"PCdoB não fará oposição à Paulo Garcia", afirma Isaura

Nesta segunda-feira, dia 19 de dezembro, o jornal Tribuna do Planalto publicou entrevista com a deputada estadual e presidente do PCdoB de Goiânia Isaura Lemos reafirmando que não fará oposição ao governo Paulo Garcia (PT). A deputada fala ainda sobre sua candidatura à Prefeitura de Goiânia e dos projetos políticos do PCdoB da capital. Leia a entrevista na íntegra abaixo:

De volta ao PCdoB, a deputada Isaura Lemos está entusiasmada com a possiblidade de sair candidata à prefeitura de Goiânia. Segundo a deputada, trata-se de decisão de partido, que pretende lançar o maior número possível de candidatos, especialmente nas capitais brasileiras. Mas como fica a base aliada do governo federal na capital, que tem o prefeito Paulo Garcia (PT) como o candidato natural à reeleição? Para a deputada, não será problema. Ela conta que tem conversado pessoalmente com o prefeito e sustenta que ele entende o posicionamento partidário dos comunistas. Isaura ressalta que o PCdoB não fará oposição à administração do prefeito, já que tem quadros em secretarias e fez parte da aliança que o elegeu. Na conversa com o editor Marcos Aurélio Alves Bandeira, ela analisa a gestão de Paulo Garcia, e aponta o que considera não exatamente um defeito, “mas um estilo de gestão”:  a falta de um diálogo maior com a população.
 
Tribuna – A sra. é pré-candidata à prefeitura de Goiânia. O que move esse projeto nesse processo inicial?  Um processo de pré-campanha, até a definição de uma candidatura, passa por várias etapas. No momento, como a sra. caraterizaria sua pré-candidatura?
Isaura Lemos – Essa candidatura faz parte de uma política nacional do PCdoB de lançar candidatos em todas as capitais e principais municípios do país. Portanto, foi uma decisão que o partido, em nível nacional, tomou para valorizar esse momento de democracia que nós estamos vivendo. O partido considera que com 3 anos na legalidade já é hora de aparecer mais com a sua cara própria. Isso já aconteceu em outras capitais, como Porto Alegre. Em Aracaju temos um prefeito do PCdoB. Queremos, também em Goiás, uma candidatura a prefeito na capital e nós estamos trabalhando para isso. Trabalhamos para que essa pré-candidatura consiga reunir o maior número de força possível, numa eleição que a gente conhece e sabe que polariza. Mas apresentaremos uma alternativa para a população, que não ficará apenas na disputa entre essas mesmas forças políticas de sempre de um lado e outro.

Mas há hoje um projeto efetivo para levar essa candidatura como uma das opções até o eleitorado?
Sim. Quando estava no PDT, fui candidata a prefeita duas vezes. Então, para mim não é novidade, a não ser pelo PCdoB, que é um partido com o qual me identifico, que tem uma proposta em nível nacional de fortalecer o governo Dilma e ao mesmo tempo acha que tem que ir mais além. Temos que perceber que algumas soluções, imediatamente estão, fazendo o Brasil avançar, com os vários programas sociais importantíssimos para a erradicação da miséria, que eleva o país a um novo patamar; a política de juros baixos… Mas é preciso também começar a discutir as mudanças estruturais que o país tanto precisa há muitos anos. João Goulart foi deposto devido a essas reformas. O Brasil precisa avançar nessas questões, porque embora, hoje, estejamos muito bem situados em nível internacional, temos algumas questões de discrepâncias regionais, de falta de recursos para saúde, educação, que nós não conseguimos fazer esse aporte de recursos sem mudar as estruturas. Então, é preciso que o PC do B venha com uma proposta de ir mais além.
 
