissão.

Jair Krischke, fundador do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) e o jornalista Luis Cláudio Cunha, presentes ao evento, foram convidados para compor a mesa. Eles também falaram sobre a necessidade da Comissão da Verdade cumprir o papel de identificar os torturadores na época da ditadura para que eles respondam na Justiça por seus atos.

De Brasília
Márcia Xavier