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Ministério investe para agricultores deixarem cultura do tabaco

Cultivado há 120 anos no País, o tabaco é um dos principais produtos da balança comercial: cerca de 96% da produção nacional de fumo vai para o exterior. No Brasil, essa cultura é executada primordialmente por agricultores familiares, que representam 95% dos produtores.  O plantio de tabaco gera doenças graves, associados ao uso intensivo de agrotóxicos e à doença da folha verde do tabaco.

Ainda até o fim deste mês, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) concluirá a contratação de 13 entidades que vão receber R$ 11 milhões para prestar Assistência Técnica e Serviços de Extensão Rural (Ater) a dez mil famílias de agricultores familiares que plantam tabaco e desejam diversificar suas culturas.

Os contratos com essas entidades são resultado de uma chamada pública do ministério, realizada em setembro, para atender a agricultores familiares fumicultores nos sete maiores estados produtores de fumo no País: Alagoas, Sergipe, Bahia e Paraíba, no Nordeste; Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, no Sul.

As ações do Programa Nacional de Diversificação em Áreas Cultivadas com Tabaco do MDA buscam promover capacitação, apoio técnico ou participação em pesquisa, além de conceder aos agricultores familiares fumicultores acesso a financiamento e à tecnologia, agregação de valor à produção local e garantia de comercialização para produzir alimentos e culturas alternativas ao tabaco, economicamente viáveis.

O programa foi criado em 2005 para atender ao objetivo de saúde pública da OMS de reduzir a oferta e o consumo de tabaco em todo o mundo. Atualmente são 65 projetos de diversificação à cultura do tabaco na agricultura familiar em andamento para criação de frango, peixe, gado leiteiro, frutas e hortaliças, dentre outras atividades.

A secretária executiva da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro (Conicq), do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Tânia Cavalcante, frisa que o Programa Nacional de Diversificação em Áreas Cultivadas com Tabaco do MDA é uma ferramenta fundamental para impedir a vulnerabilidade e a crise entre as mais de 600 mil pessoas que plantam tabaco no País, dentre eles os 200 mil agricultores familiares. Na avaliação da secretária executiva do Conicq, o programa foi criado na hora certa: “o Brasil tem de fortalecer esse programa e diversificar urgentemente a cultura de tabaco porque a redução do consumo é realidade. Os dados da própria indústria fumageira de que em 2010 houve excedente de produção comprova isso”, declara.

Cultivado há 120 anos no País, o tabaco é um dos principais produtos da balança comercial: cerca de 96% da produção nacional de fumo vai para fora do País. Ficam apenas, aproximadamente, 5% da produção em território nacional. No Brasil, essa cultura é executada primordialmente por agricultores familiares. Eles representam 95% dos produtores de tabaco e estão situados geralmente nas Regiões Sul e Nordeste. Apesar do peso que tem para a balança comercial, o plantio de tabaco gera problemas de saúde, associados ao uso intensivo de agrotóxicos e à doença da folha verde do tabaco.

Doença do tabaco verde

Estudos da OMS e também do Inca/Ministério da Saúde (MS) revelam que não são somente os fumantes que adoecem por causa do consumo do tabaco. A planta agride também aos agricultores, que podem padecer de várias doenças em razão exclusivamente do cultivo e do contato com a nicotina liberada pelas folhas da planta. O principal mal que os afeta é Doença do Tabaco Verde (DVT) (em inglês, Green Tabacco Sickness – GTS). Trata-se de um tipo de intoxicação aguda adquirida por meio do contato com a nicotina emitida pela folha.

Oficialmente, a doença da folha verde do tabaco foi identificada no Brasil apenas em 2007, em virtude de uma pesquisa do Instituto Nacional do Câncer (Inca), realizada em 2008, no município alagoano de Arapiraca, em que 107 trabalhadores estavam com a intoxicação e no município gaúcho de Candelária, no qual foram identificados 33 trabalhadores contaminados pela doença.

De acordo com pesquisas do Departamento de Estudos Socioeconômicos Rurais (Deser) publicadas na revista Tabaco – Da produção ao consumo uma cadeia da dependência, a DVT, durante a colheita, os agricultores sentem náuseas, vômitos, diarréias, desmaios, tonturas, fraqueza severa, cólicas abdominais, salivação, aumento da sudorese, dificuldades respiratórias, flutuações na pressão arterial, cefaléias, calafrios, alterações de freqüência cardíaca. “Esses índices são maiores em fumicultores consumidores de cigarros: chega a 16 vezes mais que a concentração de nicotina encontrada na urina de uma fumante comum”, informa a revista.

A cultura também afeta o meio ambiente. O Deser informa que na safra de 2008-2009, houve 170.650 estufas em funcionamento que queimaram 8,5 milhões de metros cúbicos de madeira, aproximadamente 4 milhões de toneladas, as quais emitiram 35 milhões de toneladas de gases ao ambiente pela sua combustão. Também há evidências de contaminação dos solos e da água durante o cultivo, a destruição de nichos ecológicos, a poluição tabagística ambiental e o desmatamento que a cultura do tabaco provoca.

Fonte: Rede Brasil Atual