Hoje, o partido apoia o prefeito Paulo Garcia, compõe a administração. Houve algum problema nessa relação ou  a pré-candidatura faz parte de um projeto de partido e o prefeito entende isso? 
É claro que com o prosseguimento dessa candidatura, pode chegar um momento de bastante oposição entre as forças políticas do PCdoB e do PT. Mas o que eu considero importante é que o PCdoB apoiou a eleição de Iris e Paulo Garcia, portanto é responsável junto à população por esse mandato. Então temos que procurar ajudá-lo o máximo possível, do ponto de vista da administração. Ajudar nas demandas que tem na sociedade para ajudar a melhorar as condições de vida do goianiense e temos também tratado isso com muita transparência. Estive duas vezes com o Paulo Garcia conversando sobre essa situação e, é claro, que ele, como um homem democrático que é, entende que todo partido quando quer se fortalecer e quer se apresentar com fisionomia própria tem que se colocar no jogo como protagonista. Então, temos essa liberdade de continuar o nosso diálogo com o prefeito e dizer a que viemos. Não viemos para fazer oposição à administração de Paulo, viemos para apresentar nossa proposta ao goianiense.
 
Em termos de aliança, o PCdoB vislumbra algum partido de imediato, que possa compor esse projeto?
Temos contatos com várias forças políticas de vários partidos. Ainda não chegamos a sentar e conversar, mas já solicitamos a vários partidos, como PTC, PSB, PMN para conversarmos sobre o nosso projeto, o que nos diferencia, o que diferencia essa pré-candidatura, o diagnóstico que fazemos dos problemas da capital e ações que propomos. Estamos, também, programando um seminário para início de março, em que vamos privilegiar os especialistas de diversas áreas para que possam trazer elementos para um futuro programa.
 
O partido se lança nessa empreitada de viabilizar uma candidatura própria se utilizando de uma plataforma que vai discutir um projeto para a cidade? 
Isso.
 
Então são duas coisas que surgem de forma concomitante?
O mais importante é que nós não sejamos apenas mais um nome, que sejamos uma proposta de ir além de tudo que está sendo feito nas diversas áreas problemáticas. Por exemplo, estamos propondo a municipalização do transporte coletivo. Então, minha pré-candidatura está levantando essa questão. Vamos mostrar que é a melhor proposta  para a melhoria do transporte. Não podemos deixar as coisas como estão. O transporte ficou 30 anos sem processo licitatório e quando foi feito, a sociedade não foi ouvida e os problemas não mudaram, a população ainda está bastante insatisfeita com a qualidade do transporte.
 
Nesse caso, a gestão é compartilhada, a sra. acha que faltou um empenho maior de algum dos agentes públicos? 
Faltou ouvir mais o povo, onde ele estava sendo obstaculizado. Temos uma reunião mensal, onde reunimos de três a quatro mil pessoas que vêm dos diversos pontos da cidade e é unânime a opinião de que o transporte não melhorou.
 
Em relação a projetos para Goiânia, além do trânsito e do transporte coletivo, que estão interligados, quais são os outros temas que devem vir à tona durante o período eleitoral?
A principal questão que a população levanta é a saúde. Consideramos que a saúde é uma questão de falta de recursos também. Então não adianta eu falar que um prefeito consegue com uma boa gestão  melhorar a qualidade do atendimento da saúde. Pode melhorar circunstancialmente um atendimento ou outro, mas por isso que está tendo na Câmara Federal, a votação da PEC 29, que é justamente para alocar recursos para a saúde e também está sendo discutida uma fonte de recursos para a saúde, todo o país tem problemas com a saúde. Hoje, posso dizer que os recursos que chegam são recursos que estão sendo administrados pelo atual secretário. Agora, temos uma situação gravíssima que é a falta de valorização dos profissionais, que ficamos sem saber como cobrar dos prestadores de serviço.
 
Em relação à administração de Paulo Garcia? Como a sra. avalia esses dois anos?
Penso que o prefeito tem sido dinâmico, determinado em cumprir os compromissos e em deixar uma certa marca na cidade, apesar do pouco tempo. Agora, é a questão de estilo, de como fazer a gestão. Penso que nós, por exemplo, podemos contribuir muito mais por estarmos ouvindo a população. Temos essa forma de administrar que possa reunir tudo o que tem de melhor das cabeças pensantes do município. Então, é preciso que a administração seja mais aberta nesse sentido. Mas não é um prefeito que fica esperando, ele está correndo atrás para resolver os problemas.
 
