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Alberto Sánchez: O nível ético do conflito colombiano

O quê que a classe dominante transnacionalizada não tem feito nestes últimos 60 anos para derrotar a insurgência! Não houve tática ou estratégia política e militar, (atual ou antiga, vigente ou arquivada) aconselhada pela doutrina militar dos EUA e seus aliados, que não tenha sido executada no país durante todos estes anos de conflito histórico social armado, sem conseguir o objetivo final, praticado amplamente pelos primeiros governos da Frente Nacional.

Por Alberto Sánchez em La Rebelión

O batalhão Colômbia (Ruiz Novoa, Valencia Tovar e Matallana, etc.) foi aprender a guerra psicológica na Coréia em 1950 e ela foi então executada amplamente em nossas montanhas e florestas. Já a guerra de contra-insurgência, — praticada na Malásia (1948-1957) pelo exército inglês para “conquistar os corações e mentes” através da combinação de ações cívico-militares, publicidade e controle de abastecimento, com napalm e forças especiais independentes aerotransportadas SAS, — foi amplamente praticada pelos primeiros governos da Frente Nacional e hoje é proclamada pelo presidente Juan Manuel Santos como “cenoura e porrete” e como a máxima estratégia final que dará a vitória sobre a odiada insurgência marxista.

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Na sequência, o desenvolvimento da guerra anti-subversiva no Vietnã (1946 -1973) com suas aldeias estratégicas, controle da população, censos e trabalho social (lembram dos Corpos da Paz dos anos 60 e do Instituto Linguístico de Verão?). Aos quais, posteriormente, seriam acrescentadas se toda a bagagem do colonialismo francês adquirido no norte da África (especialmente Argélia)da Segurança Nacional, assimilado e enriquecido pelas ditaduras fascistas do Cone Sul da América e copiado nos anos 70 por Turbay Ayala.
 

Como isto tudo não produziu os resultados rápidos desejados, colocou-se em marcha a estratégia de Estado que estava sendo gestada e preparada legalmente desde 1965, e se supunha que fosse proporcionar a grande derrota militar e política ao satã marxista: O para-militarismo como auxiliar do exército constitucional de meio milhão de soldados armados pelos EUA e seus aliados com a mais recente tecnologia militar e comprometido em um plano geoestratégico continental chamado Plano Colômbia / Iniciativa Regional Andina.

Seus resultados mais notáveis, hoje após 40 anos de impunidade, são esmagadores e amplamente conhecidos em todo o mundo: 200 mil fuzilados ou desaparecidos pelo terrorismo de Estado, 7,5 mil prisioneiros políticos apodrecendo nas masmorras do regime, 5 milhões de deslocados, 5 milhões de hectares expropriados e uma crise humanitária e ético-moral nunca antes vista em nossa América. Mas não veio a anunciada vitória, ou melhor: a derrota da insurgência. Ao contrário, esta passou para a clandestinidade, tornou-se mais obscura e densa, para continuar sua resistência às implicações militares do recentemente assinado TLC com os EUA que garanta um prolongamento indefinido ou infinito da guerra transnacional na Colômbia.

As mortes militares de três de seus comandantes (de acordo com estatísticas oficiais uma a cada nove meses), Reyes, Jojoy, e Cano, em que foram combinadas inteligência e localização via satélite, forças especiais de milhares de homens assessorados por estrangeiros, dezenas de helicópteros e aviões de combate, bombardeios maciços e indiscriminados dirigidos por satélite em tempo real e toda a parafernália de tecnologia ultramoderna dos EUA, para decapitar a organização guerrilheira das Farc, não passou do que mais um episódio de confronto.

As forças guerrilheiras, dando um exemplo desconhecido de persistência e coerência com suas colocações, rapidamente nomearam um “substituto”, como disse Mao Tse Tung, enterraram seus mortos, limparam suas roupas do sangue e continuaram o combate.

Mas também as lágrimas de alegria de J.M. Santos sobre o corpo do comandante Alfonso Cano, o brinde triunfante dos generais, as felicitações dos diretores da CIA, DEA e do Departamento de Estado; a lamentável morte dos três soldados e de um policial prisioneiros das Farc há anos, que ocorreram numa tentativa de resgate militar poucos dias depois, assim como a fracassada marcha do ódio convocada pelo governo e os militares contra as Farc. Tudo isto, juntamente com a discussão pública de tão atropelados acontecimentos, tem, finalmente, desmascarado algo subjacente na atormentada consciência dos colombianos: o nível ético (para não dizer moral) do chamado conflito colombiano e os custos morais, para não dizer ético, do ódio que alimenta a chamada vitória a todo custo sobre a demonizada insurgência marxista, em que está empenhado o governo da Unidade Nacional uribe-santista. Nunca ninguém poderá construir a paz com o ódio.

Observando à distância as mortes dos três comandantes do Secretariado das Farc, seu aterrorizante e desproporcional bombardeio e soldados universais da força delta, só me vem à memória uma citação muito famosa e inesquecível de Che Guevara, quando afirmava que para ser um verdadeiro revolucionário, era necessário ter 50% do marxismo e do leninismo, e 50% de colhões. Que lições de valor, consequência e entrega aos princípios deixaram estes três mortos.

Além disso, eles têm demonstrado amplamente ao mundo que o medo da morte ou da prisão como sistema de governo de uma oligarquia transnacionalizada, militarista e corrupta como a colombiana, pode sim ser vencida com organização e, acima de tudo, com a vida que segue seu curso, entregando a chave da solução política e da paz ao povo para que a levante como um emblema invencível em todas as ruas, estradas e povoados da Colômbia.

Fonte: Rebelion.org
Tradução: Agência Nova Colômbia