Quando a sra. fala que a “administração deveria ser mais aberta” é no sentido de ouvir os partidos, é sobre a Câmara, sobre a aliança, ou em relação aos anseios da população, em geral?
Ouvir a população, ouvir os parlamentares e a base que ajudou a eleger é um compromisso e tem que ter muito cuidado com isso. Ouvir as autoridades em cada área, porque nós temos especialistas em trânsito, transporte público, saúde, que ali já tem sistematizado e tem experiências já discutidas. É preciso fazer audiências públicas, eu fiz muitas na Assembleia com professores, especialistas que ofereceram muitos elementos para nós.
 
A desafetação da área próxima ao Paço Municipal tem sido muito polêmica, assim como o Parque Mutirama. Em relação ao parque, como a sra. vê o modo como tem sido tratado?
A desafetação das áreas do Paço é uma questão, mas tem muitas áreas que estão na periferia e estão sendo desafetadas por secretarias.  Fizeram um levantamento criterioso nesses bairros e não tomei conhecimento de audiências públicas sobre e o que pode ter a curto e médio prazo, ou sobre a necessidade de entregarem essas áreas de desafetação. Quanto ao Mutirama, o que acompanhei, inclusive, foi um dos únicos momentos em que estive na Câmara Municipal, preocupada com a questão, é um projeto que visa transformar o Mutirama num parque que seja realmente um atrativo turístico em Goiânia e que prevê uma obra de infraestrutura grande. O que causou todo esse problema foi a montanha-russa. De fato, existe brinquedo mais barato, mas que não participou do processo licitatório. O que aconteceu foi uma tentativa da oposição de barrar a construção do parque, que representa muito nesses dois anos de governo. E ficou demonstrado que o secretário não tinha nada a temer, inclusive se dispôs a mudar caso fosse o problema da montanha-russa e que pudesse cancelar isso.
 
Como a sra. vê o papel da oposição na Assembleia? 
A oposição tem jogado o papel da oposição. Penso que seria mais eficiente se ela procurasse valorizar mais a ação do governo federal no Estado. Vivemos uma situação tão difícil este ano, com os problemas no governo, como atraso do salário dos servidores, corte de verbas dos programas sociais, que a oposição não deu repercussão. São poucos os deputados de oposição, mas são muito aguerridos, combativos. Agora, não é do meu perfil ficar repetindo acusações, votando contra só por votar. Acho que quanto mais a oposição pontua o que realmente ela discorda e aponta aquilo que concorda, se torna mais respeitada.
 
Em relação ao acordo da Celg, a sra. acha que o governo se sai como alguém que conseguiu a solução do problema, ou a oposição tem que levar o mérito ou parte da culpa?
Penso que quando houve a primeira proposta de acordo trabalhada pelo ex-governador  Alcides, estive na Eletrobras, junto com uma comissão, e ouvimos do presidente que não havia interesse me dispor desse valor para o Estado de Goiás  e que se fosse, a Eletrobras teria o comando. Naquele momento tanto PMDB quanto PSDB se levantaram contra. Hoje, as pessoas querem esquecer disso, parece que foi só o PSDB que votou contra. Tanto Marconi quanto Iris, que estavam em campanha para governador, orientaram suas bases na Assembleia para votar contra. Para mim, esse seria o melhor acordo, pois ficaríamos com a maior parte das ações. Votaram contra isso e é claro que atrasou a solução e também o governo. Penso que essa solução encontrada agora é mérito de todos que lutaram por ela. Claro que isso vem desde o governo passado e é uma boa saída. Então não deixa de ser um alívio para todos que esse acordo seja feito e concluído e possamos virar a página.
 
Qual é a perspectiva de candidaturas do PCdoB?
A perspectiva é de 15 candidaturas a prefeito e vamos também tentar sair nas vices em algumas cidades importantes, mas estamos trabalhando ainda. Temos candidato na cidade de Goiás, Campinaçu. Temos uma lista de pré-candidatos para vereadores na capital bastante extensa. Estamos com mais de 140 nomes. Tivemos um encontro desses pré-candidatos no dia 8.

Fonte: Tribuna do Planalto (www.tribunadoplanalto.com.br)